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Vieses comportamentais: como eles podem afetar seus investimentos

Os impactos da psicologia na tomada de decisões financeiras

 (Getty Images)

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Panorama Econômico

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Publicado em 15 de abril de 2025 às 10h11.

Tomar decisões racionais é (ou deveria ser) uma das principais buscas de um bom investidor. No entanto, a psicologia humana quase sempre é um grande obstáculo nesse processo. Frequentemente, nossos pensamentos e emoções nos direcionam a escolhas impulsivas que podem prejudicar nossos investimentos. Esses "desvios" da razão são chamados de vieses comportamentais, padrões automáticos de pensamento que afetam a maneira como interpretamos as informações e tomamos decisões no mercado financeiro.

No mundo dos investimentos, entender esses vieses e saber como reconhecê-los é fundamental para evitar que eles tirem seu foco do planejamento financeiro definido, bem como para não comprometer o potencial de crescimento de sua carteira.

Ao longo da minha carreira e dos mais de quatro anos de atuação da FH Advisors, pude observar vários clientes sofrerem perdas relevantes e tomarem decisões financeiras pouco racionais por mera influência desses vieses.

Por esse motivo, com base na prática diária, escrevo este artigo para abordar alguns dos vieses mais comuns e como eles podem afetar as escolhas do investidor.

1. Efeito Manada

Quantas vezes você já pensou: "Se todo mundo está fazendo isso, deve ser a melhor coisa a se fazer"? Esse é o efeito manada, e ele se reflete claramente nos investimentos. Em vez de tomar decisões baseadas em uma análise cuidadosa, você pode acabar fazendo escolhas apenas porque "todo mundo está indo na mesma direção".

Um famoso exemplo disso foi a bolha das empresas de tecnologia no final dos anos 1990. Muita gente comprou ações sem entender o que realmente estava por trás daquelas empresas, apenas porque o mercado estava subindo. No final, quem “entrou na onda” sofreu as consequências da queda vertiginosa.

2. Aversão à Perda

Este é um viés clássico. Na psicologia, a dor de perder é muito mais forte do que o prazer de ganhar na mesma magnitude, e isso nos faz hesitar em tomar decisões dolorosas.

Imagine que você fez um investimento e, depois de um tempo, o valor começou a cair porque os fundamentos mudaram de forma relevante. A depender da sua estratégia, poderia ser o caso de se desfazer do investimento. Entretanto, a aversão à perda induz você a rejeitar a venda para não “assumir o prejuízo”. Nesse caso, em muitas situações, tal comportamento acaba agravando o prejuízo.

3. Excesso de confiança

Quando você consegue um grande e lucrativo acerto nos investimentos, é comum ignorar o “golpe de sorte” e achar que tem uma habilidade especial para prever os movimentos do mercado.

Isso pode levar a negociações impulsivas, exposição desnecessária ao risco e grandes prejuízos. O investidor que se acha capaz de "bater o mercado" o tempo todo costuma, na realidade, acabar fazendo movimentos que minam seu retorno ao longo do tempo.

4. Viés da Ancoragem

O viés da ancoragem ocorre quando você fica preso a uma referência inicial, como o preço de compra de um ativo. Mesmo que os dados sugiram que aquele valor não é mais realista, você continua a tomar decisões baseadas nessa âncora.

Um exemplo disso é aquele investidor que comprou ações a R$ 50,00 e, mesmo vendo o valor cair para R$ 40,00, se recusa a vender por acreditar que o antigo valor será atingido novamente. Essa mentalidade impede decisões racionais.

5. Fear of missing Out (FOMO)

O medo de estar perdendo “a grande oportunidade” é algo bem comum, especialmente no cenário atual, onde as redes sociais podem fazer você acreditar que está ficando para trás de todo mundo.

O FOMO leva investidores a comprarem ativos de forma precipitada, só para não “perder o bonde”. Na maioria das vezes, essas compras são feitas só porque determinado investimento subiu muito, sem analisar se realmente faz sentido. A partir daí, o potencial de prejuízo é gigantesco.

Cientes dos mecanismos de atuação dos principais vieses comportamentais, como podemos evitar que eles afetem nossos investimentos?

Aqui vão algumas dicas para não deixar a psicologia atrapalhar suas decisões financeiras:

  • Decisões baseadas em dados – sempre priorize a análise objetiva dos fundamentos e evite se deixar levar por emoções, pelo noticiário e por opiniões alheias.
  • Diversificação – ao diversificar seu portfólio, você reduz o impacto de um erro em um único ativo.
  • Revisão periódica – avalie regularmente seus investimentos. O que parecia bom ontem pode não ser tão bom hoje diante das mudanças do mundo.
  • Disciplina – mantenha seu foco no longo prazo e evite se deixar seduzir por oportunidades de curto prazo, como operações especulativas.
  • Procure um bom profissional – consultores de investimentos podem ser uma excelente forma de garantir que você não caia nas armadilhas psicológicas. Eles trazem uma visão externa e objetiva, ajudando a manter o foco no seu plano.

O sucesso nos investimentos não depende apenas de conhecer o mercado, mas também de entender como a psicologia influencia nossas decisões.

Reconhecer os vieses comportamentais e agir de maneira racional tende a ser um grande diferencial para alcançar bons resultados ao longo do tempo.

Se você não é um profissional da área de investimentos, conte sempre com um consultor independente de sua confiança para ajudar na gestão dos seus investimentos.

*Matheus Martins da Silva, CGA, é sócio e consultor de investimentos da FH Advisors.

A FH Advisors é a maior consultoria de investimentos independente de Minas Gerais. Fundada em 2020, a empresa conta com mais de R$ 550 milhões sob consultoria e 600 clientes por todo o Brasil.

A missão da FH Advisors é ajudar as pessoas a investirem melhor seu dinheiro e planejarem sua vida financeira de forma mais eficiente, personalizada e com foco nos objetivos de vida.

Todo o trabalho é feito de forma independente de instituições financeiras, eliminando os conflitos de interesse tão presentes por parte dos assessores e gerentes de banco.

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