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O que podemos esperar de 2023?

O contexto global diante das mudanças que estão por vir

(Ira Heuvelman-Dobrolyubova/Getty Images)
DR

Da Redação

Publicado em 19 de dezembro de 2022 às 16h03.

Em dezembro, sempre são publicados inúmeros relatórios tentando prever como será o mercado no próximo ano. Tarefa muito difícil dada a miríade de variáveis a serem consideradas. Por mais completo e minucioso que seja o trabalho de fazer projeções, a margem de erro é sempre muito grande e somos frequentemente surpreendidos em maior ou menor grau. Mas, enfim, vivemos com o que temos. Trabalhamos com os dados que estão disponíveis e sensibilizamos nossas projeções dentro dos limites da razoabilidade. Nesse contexto, algumas conclusões são mais óbvias, outras nem tanto. O mais importante é não criar falsas ilusões.

Pelo que tudo indica o próximo ano, e os anos que se seguem, não serão fáceis. Apesar da inflação americana parecer já ter feito o seu pico e estar em declínio, ela ficará acima do target por alguns anos. O processo de desinflação daqui pra frente será lento. E o mundo terá que conviver com mais inflação provocada pela desglobalização, pela redução da mão-de-obra e pela descarbonização. Essas são tendências claras dentro do que conseguimos enxergar hoje. Sem falar que o governo americano precisa de inflação para equacionar sua dívida.

Nos Estados Unidos

Em 2020, em função da pandemia, os Estados Unidos aumentaram seus gastos, jorraram dinheiro na economia e inflacionaram os preços de todos os ativos. Em 2021, assistimos então ao chamado "Everything Bubble”, todos os ativos supervalorizados e o governo se beneficiando de uma receita com impostos igualmente farta. Em 2022, caiu o pano.  A relação dívida/PIB americano passou de 120% e o governo tem operado com déficits mensais elevados. A questão para 2023 é sobre como esse deficit será financiado e, sobretudo, a que preço será financiado. Lembrar que Rússiae Chinanão são mais os compradores vorazes das Treasuries americanas. Como atrair compradores para as Treasuries? Aí vem o gargalo: a taxa básica de curto prazo americana, que hoje está em  4.25%-4.5%, será, como projetam, pelo menos 5%?

Os Estados Unidos não conseguem pagar esse preço, teriam que tolerar mais inflação por mais tempo para desvalorizar a dívida. Um círculo vicioso difícil de resolver. Quando a inflação era baixa, era fácil. Agora é bem mais complicado. Por tudo isso, é razoável assumir que a taxa de juros americana já esteja se aproximando do pico e que comprar juros americanos possa ser uma boa oportunidade, diferente de ações, que ainda podem sofrer e devolver os ganhos auferidos no rally de outubro/novembro.

Na China

É grande a expectativa de que a economia volte a crescer com mais força em função da flexibilização do política de Zero-Covid. Por outro lado, temos que ficar atentos a como será a evolução disso. Afinal, não sabemos como o governo chinês e os próprios chineses reagirão caso haja aumento exagerado do números de casos. Será que o crescimento da China em 2023 vai superar em muito o crescimento de 2022 e chegar mais próximo aos 5%?  Não sabemos, mas parece razoável assumir que o crescimento do país não será o grande sustentáculo da economia global por muito mais tempo.

A guerra entre Russia e Ucrânia vai continuar e alguns especialistas acreditam que deve haver um acirramento das tensões já em janeiro quando os russos aproveitarão o frio para atacar centrais de energia da Ucrânia.  Ao que tudo indica, essa guerra será longa e o preço do petróleo tem tudo para voltar a subir e ficar mais próximo dos USD100/barril. A queda recente que temos visto (preço caiu a USD 75/barril) está muito mais relacionada a uma inversão da estrutura de preços que está saindo de backwardation (quando os preços dos contratos futuros estão abaixo do preço à vista) e entrando em Contango (quando os preços dos contratos futuros estão acima do preço à vista), e também a um aumento de produção pré-período de manutenção das refinarias, do que função da recessão que teremos pela frente. No médio prazo, conforme as projeções globais de oferta e demanda, o preço do petróleo é para cima.

No Brasil

Já no Brasil, as incertezas vão se transformando em certezas desconfortáveis, especialmente no tocante à facilidade com que nosso legislativo aprova emendas constitucionais. Avanços que levam anos para se conquistar são desfeitos num estalar de dedos. A verdade é que nossas leis estão sempre expostas a um grande balcão de negociações. O governo eleito age como se não tivesse aprendido com as lições do passado e parece querer insistir em um programa político que já se mostrou errado. Somos tudo menos o "País do Futuro”. Essa ilusão a gente não deve ter. E isso não é apenas porque nossa situação fiscal está ameaçada. A questão é bem mais ampla e grave. Nossa economia é grande, temos nossas forças, mas daí a acreditar que estamos posicionados para a construção de um futuro melhor, vai uma distância. Por enquanto, tudo indica que o Brasil seguirá sua tradição de ser campeão de juros e oferecer grandes oportunidades de investimentos em renda fixa para os rentistas

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Em dezembro, sempre são publicados inúmeros relatórios tentando prever como será o mercado no próximo ano. Tarefa muito difícil dada a miríade de variáveis a serem consideradas. Por mais completo e minucioso que seja o trabalho de fazer projeções, a margem de erro é sempre muito grande e somos frequentemente surpreendidos em maior ou menor grau. Mas, enfim, vivemos com o que temos. Trabalhamos com os dados que estão disponíveis e sensibilizamos nossas projeções dentro dos limites da razoabilidade. Nesse contexto, algumas conclusões são mais óbvias, outras nem tanto. O mais importante é não criar falsas ilusões.

Pelo que tudo indica o próximo ano, e os anos que se seguem, não serão fáceis. Apesar da inflação americana parecer já ter feito o seu pico e estar em declínio, ela ficará acima do target por alguns anos. O processo de desinflação daqui pra frente será lento. E o mundo terá que conviver com mais inflação provocada pela desglobalização, pela redução da mão-de-obra e pela descarbonização. Essas são tendências claras dentro do que conseguimos enxergar hoje. Sem falar que o governo americano precisa de inflação para equacionar sua dívida.

Nos Estados Unidos

Em 2020, em função da pandemia, os Estados Unidos aumentaram seus gastos, jorraram dinheiro na economia e inflacionaram os preços de todos os ativos. Em 2021, assistimos então ao chamado "Everything Bubble”, todos os ativos supervalorizados e o governo se beneficiando de uma receita com impostos igualmente farta. Em 2022, caiu o pano.  A relação dívida/PIB americano passou de 120% e o governo tem operado com déficits mensais elevados. A questão para 2023 é sobre como esse deficit será financiado e, sobretudo, a que preço será financiado. Lembrar que Rússiae Chinanão são mais os compradores vorazes das Treasuries americanas. Como atrair compradores para as Treasuries? Aí vem o gargalo: a taxa básica de curto prazo americana, que hoje está em  4.25%-4.5%, será, como projetam, pelo menos 5%?

Os Estados Unidos não conseguem pagar esse preço, teriam que tolerar mais inflação por mais tempo para desvalorizar a dívida. Um círculo vicioso difícil de resolver. Quando a inflação era baixa, era fácil. Agora é bem mais complicado. Por tudo isso, é razoável assumir que a taxa de juros americana já esteja se aproximando do pico e que comprar juros americanos possa ser uma boa oportunidade, diferente de ações, que ainda podem sofrer e devolver os ganhos auferidos no rally de outubro/novembro.

Na China

É grande a expectativa de que a economia volte a crescer com mais força em função da flexibilização do política de Zero-Covid. Por outro lado, temos que ficar atentos a como será a evolução disso. Afinal, não sabemos como o governo chinês e os próprios chineses reagirão caso haja aumento exagerado do números de casos. Será que o crescimento da China em 2023 vai superar em muito o crescimento de 2022 e chegar mais próximo aos 5%?  Não sabemos, mas parece razoável assumir que o crescimento do país não será o grande sustentáculo da economia global por muito mais tempo.

A guerra entre Russia e Ucrânia vai continuar e alguns especialistas acreditam que deve haver um acirramento das tensões já em janeiro quando os russos aproveitarão o frio para atacar centrais de energia da Ucrânia.  Ao que tudo indica, essa guerra será longa e o preço do petróleo tem tudo para voltar a subir e ficar mais próximo dos USD100/barril. A queda recente que temos visto (preço caiu a USD 75/barril) está muito mais relacionada a uma inversão da estrutura de preços que está saindo de backwardation (quando os preços dos contratos futuros estão abaixo do preço à vista) e entrando em Contango (quando os preços dos contratos futuros estão acima do preço à vista), e também a um aumento de produção pré-período de manutenção das refinarias, do que função da recessão que teremos pela frente. No médio prazo, conforme as projeções globais de oferta e demanda, o preço do petróleo é para cima.

No Brasil

Já no Brasil, as incertezas vão se transformando em certezas desconfortáveis, especialmente no tocante à facilidade com que nosso legislativo aprova emendas constitucionais. Avanços que levam anos para se conquistar são desfeitos num estalar de dedos. A verdade é que nossas leis estão sempre expostas a um grande balcão de negociações. O governo eleito age como se não tivesse aprendido com as lições do passado e parece querer insistir em um programa político que já se mostrou errado. Somos tudo menos o "País do Futuro”. Essa ilusão a gente não deve ter. E isso não é apenas porque nossa situação fiscal está ameaçada. A questão é bem mais ampla e grave. Nossa economia é grande, temos nossas forças, mas daí a acreditar que estamos posicionados para a construção de um futuro melhor, vai uma distância. Por enquanto, tudo indica que o Brasil seguirá sua tradição de ser campeão de juros e oferecer grandes oportunidades de investimentos em renda fixa para os rentistas

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