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Curtindo a vida nas pocilgas socialistas

Os impostos franceses representam 46% do PIB, comparados a somente 24% nos Estados Unidos

FRANÇA: milhares de pessoas têm saído às ruas para protestar contra a proposta de reforma da previdência do presidente Emmanuel Macron.  / REUTERS/Benoit Tessier
FRANÇA: milhares de pessoas têm saído às ruas para protestar contra a proposta de reforma da previdência do presidente Emmanuel Macron. / REUTERS/Benoit Tessier
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Paul Krugman

Publicado em 19 de dezembro de 2019 às, 18h54.

Última atualização em 20 de dezembro de 2019 às, 16h13.

Recentemente, o New York Times publicou um artigo de um casal que se mudou dos Estados Unidos para a Finlândia, e que estava positivamente surpreso pelo modo como a vida pode ser boa em um país com impostos altos e serviços de alta qualidade. Um número razoável de leitores do jornal pareceu surpreso, provavelmente porque, até mesmo sem saber, eles vinham sofrendo influência da propaganda conservadora generalizada.

A questão é que já houve um tempo em que as visões negativas da Europa tinham alguma base na realidade. Na década de 90, as principais economias da Europa pareciam sofrer de “euroesclerose”, a criação continuada de um baixo volume de empregos acompanhada de uma aparente incapacidade de acompanhar os Estados Unidos, à medida que nós passávamos por uma explosão de produtividade relacionada à tecnologia da informação.

Mas esse tempo já é coisa do passado, e as economia da Europa seguiram em frente. Os críticos, por outro lado, não. Eles ainda estão reclamando como se não houvesse amanhã.

Falemos especialmente da história de horror favorita da direita, a pocilga socialista conhecida como França. Em certos sentidos, a França não é o melhor exemplo de uma sociedade com um governo grande; os franceses cometeram alguns erros, em particular na política de previdência deles, que as economias nórdicas não estão cometendo. Fora isso, os próprios franceses são abertos até demais, na minha opinião, a acreditar nas críticas externas às escolhas que eles fazem.

De todo modo, vamos falar sobre como o desempenho francês se compara ao dos Estados Unidos.

Para começar, o desemprego em massa não é mais um problema. Muitos franceses se aposentam muito cedo – como eu disse, eles meio que fizeram uma certa bagunça neste departamento. Porém, quando estão no auge da idade em que podem ingressar no mercado de trabalho, os franceses têm mais chances de conseguir emprego do que os americanos.

O atraso da França na questão tecnológica também é coisa do passado. Os franceses têm consideravelmente mais chances de conseguir acesso à banda larga do que seus equivalentes americanos, em grande parte porque a banda larga deles custa menos da metade do que a daqui; o governo francês tem atuado no sentido de limitar o poder de monopólios, enquanto o governo americano não.

A França tem acesso universal a um serviço de saúde pública, e de excelente qualidade. Além disso, a expectativa de vida francesa, que era semelhante à nossa nos anos 80, vem crescendo muito rapidamente desde então, ao ponto de hoje a diferença ser de quatro anos a mais de vida para os franceses.

É bem verdade que o produto interno bruto per capita da França é significativamente menor do que o nosso, em parte por causa da aposentadoria precoce, mas isso acontece mais porque os franceses tiram férias por muito mais tempo. Mas será que isso é necessariamente algo ruim?

Sem dúvida, tudo isso custa dinheiro. A diferença é que está claro que os contribuintes franceses recebem muitas coisas de volta.

E esse, sem dúvida, é o porquê de os conservadores americanos insistirem que a França deve ser, embora não pareça, uma pocilga socialista. Toda a visão de mundo deles se baseia na afirmação de que impostos são uma coisa terrível e destrutiva, de modo que qualquer país que cobre seus impostos tão altos quanto faz a França só pode ser o palco de um desastre, não importa quão bonito ele pareça.

Ou seja, em quem você prefere acreditar, na sua doutrinação ou nos seus olhos mentirosos?