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O país que não corre o menor risco de dar certo

Como se proteger, aproveitar oportunidades e diversificar o seu portfólio no hostil ambiente de negócios no Brasil vislumbrando alternativas

Palacio do Planalto - Brasilia - DF 

Foto: Leandro Fonseca
data: 16/08/2022 (Leandro Fonseca/Exame)
Palacio do Planalto - Brasilia - DF Foto: Leandro Fonseca data: 16/08/2022 (Leandro Fonseca/Exame)
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Panorama Econômico

Publicado em 4 de abril de 2023 às, 19h26.

Por Gabriel Cintra*

A máxima que vale para os investimentos, de que ganhos passados não correspondem garantias à ganhos futuros, deveria ser premissa na política também em relação à orientação da nossa economia. Mas, o que acontece no Brasil é o oposto: passa governo, vem governo e os erros acabam sendo cometidos novamente. Diante do novo arcabouço fiscal proposto pelo governo, algumas incertezas acabam, mas antigos problemas reaparecem.

Será que o plano é crível?

A euforia com a novidade em relação ao anúncio de um novo plano dissipou-se rapidamente nos mercados. Por aqui, um quadro ainda incerto, bem diferente dos quadros da fantástica SP Arte, na Bienal, está sendo pintado aos poucos. Existe ainda alguma esperança de que, com o Banco Central independente, algo seja corrigido de forma pragmática pela autoridade monetária com doses amargas de aumento de juros, se uma desaceleração mais forte da nossa economia não vier antes e brecar naturalmente a atividade. E o quadro externo?

O mercado de trabalho nos Estados Unidos vem dando finalmente sinais de fraqueza, com seguro-desemprego em alta e uma certa desaceleração no crédito. Por outro lado, dados de varejo ainda estão vindo bem fortes, cenário difícil para equities, mas não a ponto de termos posições vendidas em S&P. Quem pensa a longo prazo tem que se posicionar e olhar com carinho para a China como propulsora de uma melhora na economia global. Atualmente, diversificar globalmente quer dizer não colocar os mesmos ovos na mesma cesta e bonds com duration mais curtos, bem selecionados neste momento de volatilidade, podem fazer a diferença para uma carteira ser bem-sucedida e estar protegida.

Se uma bomba fiscal está eminentemente propensa a cair no Brasil, temos que ter alternativas criteriosas aos anseios de nossos investidores. Dentro deste cenário exposto, coloco abaixo algumas das principais alternativas que vemos para os nossos clientes neste momento:

  • Renda Fixa: no Brasil, nós temos o Fundo garantidor de crédito e um Banco Central que fez a lição de casa e é crível. Portanto, temos a nosso favor a possibilidade de diversificação de carteiras aplicadas em juros e em inflação com prêmios interessantes dado o nosso cenário de incertezas.

A beleza dos juros compostos ajuda o investidor nesse cenário de juros locais elevados por mais tempo. As alternativas em IPCA são excelentes opções quando temos prêmios acima de 6% em riscos bem calculados. O mercado bancário Brasileiro está maduro e bem protegido com o FGC (Fundo Garantidor de Crédito). Neste sentido, a diversificação das carteiras com diferentes nomes, respeitando os limites garantidos, é essencial para o bom gerenciamento de risco das carteiras. Os títulos públicos IPCA+ vem na extensão dessa análise para os clientes com portifólios superiores a R$ 5 Milhões.

  • Renda Variável: boas empresas com bons fundamentos em setores resilientes e com uma análise fundamentalista criteriosa por trás. O cenário desafiador traçado acima traz desafios, mas também muitas oportunidades. A Bolsa Brasileira teve o pior primeiro trimestre desde 2020. Vamos sofrer ainda com muita volatilidade, porém, o investidor de longo prazo, resiliente e com algumas proteções, pode sofrer a curto prazo. Porém, tem muita empresa tecnicamente barata na bolsa na nossa opinião. A ETF XINA11 vem ganhando destaque na diversificação das nossas carteiras.
  • Multimercados globais: gostamos de utilizar os fundos Mutimercados de gestores que conhecemos a fundo e analisamos a composição dos fundos. Algumas casas de destaque como O3 Capital, SPX, Kapitalo, TRUXT e Upon Capital estão nas nossas recomendações, além de gostarmos da classe de ativos por atenderem alguns critérios técnicos de diversificação patrimonial na nossa avaliação.
  • Diversificação internacional e regional: o DNA do nosso time está aqui. Estamos debruçados nos mercados internacionais e desde o final das eleições, notamos uma demanda maciça de investidores para a nossa área de investimentos internacionais. O nosso Call é sempre natural de uma diversificação patrimonial dos ativos líquidos em torno de 35% para investimentos externos, mas é super relevante entender o contexto de cada cliente para adequação dos objetivos. Os ativos de renda fixa chamados Bonds, sempre são Marcados a Mercado (MaM) e vemos boas oportunidades sendo geradas com a duration mais curta. Uma das teses externas que destacamos aqui são as ETF´s de energia limpa MLPA; que paga dividendos trimestrais e tem sido uma aposta da nossa equipe para as carteiras internacionais com mais apetite ao risco - com a devida ressalva que acreditamos que alguma desaceleração será enfrentada à frente.
  • Ativos alternativos: Vemos oportunidades no mercado secundário de Private Equity fora do Brasil com exposições em fundos como Lexington e outros. Temos olhar de lupa para oportunidades como no mercado de precatórios no Brasil para investidores qualificados.

Mas ainda achamos que no cenário atual, o feijão com arroz da renda fixa com o molho internacional na dose certa, ainda é o prato para ser oferecido atualmente aos nossos investidores.

*Gabriel Cintra, sócio e CIO da Eleva Invest MFO, consultoria regulada pela CVM, é economista formado pelo INSPER com qualificação em relações internacionais. Foi presidente do Ação Jovem do Mercado Financeiro e de Capitais entre 2007 e 2009 e tem extensa experiência em crédito, M&A e Investimentos.