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Oportunidade de milhões: como a Economia Verde pode transformar o nosso país

Reduzir as desigualdades e ampliar o bem-estar da população mundial nos exige reflexões e estratégias muito claras e sustentáveis

Paisagem do Pantanal mato-grossense: num mundo em que a economia verde é o motor dos avanços e conquistas de bem-estar da população, não existem razões para que o Brasil não assuma a dianteira das iniciativas mundiais (Secom-MT/Divulgação)
Paisagem do Pantanal mato-grossense: num mundo em que a economia verde é o motor dos avanços e conquistas de bem-estar da população, não existem razões para que o Brasil não assuma a dianteira das iniciativas mundiais (Secom-MT/Divulgação)
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Regina Esteves

Publicado em 17 de outubro de 2022 às, 18h56.

Diversas questões têm relevância quando tratamos da crise climática e da necessidade de mudarmos nosso relacionamento com o meio ambiente. E esse tema tem sido base de minhas pesquisas exatamente porque, nesta semana, realizaremos um Encontro Anual de Líderes com especialistas nacionais, internacionais, líderes públicos e privados para discutir sobre as oportunidades trazidas por um novo olhar ao meio ambiente.

Uma grande parcela da população mundial, especialmente a que reside em países desenvolvidos e em desenvolvimento, desfruta de níveis de bem-estar que são conquistas humanas relevantes, embora ainda mal distribuídas mesmo entre as populações desses países.

Neste caso, avançamos muito em proporcionar longevidade, saúde, educação, acesso a bens de consumo e se pensarmos sobre tecnologia, há cada vez mais interconexão entre os cidadãos, através das redes de comunicação e transportes cada vez mais eficientes e rápidas.

No entanto, a sustentabilidade desse padrão de vida é hoje pressionada pela necessidade de limitarmos o aquecimento global em 1,5º graus. Assim, reduzir as desigualdades e ampliar o bem-estar da população mundial nos exige reflexões e estratégias muito claras e sustentáveis, tanto do ponto de vista ambiental, quanto financeiro.

No que é relativo à questão financeira, de diversos grupos de pesquisa ao redor do mundo vêm alguns dados interessantes. O Painel Intergovernamental sobre as Mudanças Climáticas, IPCC, afirmou em seu relatório de 2018 que os investimentos em energia limpa deveriam sair dos atuais 1% para cerca de 3% do PIB mundial, idealmente até 2025 e, na pior das hipóteses, sem que se ultrapasse o ano de 2030 para o alcance desta meta.

Corroborando esses cálculos e perspectivas, o autor israelense, Yuval Harari, tem publicado artigos que apontam na mesma direção, ou seja, considerando os esforços de investimento na transformação dos setores de transporte e energia para o padrão “zero carbono”, precisaremos de um total geral de US$ 2,5 trilhões de investimento em novas tecnologias limpas. Isto significa dizer que precisamos de mais US$ 1,7 trilhão em investimentos para fazer face à tarefa de mudança das matrizes de transporte e energia mundiais.

Pode parecer um tanto óbvio, mas convém afirmar que esta não é uma tarefa exclusiva do setor público e dentre os principais atores que podem agir mais diretamente para que possamos atingir a meta de limitação do aquecimento global, os setores privado e de ciência e tecnologia têm papéis cruciais.

Cabe então destacar que a mudança das matrizes energética e de transporte tende a significar oportunidades expressivas para o setor privado, ou seja, menos que um obstáculo aos negócios, as transformações necessárias pelas quais clamam cientistas do mundo todo abrem perspectivas interessantes de novos negócios que ajudarão na preservação das condições vida em nosso planeta.

Sendo assim, além dos estudos patrocinados pelo IPCC e das contribuições de outros pesquisadores, que convergem no diagnóstico, números e percepção da urgência das ações, podemos também destacar o nome de Bruce Usher, especialista em transição energética, professor da Universidade de Columbia e autor de diversos livros – que também participará do encontro, tem buscado entender os riscos e oportunidades que o setor privado tem nesta tarefa.

Partindo dos dados, evidências e recomendações do IPCC, Usher destaca três questões para que mudemos as atitudes de investimento nesta era de mudança climática.

Em primeiro lugar está o papel dos governos na precificação do carbono, seja através de impostos ou do mercado de carbono. Em sua visão, esta ação pública permitirá investimentos em soluções inovadoras, acelerando o tempo de transição para a redução das emissões.

Um segundo ponto importante, também destacado por Usher, é relativo à necessidade de padronização da mensuração das emissões de gases de efeito estufa. Por um lado, isto favorecerá a comparação dos esforços realizados por cada empresa e, com isto, a transparência dos relatórios publicados não apenas seria maior, mas principalmente, permitiria o acompanhamento mais preciso e confiável do que temos atualmente.

O terceiro ponto de sua argumentação remete ao fato de que precisamos aumentar a percepção dos investidores em torno das oportunidades trazidas pela transição tecnológica que precisamos realizar.

Na visão de Usher, esta tarefa é igualmente essencial por conta do fato que há investidores que ainda não percebem ou mesmo rejeitam a compreensão científica atual sobre a dimensão do problema climático, enquanto outros compartilham a visão de que já é muito tarde, que não haveria muito a fazer e, desta forma, preferem investir no presente.

Ou seja, em um mundo em que a economia verde é o motor dos avanços e conquistas de bem-estar da população, não existem razões para que o Brasil não assuma a dianteira das iniciativas mundiais. E é por isso que precisamos que essa discussão seja ampla, envolva os setores e gere transformações.