O que as oscilações do mercado têm a nos dizer?
Após junho fechar como sendo o pior semestre dos últimos 70 anos, com S&P e Nasdaq caindo mais de 20%, houve uma considerável mudança no mês de julho
Da Redação
Publicado em 1 de agosto de 2022 às 18h11.
Última atualização em 1 de agosto de 2022 às 20h02.
Após junho fechar o pior semestre dos últimos 70 anos, com S&P e Nasdaq (índices da bolsa americana) caindo 20,58% e 29,51%, houve uma considerável mudança no mês de julho quando os mesmos índices deram um bom alívio e subiram 9,11% e 12,35%, respectivamente. Em relação a essa mudança, a interpretação generalizada é de que a subida de julho ocorreu em função de dois fatores: os bons lucros das empresas americanas - que no 2º trimestre vieram acima do esperado - e o aparente desaquecimento da economia americana - que apresentou seu segundo PIB trimestral negativo (recessão técnica) -. Isso fez com que o FED (sistema de bancos centrais dos Estados Unidos), sinalizasse um certo arrefecimento no aumento dos juros, chegando inclusive a dizer que já alcançou a taxa neutra.
Será que a taxa neutra foi de fato atingida?
Afirmação no mínimo curiosa, tendo em vista que a inflação americana ainda está alta. O último dado mensal foi de 1,0% e o acumulado em 12 meses chega a 6,8%, com núcleo em 0,6% no mês de junho e 4,8% em 12 meses. Além disso, o mercado de trabalho continua apertado, o número de vagas de trabalho segue aumentando, a falta de mão de obra segue colocando pressão altista nos salários e o desemprego continua sendo o mais baixo de todos os tempos, correspondendo a 3,6%. Portanto, até aqui, nenhum indício de recessão. Mas ok, é verdade que alguns dados recessivos começam a aparecer, vejamos: houve uma redução nos estoques de bens em função do arrefecimento na demanda, queda de 3% nos investimentos privados e espera-se que isso chegue de forma mais forte no setor imobiliário, até recentemente superaquecido, mas que já começa a apresentar sinais de desaceleração. E, por fim, se observarmos o ocorrido nos anos 70 - a década que muitos especialistas têm usado como referência para análises do cenário atual -, a criação de empregos continuou alta por meses após a recessão ter sido instalada no ano de 1973.
Com essa questão da recessão ainda tão indefinida, a recuperação observada em julho não deve ser encarada, pelo menos por enquanto, como uma tendência sólida de recuperação dos mercados. Não podemos esquecer que é muito comum termos valorizações pontuais durante um ciclo de baixa. Creio que os mercados estão tão exauridos pelas notícias ruins, que qualquer sinalização positiva acaba gerando uma reação exagerada impulsionada mais por wishful thinking do que por fundamentos.
Além disso, hoje parece haver uma assimetria desfavorável e uma boa probabilidade de assistirmos a uma nova queda. Afinal, se a economia americana surpreender positivamente no 3º trimestre, o FED se verá obrigado a adotar uma posição mais hawkish e subir mais os juros, fazendo com que o mercado de ações caia. Se, ao contrário, a economia americana entrar em recessão mais forte, isso também será ruim para o mercado de ações. Ainda existe muita dúvida sobre a profundidade e a duração da recessão, ainda que a maioria hoje aposte que será leve e curta. Melhor aguardar por mais dados antes de fazer um posicionamento mais ousado em relação às ações lá fora.
Onde apostar diante desse cenário instável?
No médio e longo prazo, não tenho dúvidas de que apostar na economia americana é a melhor opção disponível. Afinal, um PIB de USD 24 Trilhões, com alta produtividade e foco em inovação, tende a atropelar as idiossincrasias políticas que fazem de tudo para atrapalhar. Agora, também não adianta tentar acertar o timing de entrada. Escolher ações bem descontadas de empresas sólidas que sairão ainda mais fortes da recessão, qualquer que seja a recessão, é a melhor opção. Elas estarão, com certeza, no grupo de geradoras de valor mais à frente.
Gostaria de dizer o mesmo sobre o Brasil e as ações de empresas brasileiras. Mas a verdade é que nosso PIB de USD1.6 trilhões tem perdido a batalha e segue muito abaixo do seu potencial, esmagado por um Estado ainda pesado, mesmo que agora, felizmente, menor do que há 6 anos atrás, ineficiente e inescrupuloso, gerando um ambiente de negócios ainda muito desfavorável a investimentos à altura de um país capitalista. É frustrante assistir ao vai e vem do capital oportunista a cada eleição, a cada ‘notícia bomba’ que emitimos ou a qualquer evento externo que puxe capital para os países desenvolvidos. Os ditos Emerging Markets, ao qual pertencemos, perderam USD 38 Bilhões nos últimos 5 meses.
Quando vamos sair dessa classe promissora que emerge, afunda e nunca se consolida?
A China continua no grupo mas nos ultrapassou na década de 1980 e hoje tem um PIB de USD 17 Trilhões. Temos tantas riquezas naturais, uma matriz energética limpíssima se comparada a qualquer outra economia relevante, temos riqueza humana com força de trabalho e criatividade abundantes e nossa agricultura pujante nos coloca em posição estratégica para a garantia do food security global, que hoje tanto preocupa e só tende a se agravar. A guerra trouxe mais atenção às questões de nutrição e de energia, mas não podemos nos enganar: independente da guerra, essas questões vieram para ficar e vão se acirrar nas próximas décadas. Ótima oportunidade para o Brasil se destacar. Até quando vamos continua r emerging e submerging?
Após junho fechar o pior semestre dos últimos 70 anos, com S&P e Nasdaq (índices da bolsa americana) caindo 20,58% e 29,51%, houve uma considerável mudança no mês de julho quando os mesmos índices deram um bom alívio e subiram 9,11% e 12,35%, respectivamente. Em relação a essa mudança, a interpretação generalizada é de que a subida de julho ocorreu em função de dois fatores: os bons lucros das empresas americanas - que no 2º trimestre vieram acima do esperado - e o aparente desaquecimento da economia americana - que apresentou seu segundo PIB trimestral negativo (recessão técnica) -. Isso fez com que o FED (sistema de bancos centrais dos Estados Unidos), sinalizasse um certo arrefecimento no aumento dos juros, chegando inclusive a dizer que já alcançou a taxa neutra.
Será que a taxa neutra foi de fato atingida?
Afirmação no mínimo curiosa, tendo em vista que a inflação americana ainda está alta. O último dado mensal foi de 1,0% e o acumulado em 12 meses chega a 6,8%, com núcleo em 0,6% no mês de junho e 4,8% em 12 meses. Além disso, o mercado de trabalho continua apertado, o número de vagas de trabalho segue aumentando, a falta de mão de obra segue colocando pressão altista nos salários e o desemprego continua sendo o mais baixo de todos os tempos, correspondendo a 3,6%. Portanto, até aqui, nenhum indício de recessão. Mas ok, é verdade que alguns dados recessivos começam a aparecer, vejamos: houve uma redução nos estoques de bens em função do arrefecimento na demanda, queda de 3% nos investimentos privados e espera-se que isso chegue de forma mais forte no setor imobiliário, até recentemente superaquecido, mas que já começa a apresentar sinais de desaceleração. E, por fim, se observarmos o ocorrido nos anos 70 - a década que muitos especialistas têm usado como referência para análises do cenário atual -, a criação de empregos continuou alta por meses após a recessão ter sido instalada no ano de 1973.
Com essa questão da recessão ainda tão indefinida, a recuperação observada em julho não deve ser encarada, pelo menos por enquanto, como uma tendência sólida de recuperação dos mercados. Não podemos esquecer que é muito comum termos valorizações pontuais durante um ciclo de baixa. Creio que os mercados estão tão exauridos pelas notícias ruins, que qualquer sinalização positiva acaba gerando uma reação exagerada impulsionada mais por wishful thinking do que por fundamentos.
Além disso, hoje parece haver uma assimetria desfavorável e uma boa probabilidade de assistirmos a uma nova queda. Afinal, se a economia americana surpreender positivamente no 3º trimestre, o FED se verá obrigado a adotar uma posição mais hawkish e subir mais os juros, fazendo com que o mercado de ações caia. Se, ao contrário, a economia americana entrar em recessão mais forte, isso também será ruim para o mercado de ações. Ainda existe muita dúvida sobre a profundidade e a duração da recessão, ainda que a maioria hoje aposte que será leve e curta. Melhor aguardar por mais dados antes de fazer um posicionamento mais ousado em relação às ações lá fora.
Onde apostar diante desse cenário instável?
No médio e longo prazo, não tenho dúvidas de que apostar na economia americana é a melhor opção disponível. Afinal, um PIB de USD 24 Trilhões, com alta produtividade e foco em inovação, tende a atropelar as idiossincrasias políticas que fazem de tudo para atrapalhar. Agora, também não adianta tentar acertar o timing de entrada. Escolher ações bem descontadas de empresas sólidas que sairão ainda mais fortes da recessão, qualquer que seja a recessão, é a melhor opção. Elas estarão, com certeza, no grupo de geradoras de valor mais à frente.
Gostaria de dizer o mesmo sobre o Brasil e as ações de empresas brasileiras. Mas a verdade é que nosso PIB de USD1.6 trilhões tem perdido a batalha e segue muito abaixo do seu potencial, esmagado por um Estado ainda pesado, mesmo que agora, felizmente, menor do que há 6 anos atrás, ineficiente e inescrupuloso, gerando um ambiente de negócios ainda muito desfavorável a investimentos à altura de um país capitalista. É frustrante assistir ao vai e vem do capital oportunista a cada eleição, a cada ‘notícia bomba’ que emitimos ou a qualquer evento externo que puxe capital para os países desenvolvidos. Os ditos Emerging Markets, ao qual pertencemos, perderam USD 38 Bilhões nos últimos 5 meses.
Quando vamos sair dessa classe promissora que emerge, afunda e nunca se consolida?
A China continua no grupo mas nos ultrapassou na década de 1980 e hoje tem um PIB de USD 17 Trilhões. Temos tantas riquezas naturais, uma matriz energética limpíssima se comparada a qualquer outra economia relevante, temos riqueza humana com força de trabalho e criatividade abundantes e nossa agricultura pujante nos coloca em posição estratégica para a garantia do food security global, que hoje tanto preocupa e só tende a se agravar. A guerra trouxe mais atenção às questões de nutrição e de energia, mas não podemos nos enganar: independente da guerra, essas questões vieram para ficar e vão se acirrar nas próximas décadas. Ótima oportunidade para o Brasil se destacar. Até quando vamos continua r emerging e submerging?