Análise: economia ajuda Lula a driblar resistências e mantém Haddad no jogo
Números do PIB se somam à transição serena no BC e fortalecem o Planalto nas tratativas para a sucessão de Lira
Vice-presidente da Ágora Assuntos Públicos
Publicado em 9 de setembro de 2024 às 09h16.
Última atualização em 9 de setembro de 2024 às 16h58.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva avança casas preciosas no xadrez da governabilidade visando a remoção estratégica de obstáculos que hoje dificultam a implementação de sua agenda com vistas ao processo sucessório de 2026.
No Planalto, há uma onda de euforia causada pelos números do PIB divulgados recentemente pelo IBGE, que captaram crescimento acima das expectativas no segundo trimestre. Esses dados, mais do que simples indicadores econômicos, são um alicerce político que o presidente utilizará para consolidar sua base legislativa, ainda muito frágil.
O crescimento do PIB, se alcançar 3% no ano, será um trunfo considerável para Lula. Não se trata apenas de uma cifra a ser celebrada na Esplanada dos Ministérios, mas de uma ferramenta vital para negociar com o Congresso, comandado por partidos de centro-direita e cujos membros têm os olhos voltados para a economia real.
Mesmo com indicativo concreto de paralisia da atividade no segundo semestre, a percepção de prosperidade econômica, ancorada também nas estatísticas do emprego e de aumento da renda, oferece ao governo uma janela de oportunidade para conduzir sua agenda com menos resistência.
É nesse cenário que a sucessão na Câmara dos Deputados começa a ganhar contornos mais favoráveis ao Executivo . O deputado Hugo Motta desponta como o nome que agrada ao Planalto. Embora alinhado com Arthur Lira, Motta representa uma figura menos hostil do que Elmar Nascimento, antigo favorito de Lira e ferrenho opositor do PT na Bahia.
O movimento na sucessão não é apenas sobre quem ocupará a cadeira de Lira, mas sobre o controle estratégico do Congresso, essencial para qualquer governo que busca estabilidade. O Executivo, portanto, age para garantir que a transição de poder na Câmara não se torne uma barreira adicional para seus planos.
Esse alinhamento dialoga diretamente com outra premência do governo: a proteção institucional. A relação com o STF e com a Polícia Federal torna-se um ativo político para qualquer candidato à sucessão de Lira. Lula compreende que, para blindar sua agenda e manter o caminho aberto para 2026, é imprescindível manter relações fluidas com essas instituições, que desempenham papel central no cenário de polarização política atual.
Outro obstáculo que o governo começa a contornar é a condução do Banco Central. A transição de Roberto Campos Neto para Gabriel Galipolo, inicialmente cercada de tensão, tem se mostrado mais suave do que o previsto. Galipolo, que será o novo líder da política monetária, já obteve sinal verde de Lula para ajustes na trajetória dos juros, e há uma expectativa de que, até o final do primeiro semestre de 2025, ele tenha acumulado “gordura” suficiente para imprimir sua marca. Esse fator traz alívio ao Planalto, que vinha pressionado por um BC que parecia caminhar em descompasso com as prioridades econômicas do governo.
Enquanto Lula articula essas mudanças internas, há um horizonte de desafios externos. Ele prepara agora uma retomada vigorosa de sua agenda internacional até o fim do ano, buscando se livrar das sombras deixadas pelo episódio de difícil ruptura com a ditadura de Nicolás Maduro, que ainda rende dissabores para o Itamaraty. Essa reaproximação com a comunidade internacional é crucial para o Brasil, que almeja recuperar seu protagonismo global.
No entanto, o esforço empreendido por Lula no tour pelos principais fóruns globais também visa neutralizar o desgaste interno, especialmente à medida que os movimentos de oposição, como o de 7 de Setembro, ganham tração com bandeiras como a defesa da liberdade de expressão e o confronto deliberado com o STF.
Já é sabido no Planalto que as eleições municipais de 2024 podem trazer resultados desfavoráveis para a esquerda, e por isso é crucial que Lula encontre fôlego suficiente para contrabalançar os impactos negativos das urnas com os avanços econômicos e prováveis vitórias políticas no Congresso. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, também se beneficia desse cenário mais tranquilo. Com mais convergência com a cúpula da Câmara e do Senado, ele poderá driblar resistências acumuladas num ano de duras tratativas com Lira e Rodrigo Pacheco, mantendo no horizonte a possibilidade de buscar receitas que equilibrem as contas públicas e consolidem seu prestígio na pasta.
Lula entra, portanto, num momento de menor turbulência política, no qual os movimentos no tabuleiro institucional e os números da economia se alinham em seu favor. Contudo, o equilíbrio é frágil, e qualquer deslize pode reacender faíscas de oposição, que teima em mostrar ao chefe do Executivo que o país permanece ideologicamente dividido.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva avança casas preciosas no xadrez da governabilidade visando a remoção estratégica de obstáculos que hoje dificultam a implementação de sua agenda com vistas ao processo sucessório de 2026.
No Planalto, há uma onda de euforia causada pelos números do PIB divulgados recentemente pelo IBGE, que captaram crescimento acima das expectativas no segundo trimestre. Esses dados, mais do que simples indicadores econômicos, são um alicerce político que o presidente utilizará para consolidar sua base legislativa, ainda muito frágil.
O crescimento do PIB, se alcançar 3% no ano, será um trunfo considerável para Lula. Não se trata apenas de uma cifra a ser celebrada na Esplanada dos Ministérios, mas de uma ferramenta vital para negociar com o Congresso, comandado por partidos de centro-direita e cujos membros têm os olhos voltados para a economia real.
Mesmo com indicativo concreto de paralisia da atividade no segundo semestre, a percepção de prosperidade econômica, ancorada também nas estatísticas do emprego e de aumento da renda, oferece ao governo uma janela de oportunidade para conduzir sua agenda com menos resistência.
É nesse cenário que a sucessão na Câmara dos Deputados começa a ganhar contornos mais favoráveis ao Executivo . O deputado Hugo Motta desponta como o nome que agrada ao Planalto. Embora alinhado com Arthur Lira, Motta representa uma figura menos hostil do que Elmar Nascimento, antigo favorito de Lira e ferrenho opositor do PT na Bahia.
O movimento na sucessão não é apenas sobre quem ocupará a cadeira de Lira, mas sobre o controle estratégico do Congresso, essencial para qualquer governo que busca estabilidade. O Executivo, portanto, age para garantir que a transição de poder na Câmara não se torne uma barreira adicional para seus planos.
Esse alinhamento dialoga diretamente com outra premência do governo: a proteção institucional. A relação com o STF e com a Polícia Federal torna-se um ativo político para qualquer candidato à sucessão de Lira. Lula compreende que, para blindar sua agenda e manter o caminho aberto para 2026, é imprescindível manter relações fluidas com essas instituições, que desempenham papel central no cenário de polarização política atual.
Outro obstáculo que o governo começa a contornar é a condução do Banco Central. A transição de Roberto Campos Neto para Gabriel Galipolo, inicialmente cercada de tensão, tem se mostrado mais suave do que o previsto. Galipolo, que será o novo líder da política monetária, já obteve sinal verde de Lula para ajustes na trajetória dos juros, e há uma expectativa de que, até o final do primeiro semestre de 2025, ele tenha acumulado “gordura” suficiente para imprimir sua marca. Esse fator traz alívio ao Planalto, que vinha pressionado por um BC que parecia caminhar em descompasso com as prioridades econômicas do governo.
Enquanto Lula articula essas mudanças internas, há um horizonte de desafios externos. Ele prepara agora uma retomada vigorosa de sua agenda internacional até o fim do ano, buscando se livrar das sombras deixadas pelo episódio de difícil ruptura com a ditadura de Nicolás Maduro, que ainda rende dissabores para o Itamaraty. Essa reaproximação com a comunidade internacional é crucial para o Brasil, que almeja recuperar seu protagonismo global.
No entanto, o esforço empreendido por Lula no tour pelos principais fóruns globais também visa neutralizar o desgaste interno, especialmente à medida que os movimentos de oposição, como o de 7 de Setembro, ganham tração com bandeiras como a defesa da liberdade de expressão e o confronto deliberado com o STF.
Já é sabido no Planalto que as eleições municipais de 2024 podem trazer resultados desfavoráveis para a esquerda, e por isso é crucial que Lula encontre fôlego suficiente para contrabalançar os impactos negativos das urnas com os avanços econômicos e prováveis vitórias políticas no Congresso. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, também se beneficia desse cenário mais tranquilo. Com mais convergência com a cúpula da Câmara e do Senado, ele poderá driblar resistências acumuladas num ano de duras tratativas com Lira e Rodrigo Pacheco, mantendo no horizonte a possibilidade de buscar receitas que equilibrem as contas públicas e consolidem seu prestígio na pasta.
Lula entra, portanto, num momento de menor turbulência política, no qual os movimentos no tabuleiro institucional e os números da economia se alinham em seu favor. Contudo, o equilíbrio é frágil, e qualquer deslize pode reacender faíscas de oposição, que teima em mostrar ao chefe do Executivo que o país permanece ideologicamente dividido.