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Pagaremos a conta da gastança dos Bancos Centrais?

"Passado o pior momento da pandemia, sem discutir acertos e erros dos governos, é chegada a hora de pagar esta conta"

(Image Source/Getty Images)
DR

Da Redação

Publicado em 20 de junho de 2022 às 19h43.

Por Eduardo Tellechea Cairoli*

Após a crise de 2008, o mundo passou por um processo de aceleração de estímulos feito pelos Bancos Centrais (BCs). Esses baixaram os juros, injetaram moeda nova e compraram títulos podres, dentre muitas outras ações. O que se viu, então, foi um processo de alavancagem, onde se criou dinheiro. E a consequência foi o aumento da liquidez no mundo e a enorme valorização dos ativos.

A gastança dos BCs avançou ainda mais com a chegada da pandemia do novo coronavírus, a partir de 2020. Para enfrentar os efeitos da Covid-19, foi injetado 25% dos dólares hoje existentes no planeta. Por aí se pode ter ideia dos estímulos econômicos gigantescos em um ano, que tiveram a combinação de muitos outros incentivos financeiros ao consumo, sem pensar junto a produção.

Passado o pior momento da pandemia, sem discutir acertos e erros dos governos, é chegada a hora de pagar esta conta.

Já estamos vivendo em um mundo em que a regra é a inflação alta, descompasso na economia e juros subindo em países desenvolvidos que não passavam por esse desafio há uma geração. É uma combinação de fatores que traz imensos desafios para os governos, empresas, investidores e também consumidores.

Como esforço para estancar a enxurrada inflacionária, passamos hoje por um processo de desalavancagem: a “destruição de dinheiro” iniciou, ainda que timidamente, e veremos a liquidez minguando cada vez mais. Isso ocasionará uma nova ordem econômica, inclusive com maiores pressões geopolíticas, beneficiando a vinda dos investimentos para o Brasil em detrimento a outras regiões como o leste asiático e a Europa oriental, destino dos últimos 25 anos.

Um pouco de dados da maior economia do planeta para ilustrar esta lógica. O mercado esperava um PIB no primeiro trimestre dos EUA positivo em 1,1%; veio -1,5%, mas com demanda doméstica forte e investimentos privados. O CPI (índice de preço ao consumidor) informado em maio acumula alta de 8,6% nos últimos doze meses, o maior para este indicador desde 1981. Desta forma, juros terão que subir ainda mais, dentre outros remédios amargos.

Ainda nos Estados Unidos, o mercado de trabalho está aquecidíssimo, com salários subindo, devido ao déficit de mão de obra em relação ao número de vagas disponíveis, evento que não acontecia desde a década de 70. Ora, famílias com poder de compra, inflação altíssima, e PIB em retração, é um grande desafio. A economia tem que desacelerar, e o FED já anunciou a retirada de estímulos, em alta magnitude.

No Brasil, alguns aspectos são parecidos, como a inflação em alta, os juros ainda em trajetória de subida e o mercado de trabalho com dificuldades para encontrar mão de obra especializada. O que pode frear este banho de água fria na economia? A tendência é que a menor liquidez no mundo, com preços e múltiplos em queda, possam dar um alívio, até que os BCs consigam colocar as coisas em ordem. Tendem, pois nada é certo nesse mundo até acontecer.

Biografia Eduardo Tellechea Cairoli é fundador da Privatto Multi Family Office, um dos principais family offices do Brasil e o mais tradicional do Rio Grande do Sul.

Por Eduardo Tellechea Cairoli*

Após a crise de 2008, o mundo passou por um processo de aceleração de estímulos feito pelos Bancos Centrais (BCs). Esses baixaram os juros, injetaram moeda nova e compraram títulos podres, dentre muitas outras ações. O que se viu, então, foi um processo de alavancagem, onde se criou dinheiro. E a consequência foi o aumento da liquidez no mundo e a enorme valorização dos ativos.

A gastança dos BCs avançou ainda mais com a chegada da pandemia do novo coronavírus, a partir de 2020. Para enfrentar os efeitos da Covid-19, foi injetado 25% dos dólares hoje existentes no planeta. Por aí se pode ter ideia dos estímulos econômicos gigantescos em um ano, que tiveram a combinação de muitos outros incentivos financeiros ao consumo, sem pensar junto a produção.

Passado o pior momento da pandemia, sem discutir acertos e erros dos governos, é chegada a hora de pagar esta conta.

Já estamos vivendo em um mundo em que a regra é a inflação alta, descompasso na economia e juros subindo em países desenvolvidos que não passavam por esse desafio há uma geração. É uma combinação de fatores que traz imensos desafios para os governos, empresas, investidores e também consumidores.

Como esforço para estancar a enxurrada inflacionária, passamos hoje por um processo de desalavancagem: a “destruição de dinheiro” iniciou, ainda que timidamente, e veremos a liquidez minguando cada vez mais. Isso ocasionará uma nova ordem econômica, inclusive com maiores pressões geopolíticas, beneficiando a vinda dos investimentos para o Brasil em detrimento a outras regiões como o leste asiático e a Europa oriental, destino dos últimos 25 anos.

Um pouco de dados da maior economia do planeta para ilustrar esta lógica. O mercado esperava um PIB no primeiro trimestre dos EUA positivo em 1,1%; veio -1,5%, mas com demanda doméstica forte e investimentos privados. O CPI (índice de preço ao consumidor) informado em maio acumula alta de 8,6% nos últimos doze meses, o maior para este indicador desde 1981. Desta forma, juros terão que subir ainda mais, dentre outros remédios amargos.

Ainda nos Estados Unidos, o mercado de trabalho está aquecidíssimo, com salários subindo, devido ao déficit de mão de obra em relação ao número de vagas disponíveis, evento que não acontecia desde a década de 70. Ora, famílias com poder de compra, inflação altíssima, e PIB em retração, é um grande desafio. A economia tem que desacelerar, e o FED já anunciou a retirada de estímulos, em alta magnitude.

No Brasil, alguns aspectos são parecidos, como a inflação em alta, os juros ainda em trajetória de subida e o mercado de trabalho com dificuldades para encontrar mão de obra especializada. O que pode frear este banho de água fria na economia? A tendência é que a menor liquidez no mundo, com preços e múltiplos em queda, possam dar um alívio, até que os BCs consigam colocar as coisas em ordem. Tendem, pois nada é certo nesse mundo até acontecer.

Biografia Eduardo Tellechea Cairoli é fundador da Privatto Multi Family Office, um dos principais family offices do Brasil e o mais tradicional do Rio Grande do Sul.

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