E por que mesmo grandes empresas querem agora ser startups?
"Não é moda. Trata-se de uma evolução estrutural do capitalismo, face a um mundo contemporâneo que era difícil imaginar que seria como é hoje"
Publicado em 26 de julho de 2021 às, 15h21.
Última atualização em 26 de julho de 2021 às, 21h51.
Por Pyr Marcondes
Os leitores aqui de Exame tiveram a oportunidade de acompanhar, só nos poucos últimos dias, reportagens dando conta de que empresas de grande porte - entre elas a Linx, a Oi e até a Bolsa B3 juntamente com a Totvs - estão criando estruturas para operar mudanças e inovações no “modelo” startups.
Temos todos acompanhado também o movimento desses mesmos grandes grupos comprando aceleradamente startups de, digamos, uns 3 anos para cá. Além, e em paralelo, de criarem também fundos de CVC, ou Corporate Venture Capital, que são estruturas financeiras e de suporte para funding de startups dentro de seus próprios muros.
Não é uma moda. Trata-se de uma evolução estrutural do capitalismo, face a um mundo contemporâneo que era difícil imaginar que seria como é hoje, a alguns anos atrás.
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Esse novo mundo contemporâneo dos negócios não suporta e pune com o solene esmagamento mercadológico, o seguinte: lentidão, anacronismo, falta de inovação e por aí vai.
E premia com reconhecimento, investimentos volumosos, manchetes na mídia (como as que citei acima), além da potencialização de sucesso empresarial, as empresas e modelos de negócio que se adaptem com velocidade e promovam a inovação produtiva e rentável. E quem faz isso com domínio e maestria são as startups.
Assim, ser startup é um mecanismo do capitalismo para sua sobrevivência e superação de sua própria obsolescência estrutural.
Os moldes do capitalismo que conhecemos foram criados há séculos, quando não havia sequer internet. A ciência e os avanços tecnológicos das últimas duas décadas foram arrasadores e colocaram na mesa variáveis de eficácia e modelos de rentabilização inéditos, modelos que as grandes estruturas empresariais de sempre não conseguem mais acompanhar. As startups sim.
Não só elas conseguem acompanhar, como são elas, em parte significativa das vezes, que ditam o ritmo e as bases dessa agora recorrente transformação do mundo dos negócios, acelerado por um ritmo que tende cada vez mais ao exponencial.
Essa é a razão das reportagens e das mudanças das empresas em busca de startups.
Há, no entanto, nesse caminho, alguns obstáculos vitais. Grandes corporações não são startups e não adianta dar uma maquiada na aparência para se parecer com elas. Precisam, de fato, ser como elas. E isso está bem longe de ser algo trivial.
A maior barreira não é grana. As grandes estruturas têm grana. Houve um momento, ali atrás, que havia resistência corporativa nas empresas em admitir essa (as startups) como alternativa viável, já que empresinhas de fundo de garagem não teriam, acreditava-se, nada a acrescentar a empresas altamente estruturadas e, muitas delas, historicamente bem sucedidas. Mas essa percepção obtusa está caindo (ótimo para as empresas que assim seja) e deixou de ser a grande barreira.
A grande barreira agora é a maior de todas: a cultura corporativa.
Quem trabalha ou trabalhou em corporações sabe do que estou falando. A cultura corporativa moderna, que nasce com as primeiras máquinas de Henry Ford, busca incessantemente as estruturas sólidas, as práticas recorrentes e replicáveis, os modelos parametrizados por grids e funções padronizadas, além de se esconderem como o Diabo da cruz do risco.
Pois tudo isso é anti-startups. E o que é pior: anti-sucesso num mundo em evolução alucinada como o nosso hoje.
Trazer startups para dentro de casa, investir nelas ou até mesmo criar puxadinhos tipo “labs” internos nas corporações não vai adiantar nada. O resultado será pífio ou nenhum. Será o esmagamento das pobres startups atraídas pelo canto de sereia de estarem mais próximas das grandes companhias e se valerem das vantagens que isso possa vir a representar para elas.
Mudar a cultura corporativa vai demorar ainda alguns anos. Anos preciosos para essas estruturas habitualmente lentas e, como disse, culturalmente avessas à inovação e ao risco como leitmotiv de suas operações.
Acredito que essa mudança ocorrerá, sim ou sim. Temo, no entanto, que muitas companhias não façam a lição de casa como precisam fazer, no tempo em que precisam fazer.
Torço muito para estar errado. Só que não.
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