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América Latina pode ser maior ecossistema de marcas nativas digitais

Para se ter sucesso aqui, será preciso encontrar os melhores negócios e dar uma escala massiva, ao invés de agregar 300 negócios pequenos, como nos EUA

Há alguns anos estamos presenciando o surgimento de diversas marcas nativas digitais (AlexSecret/Getty Images)
Há alguns anos estamos presenciando o surgimento de diversas marcas nativas digitais (AlexSecret/Getty Images)
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Rapha Avellar

Publicado em 16 de agosto de 2021 às, 12h02.

O mercado de DNVBs está em constante ascensão e só se fala nisso. Há alguns anos estamos presenciando o surgimento de diversas marcas nativas digitais e, o grande diferencial delas é a obsessão por oferecer a melhor experiência possível ao cliente. Para isso, elas utilizam softwares selecionados e tiram o máximo proveito de algoritmos personalizados, que são capazes de estudar localização, hábitos, motivação do comprador e necessidades diárias, além de encurtar a cadeia do varejo, o que permite que haja um modelo de negócio mais escalável e sustentável. É por isso que essas quatro “letrinhas” saltam aos olhos dos consumidores e, claro, do mercado.

Ainda assim, mesmo para essas empresas tão tecnológicas e inovadoras, ainda existem diversos gargalos de crescimento, que vão desde a construção amadora da estratégia de negócios e marca, até desafios de financiamento, performance e tecnologia. Por isso, existem modelos de operações que chamamos de “agregadores” e que têm sido essenciais para que organizações encontrem quais as limitações que as impedem de escalarem mais rápido. As “agregadoras” entram no processo para estimular o desenvolvimento das DNVBs.

Sendo assim, trabalhar com algumas alavancas de valor, seja por meio de investimento, tecnologia ou estratégia, gera uma rápida resposta que destrava e eleva a potência de um negócio de alto crescimento, encurtando caminhos. Entretanto, na minha visão, existe uma grande questão: o modelo agregador puro, como Thrasio propõe,  tem algumas limitações para a realidade da América Latina.

O mercado dos EUA cresce naturalmente muito mais rápido e quando vamos tropicalizar isso, o e-commerce daqui é dominado e concentrado em menos marcas e com operações mais complexas. Em contrapartida, os empreendedores e empreendedoras dessas marcas são incríveis e criativos. Assim, o que acredito é que o modelo que foi feito lá fora - que é basicamente agregar esses pequenos comércios eletrônicos e familiares - funciona porque mesmo uma empresa menor de almofada nos EUA é capaz de vender 20 milhões de dólares, com produtos de primeira linha.

Enquanto que aqui, quando falamos de agregar, estamos pendendo para um outro lado, que são marcas com produtos de 2ª e 3ª linha, que não tem nenhuma conexão com seu consumidor, e que são basicamente importadores de produtos que revendem aqui no Brasil. Por isso, penso que consolidar esse tipo de vendedor simplesmente não faz sentido!

Para o Brasil e a América Latina, o modelo vencedor vai ser diferente. Para se ter sucesso aqui, será preciso encontrar os melhores negócios e dar uma escala massiva, ao invés de agregar 300 negócios pequenos, que é o sistema que acabou prevalecendo nos EUA. E o brasileiro tem um enorme potencial, que vem dos dados do e-commerce e de onde a atenção das pessoas está. Para se ter uma ideia, a penetração do e-commerce no total do varejo brasileiro ainda está abaixo de 10%, mas acredito que, com a migração acelerada do consumidor para o meio digital, o índice chegue a algo entre 25% e 30% nos próximos anos.

Além disso, em países como México e Brasil, onde a atenção das pessoas está quase que 80% dentro da internet e dos smartphones, as marcas tiram pouco proveito disso e investem pouco mais de 40% no online. E é aí que consigo identificar uma imensa oportunidade.

Outro ponto é que existem os dados de como as pessoas formam opinião em relação a sua decisão de compra. O Brasil e México estão entre os top 4 dos países em que o poder de decisão e escolha de um produto ou serviço é baseado no endosso de celebridades e criadores de conteúdo. Aqui, por exemplo, isso acontece três vezes mais que nos EUA, e lá tivemos cases emblemáticos, ligados a grandes nomes do mercado, e que mostram o potencial da junção entre marcas, creators e celebridades. Como a da cantora Rihanna, cuja marca hoje vale mais de 1 bilhão de dólares e Kylie Jenner com a linha de cosméticos vendida para a Coty Inc. por US$ 600 milhões.

A entrada desses novos players só traz vantagens para o mercado. A competição desses entrantes em categorias só beneficia o consumidor e é incrível. Isso porque, quando você olha o mercado, o principal foco tem que ser o consumidor, tudo o que for melhor para ele vai vencer. Ou seja, uma empresa que entregar mais rápido, adaptar os seus produtos com mais velocidade, oferecer ao consumidor uma proposta de valor funcional ou emocional mais adequada, tem 100% de chance de sucesso.

Em qualquer ecossistema, onde você tem incumbentes dominantes que são desafiados por novos entrantes, é um ecossistema onde o mercado ganha. A verdade é que, quando você olha para o cenário latino americano de marcas nativas digitais, você vê potencial não adereçado de e-commerce, incoerência em como as marcas investem a mídia e o imenso potencial de formação de opinião por meio de celebridades e influencers. E entende que, hoje, no Brasil e América Latina, estamos diante de uma oportunidade única.

Sobre o Rapha Avellar

Rapha Avellar é um empreendedor em série e fundador da Adventures, primeira Brandtech da América Latina e uma das mais promissoras startups do país, que está criando o maior ecossistema de marcas nativas digitais das Américas