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Uma Jornada de Family Office

Nossa trajetória começa 15 anos atrás, quando montamos o Family Office

 (Ricardo Moraes/Reuters)
(Ricardo Moraes/Reuters)
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Panorama Econômico

Publicado em 7 de março de 2022 às, 12h47.

Última atualização em 7 de março de 2022 às, 14h44.

Por Eduardo Tellechea Cairoli*

Temos observado um ingresso acentuado de pessoas físicas no mercado financeiro, atuando de forma independente ou com assessoria. Muitas vezes, elas buscam suporte de empresas de investimentos em que os profissionais, com características generalistas de serviços bancários, não se especializaram, pois o cenário histórico de juros altíssimos no Brasil criou uma cultura de morbidez e a ilusão do “El Dorado” do CDI travando.

Esta nova efervescência no mercado financeiro nos leva a refletir sobre o papel dos gestores de investimentos, os aprendizados que formam os bons profissionais e também o que distingue diferentes perfis das empresas que atuam no segmento. Iniciamos há 15 anos como Family Office, posteriormente nos transformamos em Multi Family Office, atendendo às principais famílias no Rio Grande do Sul. Atravessamos duas grandes crises da nossa geração e mudanças macroeconômicas no Brasil e no mundo – muito mais por aqui.

Costumo dizer que, em nosso país, devemos cuidar a euforia e a depressão, enquanto a onda no mundo é mais longa e contínua. Também digo, do alto dos meus 43 anos, e com 20 anos de mercado, que o estudo é fundamental, a informação é importante, mas, para acertar o cenário, seguir o instinto é o grande salto. E isso só se consegue juntando formação de primeira e maturidade – desta, só enxergamos o valor quando a temos.

Gestão de patrimônio é um pouco do que mencionei acima, muito processo e disciplina na execução, mas, antes de tudo, integridade. Este último ou você tem, ou não tem. O processo de gestão se dá através de uma curva de aprendizado em que necessariamente tem que haver “skin in the game” na prática, e não no discurso.

Há duas famosas frases do Warren Buffet, admirado por todos e citado por alguns, que ilustram o que descrevo: “Procurando pessoas para contratar, você busca três qualidades: integridade, inteligência e energia. E se elas não têm a primeira, as outras duas matarão você”, e a irônica “Wall Street é o único lugar para onde as pessoas vão de Rolls-Royce pedir conselhos a quem pega o metrô”.

Um processo de gestão de investimentos diligente inicia, necessariamente com o conhecimento profundo do cliente, seus objetivos, perfil, seu histórico familiar, de relacionamento com o mercado, de formação do patrimônio, suas preferências, dentre outras informações relevantes. As pessoas são diferentes uma das outras, e, para montar uma carteira de investimentos aderente ao que se precisa em um horizonte de longo prazo, é fundamental uma ampla gama de informações.

O planejamento financeiro que antecede a montagem de uma carteira de investimentos ou patrimonial coloca em perspectiva a vida da pessoa no longo prazo, conseguindo, assim, visualizar um caminho projetado e um roteiro a ser seguido. Desta forma, através de um projeto personalizado, consegue-se ter um alinhamento entre o plano de vida e o patrimônio, com objetivos traçados e a definição do que será feito para atingi-lo. Cada pessoa é uma pessoa, tendo suas necessidades, suas características, seu perfil, objetivos, estrutura familiar, e, obviamente as demandas surgem e se adaptam ao longo do tempo.

O trabalho de um family office não se resume à gestão de investimentos – embora obviamente esta seja uma parcela importante, pois o resultado tem que estar aderente com os objetivos e perfil do cliente. A responsabilidade principal, entretanto, é zelar pelo patrimônio, buscando a perpetuidade da família, com planejamento de longo prazo, organização e governança familiar – e aí também é necessário preparar a geração seguinte para o seu papel.

É uma jornada ao lado do cliente, de cuidado, centralizando os movimentos estratégicos envolvendo o patrimônio e demais prestadores de serviços, como advogados e contadores. Trata-se de um processo independente de instituições financeiras, pois o vínculo é com a família.

Em um mundo cada vez mais impessoal e em um mercado predominantemente digital, onde logo o intermediário não mais existirá, os relacionamentos sólidos são aqueles pautados pela lealdade, transparência, confidencialidade e permanente atenção. É o que buscamos praticar desde 2007.

*Eduardo Tellechea Cairoli é fundador da Privatto Multi Family Office, um dos principais family offices do Brasil e o mais tradicional do Rio Grande do Sul.