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Não me culpem por Trump

Há uma nova opinião conservadora sobre de quem é a culpa por Donald Trump — e, ao que parece, é dos comentaristas liberais, e minha em particular. Sim, segundo um artigo no The Daily Beast, ao denunciar a desonestidade de gente como Mitt Romney, o ex-candidato presidencial republicano, eu estava criando um falso alarde, e […]

(Isaac Brekken/Getty Images)
DR

Da Redação

Publicado em 24 de agosto de 2016 às 12h11.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h07.

Há uma nova opinião conservadora sobre de quem é a culpa por Donald Trump — e, ao que parece, é dos comentaristas liberais, e minha em particular. Sim, segundo um artigo no The Daily Beast, ao denunciar a desonestidade de gente como Mitt Romney, o ex-candidato presidencial republicano, eu estava criando um falso alarde, e com isso os eleitores não prestaram atenção aos avisos posteriores sobre o Sr. Trump.

Mesmo se você deixar de lado a substância, este é um argumento bizarro. Vocês acreditam mesmo que a parcela do eleitorado republicano que foi às primárias e escolheu o Sr. Trump como o candidato do partido se importa com o que os colunistas do New York Times, particularmente eu, têm a dizer? E que esses eleitores estariam melhor avisados se eu tivesse sido mais bondoso com o establishment republicano?

Isso mal chega ao nível de ser piada.

Vamos falar sobre o que eu disse a respeito do Sr. Romney. Aqui está um trecho-chave de um artigo que escrevi em 2012: “Cada um dos temas principais da campanha de Romney, dos ataques ao presidente Obama para que rodasse o mundo pedindo desculpas pela América (ele não o fez), à insistência de que Romneycare e Obamacare são programas muito diferentes (eles são praticamente idênticos), à alegação de que Obama destruiu milhões de empregos (o que só é verdade se você contar os primeiros meses de sua administração, antes que qualquer uma de suas políticas tivesse surtido efeito), ou é uma mentira pura e simples ou um profundo engano. Por que as mentiras incessantes?”

Há algo de errado com este trecho? A chamada “turnê das desculpas” era um bordão constante em 2012, embora (o site) PolitiFact o tenha chamado como “lorota braba” em termos de falsidade. Assim como os pontos sobre Romneycare e perdas de empregos, que eram igualmente falsos. Então, qual é a alegação aqui? Que eu não deveria ter denunciado o Sr. Romney por suas mentiras, porque isso minaria minha autoridade quando um mentiroso muito maior aparecesse?

Que tal uma hipótese diferente: as fundações do trumpismo foram estabelecidas em parte pelos conservadores que tornaram a desonestidade sobre suas políticas parte da rotina da política republicana, e também pelos jornalistas os-dois-lados-fazem isso, que viabilizaram essa cultura da mentira. Isso deixou o establishment republicano impotente diante de alguém que mentiu tanto em um dia quanto em uma semana, porque o establishment não teria credibilidade para dizer que a desonestidade política foi desqualificante.

Na verdade, eu também não acredito plenamente nessa hipótese. Essencialmente, o trumpismo tem a ver com o ID do Partido Republicano triunfando sobre seu superego fraco, o que provavelmente estava fadado a acontecer, de qualquer forma.

Mas é muito mais plausível do que me culpar.

ficha_krugmann

© 2016 The New York Times

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Há uma nova opinião conservadora sobre de quem é a culpa por Donald Trump — e, ao que parece, é dos comentaristas liberais, e minha em particular. Sim, segundo um artigo no The Daily Beast, ao denunciar a desonestidade de gente como Mitt Romney, o ex-candidato presidencial republicano, eu estava criando um falso alarde, e com isso os eleitores não prestaram atenção aos avisos posteriores sobre o Sr. Trump.

Mesmo se você deixar de lado a substância, este é um argumento bizarro. Vocês acreditam mesmo que a parcela do eleitorado republicano que foi às primárias e escolheu o Sr. Trump como o candidato do partido se importa com o que os colunistas do New York Times, particularmente eu, têm a dizer? E que esses eleitores estariam melhor avisados se eu tivesse sido mais bondoso com o establishment republicano?

Isso mal chega ao nível de ser piada.

Vamos falar sobre o que eu disse a respeito do Sr. Romney. Aqui está um trecho-chave de um artigo que escrevi em 2012: “Cada um dos temas principais da campanha de Romney, dos ataques ao presidente Obama para que rodasse o mundo pedindo desculpas pela América (ele não o fez), à insistência de que Romneycare e Obamacare são programas muito diferentes (eles são praticamente idênticos), à alegação de que Obama destruiu milhões de empregos (o que só é verdade se você contar os primeiros meses de sua administração, antes que qualquer uma de suas políticas tivesse surtido efeito), ou é uma mentira pura e simples ou um profundo engano. Por que as mentiras incessantes?”

Há algo de errado com este trecho? A chamada “turnê das desculpas” era um bordão constante em 2012, embora (o site) PolitiFact o tenha chamado como “lorota braba” em termos de falsidade. Assim como os pontos sobre Romneycare e perdas de empregos, que eram igualmente falsos. Então, qual é a alegação aqui? Que eu não deveria ter denunciado o Sr. Romney por suas mentiras, porque isso minaria minha autoridade quando um mentiroso muito maior aparecesse?

Que tal uma hipótese diferente: as fundações do trumpismo foram estabelecidas em parte pelos conservadores que tornaram a desonestidade sobre suas políticas parte da rotina da política republicana, e também pelos jornalistas os-dois-lados-fazem isso, que viabilizaram essa cultura da mentira. Isso deixou o establishment republicano impotente diante de alguém que mentiu tanto em um dia quanto em uma semana, porque o establishment não teria credibilidade para dizer que a desonestidade política foi desqualificante.

Na verdade, eu também não acredito plenamente nessa hipótese. Essencialmente, o trumpismo tem a ver com o ID do Partido Republicano triunfando sobre seu superego fraco, o que provavelmente estava fadado a acontecer, de qualquer forma.

Mas é muito mais plausível do que me culpar.

ficha_krugmann

© 2016 The New York Times

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