Todo portfólio precisa de investimentos no exterior — e não apenas pela busca de moeda forte
Presença em mercados mais desenvolvidos, setores específicos ou maior diversificação são alguns dos motivos que justificam carteiras com exposição global.
Redação Exame
Publicado em 14 de maio de 2024 às 15h37.
Antes de mirar lucros extraordinários, o investidor deve buscar a manutenção do seu patrimônio ao longo do tempo e a mitigação do risco total da carteira. Para alcançar esse objetivo de forma eficiente realmente é importante a alocação de parte do patrimônio em moeda forte.
Países em desenvolvimento, como o Brasil, são encarados como investimentos de risco para investidores estrangeiros, fazendo com que a relação entre nossos títulos e a taxa de câmbio seja inversa na maioria das vezes. Essa relação por si só já faz com que uma carteira com investimentos no exterior sofra menos com a volatilidade.
O investidor desavisado, então, pode imaginar que basta comprar alguns dólares e sua carteira ficara protegida da volatilidade dos mercados. O problema é que o dólar, como investimento, não foi uma boa alternativa nas ultimas décadas. Claro que ele subiu em relação ao real, mas o desempenho foi muito próximo da inflação, o que é o caminho natural das taxas de câmbio na maioria das vezes.
Sabendo que precisamos ter investimentos em dólar, mas que a moeda por si só não é uma boa alternativa, surge a dúvida: o que fazer com o dinheiro então?
A questão é que existem vários outros motivos para manter parcela dos seus investimentos no exterior. Na hora de montar uma carteira eficiente, a exposição cambial acaba vindo de brinde.
Tamanho dos mercados
Todo mundo deveria investir na bolsa dos EUA, mesmo quem vive em outros países desenvolvidos. Vamos supor que você viva na Suíça. Neste caso, mesmo que você queira investir em outras moedas, essa não é uma preocupação tão grande, afinal o franco suíço também é uma moeda forte. Por outro lado, supondo que você queira investir em ações, enquanto a bolsa suíça tem aproximadamente 2 trilhões de dólares em capitalização de mercado, nos Estados Unidos esse número chega aos US$ 23 trilhões somente na NYSE.
Quando se pensa em mercados acionários, os EUA representam mais de metade de todo valor investido globalmente. Se sua ideia é investimento passivo, com um ETF de S&P 500 sua carteira já esta exposta a aproximadamente 80% do mercado americano, o que significa mais ou menos 40% de todo o mercado global.
Acesso a diversos setores
A diversificação entre diferentes setores da economia é uma parte duplamente importante na gestão de um portfolio de investimentos. Em primeiro lugar, como parte da gestão de risco, é importante não estar muito exposto a nenhum setor específico, uma vez que existem riscos inerentes a cada um deles e que podem ser diminuídos simplesmente acrescentando mais setores na posição.
Outro ponto importante é a composição da rentabilidade da carteira ao longo do tempo. Temos períodos em que algum setor fica responsável por parte substancial dos ganhos de um mercado, enquanto outros setores se mantem estáveis ou até negativos.
O melhor exemplo disso é o setor de tecnologia, que foi extremamente importante para a rentabilidade do S&P 500 nos últimos anos. Entre abril de 2014 e abril de 2024 o índice subiu mais de 3.200 pontos, sendo que aproximadamente 1.400 pontos vieram das principais empresas de tecnologia.
Diversificação de riscos macro
Economias desenvolvidas normalmente se comportam de maneira menos volátil, o que gera mercados mais tranquilos e com menos sustos. Além disso, quanto maior e mais madura a economia de um país, menos suscetível ela fica a possíveis barbeiragens na politica econômica.
Temos exemplos recentes na Argentina e na Turquia de políticas monetárias absurdamente erradas que pioraram ainda mais a situação já frágil das suas economias. Com isso, até o investidor mais conservador pode perder dinheiro, basta o banco central manter uma politica monetária frouxa em meio às altas dos índices de inflação.
Embora o cenário macroeconômico brasileiro seja mais tranquilo do que nesses países, entre 2014 e 2016 tivemos a pior crise da historia recente justamente por causa de politicas econômicas desorganizadas. E infelizmente nada impede que isso volte a acontecer no Brasil.
O momento atual
Não é novidade que a bolsa dos EUA mostrou resultados muito melhores do que a bolsa brasileira nas últimas décadas. Além disso, mesmo quando olhamos só para dentro do Brasil, vemos que a renda fixa aqui supera a média da bolsa em boa parte do tempo.
Com essas informações é natural que se pense em manter a parcela da carteira de renda variável no exterior e a renda fixa no Brasil. Durante muitos anos isso foi verdade, mas temos dois pontos importantes para levar em consideração atualmente. Primeiro, um investimento que tenha sido bom no passado não garante sua prosperidade no futuro. Em segundo lugar, diferente das duas últimas décadas, a renda fixa americana atualmente paga taxas acima de 5% ao ano dependendo do prazo e emissor dos títulos. Com isso, um investimento em renda fixa nos Estados Unidos pode ser uma boa alternativa ao famoso IPCA + 6 que encontramos aqui no Brasil. Qual vai ser o melhor investimento nos próximos anos, IPCA+6 ou dólar+5?
A verdade é que ninguém tem a resposta para essa pergunta e nem para nenhuma outra que busque prever os investimentos vencedores do futuro. A incerteza vai estar presente durante toda a jornada do investidor, não importa seu estilo de investimento. Justamente por isso é tão importante estar atento aos riscos envolvidos e como se proteger deles.
Por isso é dito no mercado que a diversificação é o único almoço grátis, então aproveite!
*Guilherme Lerosa é economista, administrador de carteiras e sócio da Lerosa Investimentos.
Antes de mirar lucros extraordinários, o investidor deve buscar a manutenção do seu patrimônio ao longo do tempo e a mitigação do risco total da carteira. Para alcançar esse objetivo de forma eficiente realmente é importante a alocação de parte do patrimônio em moeda forte.
Países em desenvolvimento, como o Brasil, são encarados como investimentos de risco para investidores estrangeiros, fazendo com que a relação entre nossos títulos e a taxa de câmbio seja inversa na maioria das vezes. Essa relação por si só já faz com que uma carteira com investimentos no exterior sofra menos com a volatilidade.
O investidor desavisado, então, pode imaginar que basta comprar alguns dólares e sua carteira ficara protegida da volatilidade dos mercados. O problema é que o dólar, como investimento, não foi uma boa alternativa nas ultimas décadas. Claro que ele subiu em relação ao real, mas o desempenho foi muito próximo da inflação, o que é o caminho natural das taxas de câmbio na maioria das vezes.
Sabendo que precisamos ter investimentos em dólar, mas que a moeda por si só não é uma boa alternativa, surge a dúvida: o que fazer com o dinheiro então?
A questão é que existem vários outros motivos para manter parcela dos seus investimentos no exterior. Na hora de montar uma carteira eficiente, a exposição cambial acaba vindo de brinde.
Tamanho dos mercados
Todo mundo deveria investir na bolsa dos EUA, mesmo quem vive em outros países desenvolvidos. Vamos supor que você viva na Suíça. Neste caso, mesmo que você queira investir em outras moedas, essa não é uma preocupação tão grande, afinal o franco suíço também é uma moeda forte. Por outro lado, supondo que você queira investir em ações, enquanto a bolsa suíça tem aproximadamente 2 trilhões de dólares em capitalização de mercado, nos Estados Unidos esse número chega aos US$ 23 trilhões somente na NYSE.
Quando se pensa em mercados acionários, os EUA representam mais de metade de todo valor investido globalmente. Se sua ideia é investimento passivo, com um ETF de S&P 500 sua carteira já esta exposta a aproximadamente 80% do mercado americano, o que significa mais ou menos 40% de todo o mercado global.
Acesso a diversos setores
A diversificação entre diferentes setores da economia é uma parte duplamente importante na gestão de um portfolio de investimentos. Em primeiro lugar, como parte da gestão de risco, é importante não estar muito exposto a nenhum setor específico, uma vez que existem riscos inerentes a cada um deles e que podem ser diminuídos simplesmente acrescentando mais setores na posição.
Outro ponto importante é a composição da rentabilidade da carteira ao longo do tempo. Temos períodos em que algum setor fica responsável por parte substancial dos ganhos de um mercado, enquanto outros setores se mantem estáveis ou até negativos.
O melhor exemplo disso é o setor de tecnologia, que foi extremamente importante para a rentabilidade do S&P 500 nos últimos anos. Entre abril de 2014 e abril de 2024 o índice subiu mais de 3.200 pontos, sendo que aproximadamente 1.400 pontos vieram das principais empresas de tecnologia.
Diversificação de riscos macro
Economias desenvolvidas normalmente se comportam de maneira menos volátil, o que gera mercados mais tranquilos e com menos sustos. Além disso, quanto maior e mais madura a economia de um país, menos suscetível ela fica a possíveis barbeiragens na politica econômica.
Temos exemplos recentes na Argentina e na Turquia de políticas monetárias absurdamente erradas que pioraram ainda mais a situação já frágil das suas economias. Com isso, até o investidor mais conservador pode perder dinheiro, basta o banco central manter uma politica monetária frouxa em meio às altas dos índices de inflação.
Embora o cenário macroeconômico brasileiro seja mais tranquilo do que nesses países, entre 2014 e 2016 tivemos a pior crise da historia recente justamente por causa de politicas econômicas desorganizadas. E infelizmente nada impede que isso volte a acontecer no Brasil.
O momento atual
Não é novidade que a bolsa dos EUA mostrou resultados muito melhores do que a bolsa brasileira nas últimas décadas. Além disso, mesmo quando olhamos só para dentro do Brasil, vemos que a renda fixa aqui supera a média da bolsa em boa parte do tempo.
Com essas informações é natural que se pense em manter a parcela da carteira de renda variável no exterior e a renda fixa no Brasil. Durante muitos anos isso foi verdade, mas temos dois pontos importantes para levar em consideração atualmente. Primeiro, um investimento que tenha sido bom no passado não garante sua prosperidade no futuro. Em segundo lugar, diferente das duas últimas décadas, a renda fixa americana atualmente paga taxas acima de 5% ao ano dependendo do prazo e emissor dos títulos. Com isso, um investimento em renda fixa nos Estados Unidos pode ser uma boa alternativa ao famoso IPCA + 6 que encontramos aqui no Brasil. Qual vai ser o melhor investimento nos próximos anos, IPCA+6 ou dólar+5?
A verdade é que ninguém tem a resposta para essa pergunta e nem para nenhuma outra que busque prever os investimentos vencedores do futuro. A incerteza vai estar presente durante toda a jornada do investidor, não importa seu estilo de investimento. Justamente por isso é tão importante estar atento aos riscos envolvidos e como se proteger deles.
Por isso é dito no mercado que a diversificação é o único almoço grátis, então aproveite!
*Guilherme Lerosa é economista, administrador de carteiras e sócio da Lerosa Investimentos.