Embate de Haddad com PT evidencia apetite por gastos em ano eleitoral
Ministro da Fazenda vence guerra pelo déficit zero, mas dependerá cada vez mais do aval de Lula para lidar com pressão política
Vice-presidente da Ágora Assuntos Públicos
Publicado em 1 de setembro de 2023 às 11h07.
- Vetos ao arcabouço mostram resistência do Planalto a corte de despesas no ano em que aliados disputarão prefeituras estratégicas
- Cúpula petista resiste a contingenciamentos e medidas restritivas no orçamento em prol da agenda populista visando 2026
Sob permanente questionamento de setores desenvolvimentistas do PT, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, assume, a partir da aprovação definitiva do marco fiscal, sua tarefa mais complexa de validação no núcleo político do Palácio do Planalto: equilibrar as ambiciosas balizas de resultado primário com o apetite por gastos do partido e aliados.
O que hoje mais distancia Haddad do petista "raiz" é a concepção de que o investimento público não pode ser comprimido, mesmo com as contas no vermelho, sob o pretexto de comprometer o crescimento econômico.
O chefe da equipe econômica de Lula já sobreviveu a quatro testes mais agudos de resistência diante da ala mais desenvolvimentista do PT: a pressão pela revisão da meta de inflação, em fevereiro, o enfrentamento à prorrogação do subsídio dos combustíveis, no final de março, o vaivém do texto final do arcabouço fiscal, em meados de maio, e agora com o ataque especulativo à mudança da meta de déficit zero nas contas públicas em 2024.
Em todas as ocasiões, Haddad foi respaldado pelo presidente, o que é condição essencial para autorizar a credibilidade do ajuste conduzido por ele, ainda que amplamente ancorado em números pouco críveis da arrecadação federal.
Guindado ao comando da pasta sob forte desconfiança do mercado, o ministro da Fazenda atingiu no final do primeiro semestre o pico de sua popularidade no sistema financeiro.
Os vetos apresentados por Lula ao texto final do arcabouço, eliminando gatilhos de contenção de despesas, trazem à tona, contudo, um sinal amarelo quanto aos plenos poderes de Haddad para controlar o furor do QG lulista, que faz planos ousados para as eleições municipais de 2024 e enxerga no PAC um ativo relevante de mobilização de prefeitos e suporte às siglas governistas nas principais cidades do país. A resolução recém-publicada pelo PT sublinha o caráter estratégico do pleito do próximo ano e o trata como essencial para pavimentar a candidatura de Lula à reeleição.
Alvo do fogo amigo constante da direção petista e de integrantes da Casa Civil e outras instâncias de poder palacianas, Haddad tem conseguido driblar as adversidades com um cenário macro favorável –inflação baixa, câmbio estabilizado e juros em queda. São fatores que empurram a popularidade do governo e atenuam a censura interna.
Ainda que o PIB do segundo trimestre tenha surpreendido positivamente, a variável da atividade econômica tende a produzir mais notícias negativas até o final do ano, o que diminui o cacife do ministro nessa queda-de-braço com os estrategistas políticos de Lula, que desejam ver índices expressivos de crescimento para a segunda metade do mandato.
Desgaste
Embora Haddad venha se empenhando em abraçar a causa social de algumas das medidas adotadas por sua pasta, como a taxação dos fundos exclusivos e offshores, direcionada aos "super-ricos", seu capital político sofreu algum desgaste com a recente contenda com o presidente da Câmara, Arthur Lira.
E caberá a Lira modular os esforços para obtenção de novas receitas, previstas em quase R$ 170 bilhões, sustentando um discurso reformista e assegurando à sua numerosa base parlamentar o acesso a recursos do Orçamento num ano em que as atenções do “baixo clero” da Congresso se voltam para os redutos territoriais.
"Foi uma semana importante para esse segmento do PT. O ato de sanção do novo salário mínimo e da ampliação de isenção do imposto de renda foi o principal feito do governo até agora para a nossa base. E ainda veio a cereja do bolo de taxar os ricos para enfrentar a desigualdade", analisa um grãopetista ouvido pela coluna. "Agora, o que não pode acontecer é o governo ficar refém da agenda do arrocho. Não foi isso que Lula prometeu na campanha", completa esse dirigente.
O diagnóstico da cúpula partidária é um recado a Haddad, que ainda conta com o respaldo inconteste de Lula. A dúvida que persiste é se a resiliência do ministro na defesa do equilíbrio fiscal sobreviverá a um governo em frenética busca de marcas populares que tornem o presidente imbatível nas urnas em 2026. Quadro que deve ser agravado diante de um horizonte de PIBs modestos e entraves de governabilidade no Legislativo, dada a hesitação do núcleo de lulista de ceder superpoderes ao centrão.
- Vetos ao arcabouço mostram resistência do Planalto a corte de despesas no ano em que aliados disputarão prefeituras estratégicas
- Cúpula petista resiste a contingenciamentos e medidas restritivas no orçamento em prol da agenda populista visando 2026
Sob permanente questionamento de setores desenvolvimentistas do PT, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, assume, a partir da aprovação definitiva do marco fiscal, sua tarefa mais complexa de validação no núcleo político do Palácio do Planalto: equilibrar as ambiciosas balizas de resultado primário com o apetite por gastos do partido e aliados.
O que hoje mais distancia Haddad do petista "raiz" é a concepção de que o investimento público não pode ser comprimido, mesmo com as contas no vermelho, sob o pretexto de comprometer o crescimento econômico.
O chefe da equipe econômica de Lula já sobreviveu a quatro testes mais agudos de resistência diante da ala mais desenvolvimentista do PT: a pressão pela revisão da meta de inflação, em fevereiro, o enfrentamento à prorrogação do subsídio dos combustíveis, no final de março, o vaivém do texto final do arcabouço fiscal, em meados de maio, e agora com o ataque especulativo à mudança da meta de déficit zero nas contas públicas em 2024.
Em todas as ocasiões, Haddad foi respaldado pelo presidente, o que é condição essencial para autorizar a credibilidade do ajuste conduzido por ele, ainda que amplamente ancorado em números pouco críveis da arrecadação federal.
Guindado ao comando da pasta sob forte desconfiança do mercado, o ministro da Fazenda atingiu no final do primeiro semestre o pico de sua popularidade no sistema financeiro.
Os vetos apresentados por Lula ao texto final do arcabouço, eliminando gatilhos de contenção de despesas, trazem à tona, contudo, um sinal amarelo quanto aos plenos poderes de Haddad para controlar o furor do QG lulista, que faz planos ousados para as eleições municipais de 2024 e enxerga no PAC um ativo relevante de mobilização de prefeitos e suporte às siglas governistas nas principais cidades do país. A resolução recém-publicada pelo PT sublinha o caráter estratégico do pleito do próximo ano e o trata como essencial para pavimentar a candidatura de Lula à reeleição.
Alvo do fogo amigo constante da direção petista e de integrantes da Casa Civil e outras instâncias de poder palacianas, Haddad tem conseguido driblar as adversidades com um cenário macro favorável –inflação baixa, câmbio estabilizado e juros em queda. São fatores que empurram a popularidade do governo e atenuam a censura interna.
Ainda que o PIB do segundo trimestre tenha surpreendido positivamente, a variável da atividade econômica tende a produzir mais notícias negativas até o final do ano, o que diminui o cacife do ministro nessa queda-de-braço com os estrategistas políticos de Lula, que desejam ver índices expressivos de crescimento para a segunda metade do mandato.
Desgaste
Embora Haddad venha se empenhando em abraçar a causa social de algumas das medidas adotadas por sua pasta, como a taxação dos fundos exclusivos e offshores, direcionada aos "super-ricos", seu capital político sofreu algum desgaste com a recente contenda com o presidente da Câmara, Arthur Lira.
E caberá a Lira modular os esforços para obtenção de novas receitas, previstas em quase R$ 170 bilhões, sustentando um discurso reformista e assegurando à sua numerosa base parlamentar o acesso a recursos do Orçamento num ano em que as atenções do “baixo clero” da Congresso se voltam para os redutos territoriais.
"Foi uma semana importante para esse segmento do PT. O ato de sanção do novo salário mínimo e da ampliação de isenção do imposto de renda foi o principal feito do governo até agora para a nossa base. E ainda veio a cereja do bolo de taxar os ricos para enfrentar a desigualdade", analisa um grãopetista ouvido pela coluna. "Agora, o que não pode acontecer é o governo ficar refém da agenda do arrocho. Não foi isso que Lula prometeu na campanha", completa esse dirigente.
O diagnóstico da cúpula partidária é um recado a Haddad, que ainda conta com o respaldo inconteste de Lula. A dúvida que persiste é se a resiliência do ministro na defesa do equilíbrio fiscal sobreviverá a um governo em frenética busca de marcas populares que tornem o presidente imbatível nas urnas em 2026. Quadro que deve ser agravado diante de um horizonte de PIBs modestos e entraves de governabilidade no Legislativo, dada a hesitação do núcleo de lulista de ceder superpoderes ao centrão.