O processo de tomada de decisão em investimentos
Como evitar que aspectos emocionais, vieses cognitivos e promessas de ganho rápido nos desviem de realizar investimentos bem sucedidos ao longo do tempo?
André Martins
Publicado em 14 de dezembro de 2020 às 15h10.
Última atualização em 15 de dezembro de 2020 às 16h30.
Depois de termos passado por momentos extremos - não só nos mercados financeiros, mas no contexto social como um todo - chegamos ao final de 2020. Certamente foi um daqueles anos em que “décadas aconteceram”. O rastilho de uma pandemia global acendeu logo nos primeiros dois meses do ano e a seriedade parece que só foi considerada a partir do segundo trimestre, quando tivemos que passar por um processo adaptativo, cujo impacto social será sentido por anos à frente.
O abalo econômico e as ondas de choque nos mercados financeiros foram tremendas. Diante da tamanha incerteza quanto aos impactos sobre a economia, empresas, empregos e até no nosso estilo de vida, tivemos o crash mais rápido da história das bolsas, pior até do que nas Grandes Crises de 1929 e 2008. Só a bolsa brasileira despencou cerca de 45% praticamente em linha reta, dentro de um intervalo de 20 pregões. Os movimentos foram mais bruscos ainda no contexto individual de algumas empresas. A Petrobras, por exemplo, chegou a ter uma queda de 60% nas suas ações, a Azul Linhas Aéreas perdeu quase 80% do seu valor de mercado e, até o Real desvalorizou cerca de 40% contra o Dólar.
Tudo isso por conta de vendas realizadas no calor da emoção e sob um contexto de extrema incerteza. As maiores dúvidas eram: Quanto tempo vai durar a pandemia? Qual o período que vamos ficar isolados? Qual o prazo para desenvolvimento de vacinas? Será que a vida volta ao normal?
Acontece que toda venda realizada no mercado é, obrigatoriamente, acompanhada de uma compra. Ou seja, todos os investidores que desfizeram de seus investimentos no pior momento da crise tiveram como contraparte da operação alguém que estava comprando. Isso deveria trazer uma boa reflexão para qualquer investidor.
Minha venda é baseada em algum fundamento, razão ou motivo digno para ser justificada, ou apenas na emoção, no medo de que os preços podem cair muito mais? Até que ponto estou apenas tentando antecipar qual o movimento de curto prazo que o mercado irá fazer, sem levar em conta uma realidade concreta, em que as coisas efetivamente acontecem, as empresas funcionam, produzem bens e serviços e os vendem para a sociedade com certa margem de lucro? Boa parte das vezes, nossa análise se baseia apenas em um viés de inércia, ou seja, se algo está ruim, tenderá a piorar para sempre, assim como se o cenário é positivo, o mercado não deverá cair nunca mais.
Essas reflexões ganham ainda mais importância em um contexto em que milhares de novos investidores ingressam no mercado, em um fenômeno visto não só no Brasil - onde a quantidade de CPFs na bolsa de valores atingiu o recorde de 3 milhões, um crescimento acima de 80% - mas também nos Estados Unidos, onde o efeito Robin Hood (corretora voltada para o público de varejo com negociações baseadas em aplicativos de forma fácil e lúdica) fez o preço de diversas ações descolar da realidade, promovendo a volatilidade extrema nas cotações de alguns ativos.
A questão é: como evitar que aspectos emocionais, vieses cognitivos e promessas de ganho rápido nos turvem a visão e nos desviem de realizar investimentos assertivos e bem sucedidos ao longo do tempo? Ao comprar uma ação, o investidor está comprando a participação em um negócio feito de pessoas que, como falei antes, produz bens e serviços e os vende para a sociedade buscando obter lucro.
Todo esse processo leva tempo e consome um grande esforço, mas acaba sendo reduzido ao simples apertar de um botão: compra ou venda. Se as ações não pudessem ser negociadas de forma tão prática e fosse exigido do investidor uma enorme burocracia ou uma dilação de prazo entre a decisão de negociar e a sua efetividade, certamente o esforço e a profundidade de análise para embasar cada negócio tenderia ser maior. O problema nesse caso não é a facilidade de negociar ou a liquidez dos mercados em si, mas a tendência que temos de simplificar decisões complexas ao fazer análises rasas e pouco fundamentadas que podem nos induzir a comprar investimentos com perspectivas ruins ou nos desfazer de excelentes investimentos em momentos de pânico e desespero nos mercados.
A boa notícia é que os investidores não estão tão sozinhos nesse esforço de tomar boas decisões. Com a maior amplitude do tema investimentos na sociedade, surgem também diversas empresas sérias que ajudam no esforço de fazer bons negócios. Desde as gestoras independentes, com as quais o investidor pode terceirizar a tomada de decisões, até as casas de research, que ajudam a embasar análises, fundamentar escolhas e proporcionar estudos diversos sobre empresas, setores e economia. Cabe, no entanto, a cada um buscar a maneira que se sente mais confortável para evitar grandes equívocos no mundo dos investimentos, seja com ajuda profissional, seja por meio de esforços próprios, mas sempre tendo em mente a coerência e a tranquilidade que somente boas decisões proporcionam.
*Vinicius Souto Maior é sócio e Diretor de Risco e Compliance na Alphamar Investimentos, a maior gestora de patrimônio independente no Espírito Santo. É graduado em Administração de Empresas e mestre em Contabilidade, com foco em mercado financeiro, pela Fucape Business School. É também Gestor de Recursos habilitado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e professor na Fucape Business School.
Depois de termos passado por momentos extremos - não só nos mercados financeiros, mas no contexto social como um todo - chegamos ao final de 2020. Certamente foi um daqueles anos em que “décadas aconteceram”. O rastilho de uma pandemia global acendeu logo nos primeiros dois meses do ano e a seriedade parece que só foi considerada a partir do segundo trimestre, quando tivemos que passar por um processo adaptativo, cujo impacto social será sentido por anos à frente.
O abalo econômico e as ondas de choque nos mercados financeiros foram tremendas. Diante da tamanha incerteza quanto aos impactos sobre a economia, empresas, empregos e até no nosso estilo de vida, tivemos o crash mais rápido da história das bolsas, pior até do que nas Grandes Crises de 1929 e 2008. Só a bolsa brasileira despencou cerca de 45% praticamente em linha reta, dentro de um intervalo de 20 pregões. Os movimentos foram mais bruscos ainda no contexto individual de algumas empresas. A Petrobras, por exemplo, chegou a ter uma queda de 60% nas suas ações, a Azul Linhas Aéreas perdeu quase 80% do seu valor de mercado e, até o Real desvalorizou cerca de 40% contra o Dólar.
Tudo isso por conta de vendas realizadas no calor da emoção e sob um contexto de extrema incerteza. As maiores dúvidas eram: Quanto tempo vai durar a pandemia? Qual o período que vamos ficar isolados? Qual o prazo para desenvolvimento de vacinas? Será que a vida volta ao normal?
Acontece que toda venda realizada no mercado é, obrigatoriamente, acompanhada de uma compra. Ou seja, todos os investidores que desfizeram de seus investimentos no pior momento da crise tiveram como contraparte da operação alguém que estava comprando. Isso deveria trazer uma boa reflexão para qualquer investidor.
Minha venda é baseada em algum fundamento, razão ou motivo digno para ser justificada, ou apenas na emoção, no medo de que os preços podem cair muito mais? Até que ponto estou apenas tentando antecipar qual o movimento de curto prazo que o mercado irá fazer, sem levar em conta uma realidade concreta, em que as coisas efetivamente acontecem, as empresas funcionam, produzem bens e serviços e os vendem para a sociedade com certa margem de lucro? Boa parte das vezes, nossa análise se baseia apenas em um viés de inércia, ou seja, se algo está ruim, tenderá a piorar para sempre, assim como se o cenário é positivo, o mercado não deverá cair nunca mais.
Essas reflexões ganham ainda mais importância em um contexto em que milhares de novos investidores ingressam no mercado, em um fenômeno visto não só no Brasil - onde a quantidade de CPFs na bolsa de valores atingiu o recorde de 3 milhões, um crescimento acima de 80% - mas também nos Estados Unidos, onde o efeito Robin Hood (corretora voltada para o público de varejo com negociações baseadas em aplicativos de forma fácil e lúdica) fez o preço de diversas ações descolar da realidade, promovendo a volatilidade extrema nas cotações de alguns ativos.
A questão é: como evitar que aspectos emocionais, vieses cognitivos e promessas de ganho rápido nos turvem a visão e nos desviem de realizar investimentos assertivos e bem sucedidos ao longo do tempo? Ao comprar uma ação, o investidor está comprando a participação em um negócio feito de pessoas que, como falei antes, produz bens e serviços e os vende para a sociedade buscando obter lucro.
Todo esse processo leva tempo e consome um grande esforço, mas acaba sendo reduzido ao simples apertar de um botão: compra ou venda. Se as ações não pudessem ser negociadas de forma tão prática e fosse exigido do investidor uma enorme burocracia ou uma dilação de prazo entre a decisão de negociar e a sua efetividade, certamente o esforço e a profundidade de análise para embasar cada negócio tenderia ser maior. O problema nesse caso não é a facilidade de negociar ou a liquidez dos mercados em si, mas a tendência que temos de simplificar decisões complexas ao fazer análises rasas e pouco fundamentadas que podem nos induzir a comprar investimentos com perspectivas ruins ou nos desfazer de excelentes investimentos em momentos de pânico e desespero nos mercados.
A boa notícia é que os investidores não estão tão sozinhos nesse esforço de tomar boas decisões. Com a maior amplitude do tema investimentos na sociedade, surgem também diversas empresas sérias que ajudam no esforço de fazer bons negócios. Desde as gestoras independentes, com as quais o investidor pode terceirizar a tomada de decisões, até as casas de research, que ajudam a embasar análises, fundamentar escolhas e proporcionar estudos diversos sobre empresas, setores e economia. Cabe, no entanto, a cada um buscar a maneira que se sente mais confortável para evitar grandes equívocos no mundo dos investimentos, seja com ajuda profissional, seja por meio de esforços próprios, mas sempre tendo em mente a coerência e a tranquilidade que somente boas decisões proporcionam.
*Vinicius Souto Maior é sócio e Diretor de Risco e Compliance na Alphamar Investimentos, a maior gestora de patrimônio independente no Espírito Santo. É graduado em Administração de Empresas e mestre em Contabilidade, com foco em mercado financeiro, pela Fucape Business School. É também Gestor de Recursos habilitado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e professor na Fucape Business School.