O desafio de investir no Brasil
Considerando as altas taxas de juros, em comparação com outros países, avaliamos a melhor maneira para construir uma carteira de investimentos
Publicado em 18 de outubro de 2021 às, 18h42.
Por Lucas Sassi**
Considerando as altas taxas de juros praticadas no Brasil, em comparação com outros países, avaliamos a melhor maneira para construir uma carteira de investimentos usando ativos atrelados ao CDI, inflação e bolsa.
No mundo dos investimentos, todos já ouviram falar sobre o efeito multiplicador dos juros compostos associado às altas taxas de juros pagas pelo governo brasileiro. Na última década, enquanto o mundo desenvolvido via uma queda significativa da inflação que permitiu juros nominais muito abaixo das médias históricas, o Brasil vivenciou um período de juros nominais ainda elevados, mesmo se comparado com seus pares emergentes. Financeiramente falando, um investidor que aplicou R$ 1.000 no dia 30/09/2011 em um CDB que pagasse 100% da taxa CDI, teria acumulado em 30/09/2021 (ou seja, 10 anos depois) exatos R$ 2.246,66* – expressivos 124,67% de rendimento nominal.
Outra máxima do mercado é a de que, no longo prazo, o mercado acionário deveria apresentar um retorno maior que a taxa livre de risco para compensar o risco de seus investimentos. Nos mercados desenvolvidos, cujos ciclos econômicos são mais estáveis, a inflação é mais controlada e o nível dos juros mais baixo, tal máxima tem se provado verdadeira, enquanto no caso brasileiro é preciso cuidado. Voltando ao exemplo do investidor, os mesmos R$ 1.000 investidos no Ibovespa em 30/09/2011 resultariam em R$ 2.121,00* no dia 30/09/2021, valor equivalente a 112,10% de rendimento nominal.
Independente de ativos ligados ao CDI ou ações, o investidor deve estar sempre atento ao nível de retorno real dos seus investimentos, ou seja, quanto o seu portfólio está rendendo acima da inflação. Dentro desse conceito, ativos como a NTN-B, cuja remuneração está atrelada ao IPCA somada a um fator pré-fixado, merecem ser analisados. Voltando ao exemplo, um investidor que no dia 30/09/2011 comprou uma NTN-B 2035 investindo R$ 1.000 teria acumulado em 30/09/2021 o montante de R$ 3.215,13*, equivalente a 221,51% de rendimento nominal.
Vários aspectos influenciam no resultado observado: podemos citar a fragilidade da composição do Ibovespa, as altas taxas de juros nominais dos anos iniciais analisados e a sequência de crises institucionais da última década, entre outros. Mas esse não é o ponto alvo desse artigo. A ideia é trazer para o debate a discussão sobre como um portfólio deve ser construído em meio a um Brasil volátil e imprevisível. Seria esse um momento de realocar a carteira e zerar os investimentos em Renda Variável comprando apenas ativos de CDI?
Em um primeiro momento, é importante sempre lembrar de dois pontos cruciais nos investimentos: diversificação de carteira e longo prazo de horizonte. Dada a constante instabilidade político-econômica brasileira, que culmina em uma alta de inflação e juros, uma carteira de investimentos de longo prazo deve contar não apenas com ativos ligados ao CDI e ações, mas também com uma parcela de ativos cuja rentabilidade está associada aos juros reais (como, por exemplo, as NTN-Bs, hoje chamadas de tesouro inflação). Com uma carteira balanceada e adequada ao perfil de risco do investidor, movimentos de mercado de curto prazo não devem ser motivo de zeragem de posições dada a volatilidade, mas apenas de ajustes no nível de risco tomado.
Importante ressaltar que os investimentos comparados apresentam diferentes níveis de risco e liquidez. Além disso, essa análise simplificou o universo de investimentos aos três ativos mencionados. Olhando para um horizonte de longo prazo, a carteira de ativos de risco que apresenta a melhor relação risco/retorno é aquela composta, em parte, por ativos cuja rentabilidade está atrelada aos juros reais e, em parte, por gestores ativos de Renda Variável. Para retratar esse portfólio, o gráfico abaixo representa a rentabilidade de uma NTN-B 2035 comparada ao CDI, ao Ibovespa e a uma carteira que é composta por 50% de uma NTN-B 2035 e 50% de um portfólio que conta com os 20 melhores fundos de ações dos últimos 10 anos.
No gráfico, fica claro como um bom portfólio de ações consegue desempenhar de forma satisfatória no longo prazo, apesar do fraco desempenho do índice. Além disso, o portfólio misto entre fundos de ações e ativos de inflação também evidência como uma combinação desses dois ativos pode melhorar o Sharpe (relação retorno/risco) da carteira e reduzir significativamente as perdas nos momentos de crise. Dessa forma, cada investidor deve compor uma carteira que se enquadra no seu nível de aversão a perdas. Quanto maior o horizonte de investimento e o apetite ao risco, uma maior parte dos investimentos pode ser alocada no portfólio composto pelos ativos de maior volatilidade e uma menor parte nos investimentos em CDI. Para aqueles clientes com maior aversão a perdas, a parcela de CDI deve ser mais significativa.
**Valores brutos, sem descontos de impostos.
**Lucas Sassi é gestor das Carteiras Locais da Quadrante Investimentos. Formado em Administração de Empresas pela FGV EAESP com Master em Financial Economics pela Escola de Economia da FGV, é gestor de investimentos CGA e certificado CFP® pela Planejar.
A Quadrante Investimentos é uma empresa de gestão de recursos fundada em 2003 com objetivo de trazer uma nova perspectiva sobre o mercado financeiro. Uma empresa isenta, totalmente independente, sem vínculos societários ou comerciais com bancos, corretoras ou fundos de investimentos, focada exclusivamente nas necessidades dos clientes.