Mudanças climáticas desconhecem fronteiras e demandam ação conjunta
Mais de 3,4 bilhões de pessoas estão em alta vulnerabilidade climática. É preciso resposta rápida e coordenada de governos, empresas e sociedade civil
CEO da Comunitas e colunista
Publicado em 4 de novembro de 2024 às 19h57.
Última atualização em 4 de novembro de 2024 às 19h58.
Por Regina Esteves, Diretora-Presidente da Comunitas e Thomas J Trebat, Diretor do Columbia Global Center | Rio e Climate Hub | Rio
Estamos vivendo um momento de grande urgência climática. Não se trata de alarmismo, mas de uma realidade que afeta milhões de pessoas ao redor do mundo. As ondas de calor, inundações e incêndios florestais estão se tornando cada vez mais frequentes e intensos, impactando especialmente as comunidades mais vulneráveis.
Atualmente, mais de 3,4 bilhões de pessoas vivem em condições de alta vulnerabilidade climática. Esse número impressionante reforça a necessidade de uma resposta rápida e coordenada de todos nós — governos, empresas e sociedade civil. É apenas através de parcerias sólidas e colaborativas que seremos capazes de enfrentar os desafios que as mudanças climáticas nos impõem.
Em nossa atuação temos refletido bastante sobre esse cenário. Trabalhamos, juntos, na criação do Guia para o Enfrentamento às Emergências Climáticas, que reúne estratégias de colaboração entre o setor público e privado para ampliar a capacidade de resposta a desastres e orientar a adaptação às novas condições climáticas.
Sabemos que as respostas rápidas são essenciais, mas também que o planejamento e a preparação são os pilares que sustentam uma reação eficaz. É importante reforçar que as soluções precisam, acima de tudo, ser baseadas em dados concretos capazes de orientar os gestores nas aplicações de estratégias e políticas públicas.
Incêndios e inundações
Ao longo dos anos, temos visto exemplos poderosos da gravidade desse problema. Os incêndios florestais devastadores no Brasil e as inundações que assolaram o Rio Grande do Sul são apenas alguns exemplos que ilustram a magnitude das mudanças climáticas.
O recente relatório do IPCC, de 2023, reforça essa tendência ao destacar o aumento assustador das temperaturas globais e a alta concentração de gases de efeito estufa na atmosfera. Os dados indicam que o cenário climático seguirá se agravando, com previsões de que extremos climáticos se tornem ainda mais comuns, exigindo coordenações cada vez mais robustas de esforços intersetoriais.
Mas há um ponto que precisa ser ressaltado: há esperança. Ao categorizar os desastres climáticos em diferentes níveis de intensidade, conseguimos oferecer uma melhor compreensão dos desafios e ajudar gestores públicos e privados a agirem de forma mais eficiente. Essas categorias permitem uma alocação mais estratégica de recursos e garantem uma resposta mais ágil às crises.
Nossa experiência mostra que o setor privado pode — e deve — ser um parceiro estratégico nesse processo. Embora existam barreiras, como a burocracia e os riscos políticos, alianças bem estruturadas geram resultados concretos. Muitas vezes, são as empresas que trazem expertise técnica e soluções tecnológicas que aceleram a resposta a emergências, especialmente em cidades menores e com menos recursos.
A sociedade civil, apesar de não possuir poder decisório nos processos políticos, também se apresenta como um ator importante no enfrentamento à mudança do clima e na construção de um mundo mais justo e resiliente.
Projetos como o Jovens Negociadores pelo Clima, que é co-gerido pelo Climate Hub Rio e que forma jovens de periferia para representarem as perspectivas da juventude brasileira na agenda de clima, são fundamentais para ampliar a diversidade de vozes e garantir que as políticas climáticas sejam mais ambiciosas e equitativas.
Bons exemplos
O caminho para a adaptação climática é longo, mas temos bons exemplos a seguir. O Centro de Operações do Rio de Janeiro , que integra dados e ações de resposta a desastres, e o Plano Rio Grande, no Rio Grande do Sul , são cases que mostram o poder das parcerias intersetoriais.
Esses projetos, quando desenhados com governança clara e transparência, criam soluções que vão além do momento de crise — elas criam resiliência. Esses exemplos são essenciais para mostrar que a governança bem estruturada, aliada à cooperação entre setores, pode ser replicada em outras regiões do país, promovendo uma resposta mais robusta às emergências climáticas.
A verdade é que ainda temos muito a fazer. A lacuna financeira para adaptação climática é grande, e a demanda por recursos está muito além do que atualmente é investido. Precisamos ter certeza das prioridades para investimento público, mobilizar mais capital nacional e estrangeiro e envolver mais atores nessa jornada.
O Brasil sai na dianteira em diversas frentes mas tem potencial para muito mais. A presidência do G-20, dos BRICS e da COP-30 coloca o país em posição de vantagem para consolidar sua posição de líder indispensável da economia verde no cenário internacional.
Essa atuação de player essencial na nova revolução industrial ficou bastante clara nas últimas semanas, quando o Brasil atraiu atenção do mundo inteiro na Climate Week, que ocorreu em Nova Iorque, nos Estados Unidos.
Iniciativas como concessões florestais, uso intensivo de bioenergia nos transportes, combustível alternativo para aviação (SAF), e potencial hub de data centers olhando para o futuro da inteligência artificial, despontaram o Brasil como um país de soluções climáticas para enfrentarmos a crise climática.
Olhando para o futuro, sabemos que a colaboração entre setores, o engajamento do setor privado e a responsabilidade social corporativa são fundamentais. Precisamos continuar trabalhando juntos para construir um futuro resiliente e inclusivo, que coloque a sociedade e o meio ambiente no centro das decisões.
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Por Regina Esteves, Diretora-Presidente da Comunitas e Thomas J Trebat, Diretor do Columbia Global Center | Rio e Climate Hub | Rio
Estamos vivendo um momento de grande urgência climática. Não se trata de alarmismo, mas de uma realidade que afeta milhões de pessoas ao redor do mundo. As ondas de calor, inundações e incêndios florestais estão se tornando cada vez mais frequentes e intensos, impactando especialmente as comunidades mais vulneráveis.
Atualmente, mais de 3,4 bilhões de pessoas vivem em condições de alta vulnerabilidade climática. Esse número impressionante reforça a necessidade de uma resposta rápida e coordenada de todos nós — governos, empresas e sociedade civil. É apenas através de parcerias sólidas e colaborativas que seremos capazes de enfrentar os desafios que as mudanças climáticas nos impõem.
Em nossa atuação temos refletido bastante sobre esse cenário. Trabalhamos, juntos, na criação do Guia para o Enfrentamento às Emergências Climáticas, que reúne estratégias de colaboração entre o setor público e privado para ampliar a capacidade de resposta a desastres e orientar a adaptação às novas condições climáticas.
Sabemos que as respostas rápidas são essenciais, mas também que o planejamento e a preparação são os pilares que sustentam uma reação eficaz. É importante reforçar que as soluções precisam, acima de tudo, ser baseadas em dados concretos capazes de orientar os gestores nas aplicações de estratégias e políticas públicas.
Incêndios e inundações
Ao longo dos anos, temos visto exemplos poderosos da gravidade desse problema. Os incêndios florestais devastadores no Brasil e as inundações que assolaram o Rio Grande do Sul são apenas alguns exemplos que ilustram a magnitude das mudanças climáticas.
O recente relatório do IPCC, de 2023, reforça essa tendência ao destacar o aumento assustador das temperaturas globais e a alta concentração de gases de efeito estufa na atmosfera. Os dados indicam que o cenário climático seguirá se agravando, com previsões de que extremos climáticos se tornem ainda mais comuns, exigindo coordenações cada vez mais robustas de esforços intersetoriais.
Mas há um ponto que precisa ser ressaltado: há esperança. Ao categorizar os desastres climáticos em diferentes níveis de intensidade, conseguimos oferecer uma melhor compreensão dos desafios e ajudar gestores públicos e privados a agirem de forma mais eficiente. Essas categorias permitem uma alocação mais estratégica de recursos e garantem uma resposta mais ágil às crises.
Nossa experiência mostra que o setor privado pode — e deve — ser um parceiro estratégico nesse processo. Embora existam barreiras, como a burocracia e os riscos políticos, alianças bem estruturadas geram resultados concretos. Muitas vezes, são as empresas que trazem expertise técnica e soluções tecnológicas que aceleram a resposta a emergências, especialmente em cidades menores e com menos recursos.
A sociedade civil, apesar de não possuir poder decisório nos processos políticos, também se apresenta como um ator importante no enfrentamento à mudança do clima e na construção de um mundo mais justo e resiliente.
Projetos como o Jovens Negociadores pelo Clima, que é co-gerido pelo Climate Hub Rio e que forma jovens de periferia para representarem as perspectivas da juventude brasileira na agenda de clima, são fundamentais para ampliar a diversidade de vozes e garantir que as políticas climáticas sejam mais ambiciosas e equitativas.
Bons exemplos
O caminho para a adaptação climática é longo, mas temos bons exemplos a seguir. O Centro de Operações do Rio de Janeiro , que integra dados e ações de resposta a desastres, e o Plano Rio Grande, no Rio Grande do Sul , são cases que mostram o poder das parcerias intersetoriais.
Esses projetos, quando desenhados com governança clara e transparência, criam soluções que vão além do momento de crise — elas criam resiliência. Esses exemplos são essenciais para mostrar que a governança bem estruturada, aliada à cooperação entre setores, pode ser replicada em outras regiões do país, promovendo uma resposta mais robusta às emergências climáticas.
A verdade é que ainda temos muito a fazer. A lacuna financeira para adaptação climática é grande, e a demanda por recursos está muito além do que atualmente é investido. Precisamos ter certeza das prioridades para investimento público, mobilizar mais capital nacional e estrangeiro e envolver mais atores nessa jornada.
O Brasil sai na dianteira em diversas frentes mas tem potencial para muito mais. A presidência do G-20, dos BRICS e da COP-30 coloca o país em posição de vantagem para consolidar sua posição de líder indispensável da economia verde no cenário internacional.
Essa atuação de player essencial na nova revolução industrial ficou bastante clara nas últimas semanas, quando o Brasil atraiu atenção do mundo inteiro na Climate Week, que ocorreu em Nova Iorque, nos Estados Unidos.
Iniciativas como concessões florestais, uso intensivo de bioenergia nos transportes, combustível alternativo para aviação (SAF), e potencial hub de data centers olhando para o futuro da inteligência artificial, despontaram o Brasil como um país de soluções climáticas para enfrentarmos a crise climática.
Olhando para o futuro, sabemos que a colaboração entre setores, o engajamento do setor privado e a responsabilidade social corporativa são fundamentais. Precisamos continuar trabalhando juntos para construir um futuro resiliente e inclusivo, que coloque a sociedade e o meio ambiente no centro das decisões.