Paciência é garantia de bons negócios no futuro
Até que ponto vale a pena subordinar o presente ao futuro ou vice-versa?
Da Redação
Publicado em 30 de novembro de 2022 às 13h57.
Última atualização em 30 de novembro de 2022 às 14h39.
Por Leonardo Bivar*
Entre os anos de 1968 e 1974, o psicólogo e professor da Universidade de Stanford, Walter Mischel, realizou um dos estudos científicos mais discutidos em livros e artigos sobre o comportamento humano até hoje. Esse estudo ficou conhecido como o Experimento do Marshmallow.
Mischel e seu time testaram várias crianças do pré-escolar, com idades entre 4 e 5 anos, colocando-as em uma sala privada e oferecendo-as biscoito, marshmallow e pretzel. As crianças podiam comer uma única unidade da guloseima escolhida, mas se esperassem por quinze minutos sem cair na tentação, seriam recompensadas com uma segunda. Foi observado que as crianças usavam diversos tipos de mecanismos de não enfrentamento, umas cobriam os olhos com as mãos, olhavam para o espelho ou falavam consigo mesmas evitando olhar para os doces, já outras começavam a comer tão logo os pesquisadores saiam da sala.
O experimento tinha como objetivo mensurar a habilidade da criança em postergar recompensa ou em outros termos, ter um controle sobre gratificações.
Os resultados de acompanhamento, após anos da realização do experimento, sugeriram que as crianças que foram muito mais propensas a esperar pela recompensa apresentaram uma correlação positiva e significante nas notas do SAT (exame usado para admissão na faculdade), melhor nível de massa corporal e habilidade para lidar com estresse, além de maior atividade no córtex pré-frontal e maior sucesso em suas carreiras profissionais.
Críticas sobre o estudo aponta que o experimento do Marshmallow cai na mesma armadilha de vários outros estudos científicos em campos, como psicologia, sociologia e economia que falham em reproduzir o experimento quando outros pesquisadores os conduzem, a chamada “Crise de Reprodutibilidade”. Isso não significa que não podemos identificar padrões confiáveis onde podemos vincular ação a resultados, e que o exercício do autocontrole não seja um importante fator de contribuição para o sucesso pessoal.
As crianças do experimento que mostraram um alto nível de controle de gratificação, tinham um objetivo específico em mente. Um objetivo claro de esperar para obter o dobro dos retornos. Infelizmente, esse caso não é uma regra geral. Muitos ainda não se preocupam em desenhar uma meta financeira frente a importância e influência que o dinheiro tem em todos os aspectos da vida.
Investir é uma tarefa muito complexa e difícil. Cada indivíduo lida com dinheiro de uma forma bem particular e encara sua aplicabilidade e representatividade de forma bem distante às vezes. Investir acaba sendo uma tarefa de autoconhecimento, onde os aspectos comportamentais acabam sendo mais importantes do que o conhecimento técnico.
E até que ponto vale a pena subordinar o presente ao futuro ou vice-versa? E como lidar com um mundo cada vez mais inundado de estímulos dopaminérgicos por gratificação instantânea e validação socia? É uma nova realidade na qual estamos conectados mais a máquinas do que a pessoas de uma maneira que jamais aconteceu na história da humanidade.
Em seu livro o “Valor do Amanhã”, Eduardo Giannetti explica que “a vida é um intervalo finito de duração indefinida. A combinação desses dois elementos—a certeza da finitude e a indeterminação do caminho até ela—acarreta um mundo de implicações e possibilidades”.
Ter uma visão a longo prazo parece ter perdido um pouco o apelo. Talvez por ser um tema muito batido, apesar de não ter nada de errado em ter uma visão de curto prazo ou objetivos e metas com horizontes diferentes - sendo muito particular do momento de vida de cada um. Mas, é de senso comum que as estratégias de longo prazo estão diretamente associadas a retornos acima da média. Isso não implica em uma abordagem estática ou manter posições que já não fazem mais sentido em um novo cenário proposto.
Keynes, que chegou a comparar o mercado acionário com um concurso de beleza e atribuiu a característica das flutuações dos preços a “espíritos animais”, teve um desempenho espetacular, como gestor do fundo da Cambridge University. Principalmente na segunda metade do seu mandato onde, entre os anos de 1931 e 1946, conseguiu obter um retorno anualizado de 18,84%.
Ao ser criticado pela mudança na sua abordagem de alocação top-down (macro orientado) para a bottow-up (seleção de ativos específicos), muitos ainda hoje creditam a Keynes a famosa frase: “Quando os fatos mudam, eu mudo de ideia. E o senhor? O que senhor faz?”.
O que precisamos sempre ter em mente é que a alocação estratégica de um portfólio precisa estar muito bem alinhada com o horizonte dos nossos objetivos. Sem um plano detalhado e um acompanhamento constante, acabamos nos frustrando com um portfólio desalinhado com as nossas expectativas. Obviamente que não tão menos importante está a definição do perfil de risco e a diversificação em classes macro de ativos, na qual pouco é mais importante do que entender que classe de ativo se está alocando. Mas, esse é um assunto para um próximo tema.
Leonardo Bivar é sócio fundador da Sonora Capital que possui mais de 20 anos no mercado de capitais. Possui MBA internacional em gestão financeira, controladoria e auditoria pela FGV-UCI, pós-graduação em operações em comércio exterior pela Universidade da California e a certificação ANBIMA de especialistas em investimentos.
Por Leonardo Bivar*
Entre os anos de 1968 e 1974, o psicólogo e professor da Universidade de Stanford, Walter Mischel, realizou um dos estudos científicos mais discutidos em livros e artigos sobre o comportamento humano até hoje. Esse estudo ficou conhecido como o Experimento do Marshmallow.
Mischel e seu time testaram várias crianças do pré-escolar, com idades entre 4 e 5 anos, colocando-as em uma sala privada e oferecendo-as biscoito, marshmallow e pretzel. As crianças podiam comer uma única unidade da guloseima escolhida, mas se esperassem por quinze minutos sem cair na tentação, seriam recompensadas com uma segunda. Foi observado que as crianças usavam diversos tipos de mecanismos de não enfrentamento, umas cobriam os olhos com as mãos, olhavam para o espelho ou falavam consigo mesmas evitando olhar para os doces, já outras começavam a comer tão logo os pesquisadores saiam da sala.
O experimento tinha como objetivo mensurar a habilidade da criança em postergar recompensa ou em outros termos, ter um controle sobre gratificações.
Os resultados de acompanhamento, após anos da realização do experimento, sugeriram que as crianças que foram muito mais propensas a esperar pela recompensa apresentaram uma correlação positiva e significante nas notas do SAT (exame usado para admissão na faculdade), melhor nível de massa corporal e habilidade para lidar com estresse, além de maior atividade no córtex pré-frontal e maior sucesso em suas carreiras profissionais.
Críticas sobre o estudo aponta que o experimento do Marshmallow cai na mesma armadilha de vários outros estudos científicos em campos, como psicologia, sociologia e economia que falham em reproduzir o experimento quando outros pesquisadores os conduzem, a chamada “Crise de Reprodutibilidade”. Isso não significa que não podemos identificar padrões confiáveis onde podemos vincular ação a resultados, e que o exercício do autocontrole não seja um importante fator de contribuição para o sucesso pessoal.
As crianças do experimento que mostraram um alto nível de controle de gratificação, tinham um objetivo específico em mente. Um objetivo claro de esperar para obter o dobro dos retornos. Infelizmente, esse caso não é uma regra geral. Muitos ainda não se preocupam em desenhar uma meta financeira frente a importância e influência que o dinheiro tem em todos os aspectos da vida.
Investir é uma tarefa muito complexa e difícil. Cada indivíduo lida com dinheiro de uma forma bem particular e encara sua aplicabilidade e representatividade de forma bem distante às vezes. Investir acaba sendo uma tarefa de autoconhecimento, onde os aspectos comportamentais acabam sendo mais importantes do que o conhecimento técnico.
E até que ponto vale a pena subordinar o presente ao futuro ou vice-versa? E como lidar com um mundo cada vez mais inundado de estímulos dopaminérgicos por gratificação instantânea e validação socia? É uma nova realidade na qual estamos conectados mais a máquinas do que a pessoas de uma maneira que jamais aconteceu na história da humanidade.
Em seu livro o “Valor do Amanhã”, Eduardo Giannetti explica que “a vida é um intervalo finito de duração indefinida. A combinação desses dois elementos—a certeza da finitude e a indeterminação do caminho até ela—acarreta um mundo de implicações e possibilidades”.
Ter uma visão a longo prazo parece ter perdido um pouco o apelo. Talvez por ser um tema muito batido, apesar de não ter nada de errado em ter uma visão de curto prazo ou objetivos e metas com horizontes diferentes - sendo muito particular do momento de vida de cada um. Mas, é de senso comum que as estratégias de longo prazo estão diretamente associadas a retornos acima da média. Isso não implica em uma abordagem estática ou manter posições que já não fazem mais sentido em um novo cenário proposto.
Keynes, que chegou a comparar o mercado acionário com um concurso de beleza e atribuiu a característica das flutuações dos preços a “espíritos animais”, teve um desempenho espetacular, como gestor do fundo da Cambridge University. Principalmente na segunda metade do seu mandato onde, entre os anos de 1931 e 1946, conseguiu obter um retorno anualizado de 18,84%.
Ao ser criticado pela mudança na sua abordagem de alocação top-down (macro orientado) para a bottow-up (seleção de ativos específicos), muitos ainda hoje creditam a Keynes a famosa frase: “Quando os fatos mudam, eu mudo de ideia. E o senhor? O que senhor faz?”.
O que precisamos sempre ter em mente é que a alocação estratégica de um portfólio precisa estar muito bem alinhada com o horizonte dos nossos objetivos. Sem um plano detalhado e um acompanhamento constante, acabamos nos frustrando com um portfólio desalinhado com as nossas expectativas. Obviamente que não tão menos importante está a definição do perfil de risco e a diversificação em classes macro de ativos, na qual pouco é mais importante do que entender que classe de ativo se está alocando. Mas, esse é um assunto para um próximo tema.
Leonardo Bivar é sócio fundador da Sonora Capital que possui mais de 20 anos no mercado de capitais. Possui MBA internacional em gestão financeira, controladoria e auditoria pela FGV-UCI, pós-graduação em operações em comércio exterior pela Universidade da California e a certificação ANBIMA de especialistas em investimentos.