O comprometimento das empresas com a geração de valor social
O investimento social corporativo ganhou ainda mais impulso em meio à pandemia, ampliando a atuação das empresas na transformação da sociedade
Publicado em 12 de fevereiro de 2022 às, 09h17.
Última atualização em 14 de fevereiro de 2022 às, 23h53.
Ninguém tem dúvidas de que a pandemia da Covid-19 promoveu inúmeras mudanças em diversos aspectos das nossas vidas: saúde, economia, lazer, cultura, educação, tecnologia e sociabilidade, para falar de apenas alguns, que foram impactados por este evento que se alonga pelos últimos dois anos.
Um setor que também foi alcançado por este movimento global, em sentido positivo, é importante anotar, foi o investimento social corporativo (ISC), que compreende os esforços das empresas no Brasil e no exterior no sentido de apoiar iniciativas que podem gerar impacto social positivo, trazendo à realidade o S, do conceito de ESG.
Essa onda foi possível, inicialmente, por conta da resposta rápida e resolutiva aos desafios enfrentados pela pandemia da Covid-19. Porém, após isso, as empresas não deixaram de observar a longo prazo, o que possibilitou a divisão do investimento social corporativo em pautas emergenciais: como apoio à saúde, educação, bem como a proteção alimentar; e projetos de ações perenes, como o desenvolvimento econômico e comunitário. Isso tudo sendo direcionado, inclusive, ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS), 8: promoção do crescimento econômico sustentado, inclusivo e sustentável, emprego pleno e produtivo, e trabalho decente para todos.
Ou seja, o investimento social corporativo ganhou ainda mais impulso em meio à pandemia, ampliando os recursos aportados em projetos que alargam a atuação das empresas na transformação da sociedade, tanto em pautas urgentes, como apoio às ações de proteção em saúde e combate à insegurança alimentar, quanto na promoção do desenvolvimento, com recursos dirigidos a ações que se guiam pelos ODS, das Nações Unidas.
Este quadro está muito bem descrito em publicações recentes, que apontam o cenário internacional do ISC e, comparativamente, revelam que também no Brasil, temos um avanço interessante na dimensão que liga o empresário e as grandes empresas ao processo de redução das desigualdades e promoção de oportunidades para nossa população.
Mas traduzindo essas afirmações em dados, o CECP (Chief Executives for Corporate Purpose), organização que orienta empresas no seu propósito de construir seus valores de sustentabilidade e impacto social, apontou muito recentemente em sua publicação Giving in Numbers, de 2021, um aumento da mediana da participação dos investimentos sociais no lucro bruto entre as empresas norte-americanas no ano de 2020, como parte dos esforços de enfrentamento à COVID-19. O percentual do ISC das empresas subiu de uma mediana de 0,91% do lucro bruto para 1,29%.
No Brasil, as empresas e os institutos e fundações que compõem o BISC da Comunitas (os dados compilados tiveram a participação de 324 empresas e 17 institutos), também tiveram o seu montante de recursos ao ISC praticamente dobrado, saltando de R$ 2,6 bilhões em 2019 para R$ 5 bilhões em 2020, em valores corrigidos pela inflação.
Isto significou que a proporção dos investimentos sociais sobre o lucro bruto das empresas brasileiras, que era de 0,53%, em 2019, saltou para 0,91%, ou seja, um valor 71,7% maior em 2020.
Ainda sobre os números, no Brasil, identificou-se que em 2020 houve uma mudança significativa de beneficiários do investimento corporativo, incluindo grupos como pequenos empreendedores (62%), mulheres negras (46%), trabalhadores cooperativados (46%) e informais (31%), além de pessoas sem teto/em situação de rua (23%).
Outro avanço importante do investimento social corporativo no Brasil, na perspectiva da contribuição das empresas no processo de transformação social do país, está refletido em uma outra publicação internacional do CECP, o Global Impact at Scale, relatório da organização que analisa o investimento social corporativo de empresas do Brasil de outros 17 países.
Na edição de 2021, a publicação destaca vários estudos de caso nos quais empresas estabeleceram parcerias com organizações públicas e privadas, em especial como forma de enfrentamento à COVID-19.
Merecem destaque dois estudos de caso mencionados no relatório global: Primeiro, a construção do Hospital Municipal de M’Boi Mirim, como resposta à COVID-19, em ação conduzida pela Gerdau S.A. em conjunto com outras empresas e organizações (Ambev, Hospital Israelita Albert Einstein, Brasil ao Cubo) e a Prefeitura de São Paulo.
Além deste projeto, ganhou destaque o trabalho da Votorantim S.A., com as iniciativas do Municípios Contra o Coronavírus, em parceria entre o Instituto Votorantim e o BNDES, que forneceu mentoria, suporte técnico e expertise de saúde para gestores municipais, e o Índice de Vulnerabilidade Municipal (IVM), lançado em maio de 2020, que avalia o grau de vulnerabilidade a que cada município está exposto aos impactos da COVID-19.
Deste breve panorama nacional e internacional, podemos tirar lições e identificar desafios. No que se refere às lições, claramente podemos dizer que as empresas, diretamente ou através de seus institutos e fundações, estão cada vez mais comprometidas com a transformação de nossa realidade, investindo e protagonizando ações que se alinham não apenas aos ESG, mas principalmente, aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável.
Os desafios centrais, em nosso entender, são a manutenção e ampliação do volume de investimentos que a pandemia proporcionou e o cultivo de uma perspectiva de longo prazo na busca de resultados de impacto social.
Para além das decisões do dia a dia dos negócios, que focam na eficiência, lucratividade e valor de cada empresa, se faz necessária uma visão estratégica, que pode ser elaborada no nível dos conselhos administrativos, entendendo que os resultados de transformação social vêm com a estabilidade, persistência e foco do investimento e ações.
Apesar das dificuldades recentes, temos o que comemorar, são boas notícias.