Não existe almoço grátis no mercado financeiro
A importância do asset allocation para um portfólio equilibrado
Panorama Econômico
Publicado em 1 de novembro de 2024 às 12h50.
Última atualização em 3 de novembro de 2024 às 17h41.
No mercado financeiro, assim como em muitas outras áreas da vida, não existe almoço grátis. Mas, se pudéssemos definir uma "receita" para esse almoço grátis, essa seria o asset allocation. Na busca por retorno nos investimentos, sempre haverá riscos envolvidos. Precisamos escolher quais riscos queremos correr e pensar em tipos de investimentos que, quando integrados em um portfólio, se complementem, gerando descorrelação.
Harry Markowitz comprovou em seu artigo “Portfolio Selection” de 1952 que é importante termos uma teoria/metodologia sobre o que faz um portfólio ser bem diversificado e qual a relação entre risco e retorno à qual estamos dispostos a nos expor. Em outras palavras, o todo é melhor que a soma das partes.
Asset allocation (alocação de ativos, em tradução livre) incorpora um método que visa alocar ativos em diferentes classes, tendo como objetivo principal atingir uma combinação ótima entre risco e retorno, maximizando a tendência de alcançar o melhor retorno com o menor risco possível. Essa técnica é essencial para investimentos e planejamento financeiro.
Na prática, ao montarmos um portfólio com diferentes ativos que, ao longo do tempo, não têm um desempenho uniforme entre si, ou seja, as oscilações causadas por mudanças econômicas não têm relação entre si, criaremos portfólios resilientes e diversificados que trarão retornos adequados ao nível de risco esperado.
Como dito acima, a metodologia asset allocation visa alocar em diferentes classes para reduzir os riscos. No entanto, fazer a seleção de ativos de forma isolada nos leva a correr riscos desnecessários e “cair em armadilhas”, como, por exemplo, se basear em rentabilidade passada para escolher ativos.
Abaixo, um gráfico baseado no mercado americano e em modelos de alocação, elaborado pela Vanguard, mostra os retornos anuais (entre 1926 e 2022) de diversos portfólios com diferentes pesos entre renda fixa e ações.
As barras mostram os piores e melhores retornos anuais de cada portfólio. O ponto no interior de cada barra denota a porcentagem média de retorno anual.
Com base no gráfico, é possível notar que o incremento de risco não gera, proporcionalmente, um retorno maior. Ao analisarmos a variação do portfólio 70/30 em comparação ao portfólio 60/40, é possível perceber que a maior queda do portfólio 60/40 teve um incremento considerável em relação ao portfólio 70/30. Ainda analisando os mesmos portfólios, podemos perceber que o retorno médio anual teve um incremento de 0,6% (de 7,0% para 7,6%).
Por isso, é importante sabermos quanto risco queremos em nosso portfólio, assim como termos ciência do retorno que buscamos. Fazer a alocação ajustada ao risco é essencial para um planejamento financeiro de longo prazo.
Outro ponto importante sobre a metodologia asset allocation é que ela gera um certo grau de proteção contra nossos impulsos e formas equivocadas de pensar no momento de decisão. O campo das finanças comportamentais nos traz inúmeras formas de descrever como nosso cérebro, ao tomar decisões financeiras, incorre em erros impulsionados pelos nossos vieses. Vieses como ancoragem (se ancorar em uma informação inicial sem considerar outras perspectivas racionais), representatividade (acreditar que fatos passados se repetirão no futuro) e excesso de confiança são alguns dos exemplos.
A metodologia asset allocation nos leva a pensar de forma sistemática, mitigando, assim, a ocorrência de erros causados por vieses.
Ainda pensando no comportamento de cada indivíduo, a alocação racional (ou alocação ótima) é o que buscamos ao aplicar o asset allocation. Contudo, é preciso lembrar que cada pessoa tem suas convicções e vieses, como comentado anteriormente. Daniel Kahneman apresenta isso em seu estudo de finanças comportamentais, no qual mostra que, provavelmente, os interesses de um cliente não serão atendidos pela alocação racional. Por conta disso, ele menciona que a consultoria financeira é uma atividade cujo principal objetivo é guiar os investidores a tomar decisões que atendam aos seus interesses. Logo, é necessário observar a alocação racional, mas também o comportamento do investidor. Isso reduz o risco de o investidor não se sentir confortável e desistir de seguir o “plano”.
É importante mencionar que, por mais que a metodologia nos mostre uma forma sistemática de montar portfólios, é necessário termos graus de liberdade. Ter uma maneira lógica e sistemática de pensar as posições de investimentos é essencial, mas também precisamos lidar com questões aleatórias e eventos extremos do mercado, como crises sistêmicas e pandemias. Ter liberdade para ajustar o portfólio é essencial nesses momentos.
Em resumo, não há alocações "boas" ou "ruins"; você precisará encontrar a que é certa para você com base em sua situação. Ou seja, não existe portfólio perfeito, mas sim aquele que é adequado ao objetivo, perfil e horizonte de tempo de cada investidor.
Cléber Bruing Bossle é graduado em engenharia de produção e especialista em investimentos (CEA). É sócio e consultor na API Capital, consultoria de investimentos registrada na CVM.
No mercado financeiro, assim como em muitas outras áreas da vida, não existe almoço grátis. Mas, se pudéssemos definir uma "receita" para esse almoço grátis, essa seria o asset allocation. Na busca por retorno nos investimentos, sempre haverá riscos envolvidos. Precisamos escolher quais riscos queremos correr e pensar em tipos de investimentos que, quando integrados em um portfólio, se complementem, gerando descorrelação.
Harry Markowitz comprovou em seu artigo “Portfolio Selection” de 1952 que é importante termos uma teoria/metodologia sobre o que faz um portfólio ser bem diversificado e qual a relação entre risco e retorno à qual estamos dispostos a nos expor. Em outras palavras, o todo é melhor que a soma das partes.
Asset allocation (alocação de ativos, em tradução livre) incorpora um método que visa alocar ativos em diferentes classes, tendo como objetivo principal atingir uma combinação ótima entre risco e retorno, maximizando a tendência de alcançar o melhor retorno com o menor risco possível. Essa técnica é essencial para investimentos e planejamento financeiro.
Na prática, ao montarmos um portfólio com diferentes ativos que, ao longo do tempo, não têm um desempenho uniforme entre si, ou seja, as oscilações causadas por mudanças econômicas não têm relação entre si, criaremos portfólios resilientes e diversificados que trarão retornos adequados ao nível de risco esperado.
Como dito acima, a metodologia asset allocation visa alocar em diferentes classes para reduzir os riscos. No entanto, fazer a seleção de ativos de forma isolada nos leva a correr riscos desnecessários e “cair em armadilhas”, como, por exemplo, se basear em rentabilidade passada para escolher ativos.
Abaixo, um gráfico baseado no mercado americano e em modelos de alocação, elaborado pela Vanguard, mostra os retornos anuais (entre 1926 e 2022) de diversos portfólios com diferentes pesos entre renda fixa e ações.
As barras mostram os piores e melhores retornos anuais de cada portfólio. O ponto no interior de cada barra denota a porcentagem média de retorno anual.
Com base no gráfico, é possível notar que o incremento de risco não gera, proporcionalmente, um retorno maior. Ao analisarmos a variação do portfólio 70/30 em comparação ao portfólio 60/40, é possível perceber que a maior queda do portfólio 60/40 teve um incremento considerável em relação ao portfólio 70/30. Ainda analisando os mesmos portfólios, podemos perceber que o retorno médio anual teve um incremento de 0,6% (de 7,0% para 7,6%).
Por isso, é importante sabermos quanto risco queremos em nosso portfólio, assim como termos ciência do retorno que buscamos. Fazer a alocação ajustada ao risco é essencial para um planejamento financeiro de longo prazo.
Outro ponto importante sobre a metodologia asset allocation é que ela gera um certo grau de proteção contra nossos impulsos e formas equivocadas de pensar no momento de decisão. O campo das finanças comportamentais nos traz inúmeras formas de descrever como nosso cérebro, ao tomar decisões financeiras, incorre em erros impulsionados pelos nossos vieses. Vieses como ancoragem (se ancorar em uma informação inicial sem considerar outras perspectivas racionais), representatividade (acreditar que fatos passados se repetirão no futuro) e excesso de confiança são alguns dos exemplos.
A metodologia asset allocation nos leva a pensar de forma sistemática, mitigando, assim, a ocorrência de erros causados por vieses.
Ainda pensando no comportamento de cada indivíduo, a alocação racional (ou alocação ótima) é o que buscamos ao aplicar o asset allocation. Contudo, é preciso lembrar que cada pessoa tem suas convicções e vieses, como comentado anteriormente. Daniel Kahneman apresenta isso em seu estudo de finanças comportamentais, no qual mostra que, provavelmente, os interesses de um cliente não serão atendidos pela alocação racional. Por conta disso, ele menciona que a consultoria financeira é uma atividade cujo principal objetivo é guiar os investidores a tomar decisões que atendam aos seus interesses. Logo, é necessário observar a alocação racional, mas também o comportamento do investidor. Isso reduz o risco de o investidor não se sentir confortável e desistir de seguir o “plano”.
É importante mencionar que, por mais que a metodologia nos mostre uma forma sistemática de montar portfólios, é necessário termos graus de liberdade. Ter uma maneira lógica e sistemática de pensar as posições de investimentos é essencial, mas também precisamos lidar com questões aleatórias e eventos extremos do mercado, como crises sistêmicas e pandemias. Ter liberdade para ajustar o portfólio é essencial nesses momentos.
Em resumo, não há alocações "boas" ou "ruins"; você precisará encontrar a que é certa para você com base em sua situação. Ou seja, não existe portfólio perfeito, mas sim aquele que é adequado ao objetivo, perfil e horizonte de tempo de cada investidor.
Cléber Bruing Bossle é graduado em engenharia de produção e especialista em investimentos (CEA). É sócio e consultor na API Capital, consultoria de investimentos registrada na CVM.