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Por que diversificar investimentos no exterior é tão importante?

Além do horizonte: diversificação internacional ainda é algo a ser explorado no Brasil

BDRs (Jesada Wongsa / EyeEm/Getty Images)
BDRs (Jesada Wongsa / EyeEm/Getty Images)
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Panorama Econômico

Publicado em 31 de maio de 2021 às, 15h51.

Por Ricardo Guimarães Filho

Atualmente, a grande maioria dos portfólios de investimentos disponíveis no Brasil possui quase 100% dos ativos com exposição apenas ao mercado brasileiro.

De acordo com o site Statista, que agrupa dados mundiais de mercado, o Brasil possui hoje, se levado em conta o poder de compra, 2,4% do PIB Global. Isso nos mostra que, em relação ao mundo, os portfólios parecem desbalanceados em termos de exposição. A diversificação internacional e de moedas é fundamental na elaboração de um portfólio completo focando preservação de capital com longo horizonte de investimento.

Se olharmos do ponto de vista cambial, a história recente mostra a grande importância de manter dólares e outras moedas nas carteiras. Desde que o Brasil aprovou o teto dos gastos e deixou de ser exportador de juros globais (período que teve início em 2019), o real tem se desvalorizado constantemente todos os anos. O poder de compra dos portfólios locais que não contemplam outras moedas foi reduzido significativamente, influenciando diretamente na preservação de capital dos investidores.

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Quando analisamos o mercado de ações, uma estatística nos evidencia a importância da diversificação. Desde abril de 2009, período que podemos encarar como o fim da crise financeira global iniciada um ano antes, o índice Bovespa observou uma alta de 193%. Apesar do excelente retorno, quando olhamos para o índice S&P 500 no mesmo período a alta foi de 426,6% em moeda local (sem contar a variação cambial). Se considerarmos o S&P 500 a partir do dólar (incluindo a variação cambial), a performance chega a 1100%. Como curiosidade, o CDI para o período foi de 181%, um retorno próximo ao do Ibovespa.

China e Estados Unidos hoje possuem, combinados, quase 40% do PIB global. É de extrema importância que os portfólios das famílias investidoras tenham exposições a esses mercados, bem como a outros países que se beneficiarão do crescimento alavancado por eles, por exemplo os do continente asiático. Muito provavelmente esses dois países seguirão puxando o crescimento global nas próximas décadas. A China possui hoje 35% da classe média global, mas em 2030 já terá cerca de 65%. Além disso a China forma por ano tantos engenheiros quanto o resto do mundo somado. Os EUA, por sua vez, seguirão possuindo boa parte do capital intelectual e tecnológico do mundo.

Do ponto de vista técnico, quando olhamos para o MSCI World Index, os EUA contam com cerca de 67% da composição deste índice global de ações enquanto a China tem menos de 15%. Essa divisão não condiz com as respectivas participações no PIB Global: China 18% e EUA 16%. É bem plausível imaginar que, com o desenvolvimento das regras no mercado local de ações chinês, o fluxo de capital para balanceamento dessa distorção deve ser grande nos próximos anos.

Preservação de capital não é apenas rentabilidade positiva nos portfólios, mas sim a manutenção da relevância deles perante o mundo. Os exemplos já citados mostram a grande importância de ter um portfólio diversificado globalmente. Nos últimos 24 meses, a despeito da pandemia, o mercado local observou um enorme desenvolvimento trazendo grandes gestores e produtos internacionais para o Brasil tanto em renda fixa como renda variável e hedge funds. Os produtos geralmente são encontrados tanto nas versões BRL (quando não há impacto da variação cambial) quanto na versão em dólar. Cabe ao investidor e ao seu advisor escolherem a melhor alocação dos ativos dentro do objetivo de longo prazo de cada um.

*Ricardo Guimarães Filho, CFP®  é Sócio fundador e CIO da Vita Investimentos. Formado em Engenharia Civil pela POLI-USP, trabalhou por 12 anos entre São Paulo e Nova Iorque nas tesourarias dos bancos Macquarie Bank, Morgan Stanley e Goldman Sachs – neste último como Co-Head de derivativos para mercados emergentes. Em dezembro de 2016 fundou a Vita, onde é o responsável pela seleção e a recomendação de investimentos para os clientes. A Vita Investimentos é um Multi Family Office, com escritórios no Brasil e EUA, focado em consultoria de investimentos e planejamento financeiro