A alta na taxa Selic a partir de setembro foi baseada em fatores conjunturais, como a deterioração das expectativas de inflação (Andriy Onufriyenko/Getty Images)
Panorama Econômico
Publicado em 10 de março de 2025 às 19h45.
Última atualização em 11 de março de 2025 às 19h26.
Desde setembro do ano passado, o Banco Central do Brasil iniciou um ciclo importante de contração monetária. A taxa Selic, que estava em 10,50%, foi elevada por quatro reuniões consecutivas até os atuais 13,25% – totalizando 275 pontos-base até a reunião de janeiro. Além disso, há uma alta de 100 bps contratada para a reunião de março, e as estimativas até o momento indicam que a taxa terminal pode superar o patamar de 15%.
A expectativa é que esse ajuste anticíclico promova a desaceleração da atividade doméstica, trazendo alívio para a inflação mais adiante. Apesar de esse aumento do custo de capital esfriar a economia real, para o investidor, ele representa uma oportunidade de elevar os rendimentos nominais do seu portfólio por meio de títulos de renda fixa indexados à Selic, como LCIs, LCAs e certificados bancários. Esses ativos parecem uma escolha óbvia neste momento: além de proporcionarem retornos elevados, são considerados seguros e apresentam baixa volatilidade. Uma análise mais detalhada, no entanto, leva à conclusão de que uma carteira concentrada nesses papéis não é a melhor escolha.
Apesar do bom rendimento e da segurança, há contratempos importantes relacionados à concentração dos investimentos na renda fixa. O principal risco, neste caso, está ligado ao futuro das taxas de juros, mais especificamente ao componente cíclico da política monetária.
Fonte: Lifetime Gestora de Recursos.
A alta na taxa Selic a partir de setembro foi baseada em fatores conjunturais, como a deterioração das expectativas de inflação, com destaque para a pressão da atividade sobre a demanda, bem como o repasse da alta na taxa de câmbio aos alimentos e bens industriais e as incertezas em relação à política fiscal. A evolução histórica das variáveis, no entanto, sugere que, passado o momento mais desafiador, devemos ver adiante uma reversão do ciclo e cortes nas taxas de juros. Os dados desde o ano 2000 mostram que a Selic foi mantida no patamar mais alto de cada ciclo por 5,4 meses, em média.
Se as projeções da pesquisa Focus estiverem corretas, a Selic deve chegar a 15% e se manter nesse patamar por sete meses. À medida que os juros comecem a cair, os papéis indexados à taxa básica de juros perderão sua atratividade, tanto em termos absolutos quanto na comparação com outros produtos. O investidor atento poderia tentar se proteger fazendo a migração entre classes de ativos, levando seus recursos, por exemplo, dos ativos atrelados à Selic para ações de companhias beneficiadas pela redução do custo de capital, bem como para setores impulsionados pelo aumento da perspectiva de receitas decorrente da reaceleração da economia.
Mas acertar o timing correto da mudança não é trivial. O mercado costuma antecipar movimentos de política monetária, e a expectativa de queda de juros é incorporada aos preços dos ativos de risco. Ou seja, quando a reversão do ciclo se concretiza, o momento ideal para adequação das carteiras pode já ter ficado para trás. Além disso, alguns títulos possuem período de carência, o que torna a saída dessas posições mais difíceis.
Falamos sobre a desvantagem da concentração das carteiras em um único ativo. Uma forma de evitar riscos seria atuar na direção contrária e priorizar a diversificação. A aplicação inteligente busca otimizar os retornos dentro do perfil e dos objetivos individuais de cada investidor — ou família — distribuindo os recursos de modo a aproveitar o potencial de cada classe de produto. Dessa forma, é possível que o investidor aproveite as taxas de juros elevadas ao mesmo tempo em que se mantém posicionado em outros produtos, pronto para captar novas oportunidades.
Na história recente, a diversificação de carteiras ajudou os investidores a estarem posicionados de maneira a aproveitar momentos de recuperação do mercado e a mitigar efeitos de eventos adversos, como a greve dos caminhoneiros, a pandemia da COVID-19 e o recente aumento de incertezas fiscais. Uma estratégia equilibrada proporciona ao investidor mais segurança, sem abrir mão da rentabilidade.
Sobre a autora
Marcela Kawauti é economista formada pela USP, com mestrado em Economia e Finanças pela FGV-SP. Possui 20 anos de experiência em pesquisa econômica, educação financeira e gestão de riscos. Atualmente, atua como economista-chefe da Lifetime Gestora de Recursos.