Investimentos Inteligentes: planejar para o futuro tem que ser agora
Para elaborar um bom plano é preciso analisar os seus objetivos de curto e longo prazos, sua estrutura patrimonial e mais
Publicado em 2 de outubro de 2023 às, 15h23.
Última atualização em 2 de outubro de 2023 às, 15h25.
Por Flavia Montoro
Você passa mais tempo planejando suas férias do que seu futuro financeiro?
Vamos ser realistas: planejar as férias é bem mais divertido e leve do que cuidar da aposentadoria, que pode ser bastante estressante e desafiador. Por isso, a maioria das pessoas acaba evitando ou adiando o planejamento financeiro.
Mas, para ter uma aposentadoria tranquila e uma vida plena, é preciso pensar no futuro agora. E planejar para a longevidade é um projeto pessoal, já que o plano financeiro de cada indivíduo ou de cada família é único. Por isso, para elaborar um bom plano é preciso analisar os seus objetivos de curto e longo prazos, sua estrutura patrimonial, seu fluxo de caixa, assim como seu estilo de vida, sua estrutura e relações familiares e sua situação profissional.
É preciso estimar quanto você vai precisar na aposentaria para determinarmos o quanto você tem que guardar hoje e onde deve investir, e não o contrário. Com os objetivos definidos, podemos estimar diferentes cenários econômicos, avaliar situações conflitantes em relação às decisões, além de considerarmos os riscos e benefícios de cada estratégia.
E, se você for mulher, pensar no futuro financeiro é ainda mais importante, porque as mulheres vivem mais, ganham menos e ainda gastam mais nos mesmos produtos que os homens!
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), uma mulher brasileira hoje com 20 anos vai viver 6,5 anos a mais que um brasileiro da mesma idade. A expectativa de vida para as mulheres dessa idade é de 81,8 anos e de 75,2 anos para os homens. Essa é uma média brasileira, mas com os avanços da medicina, podemos esperar que a longevidade aumente. Acredito que um bom exercício é ver a idade dos seus pais e avós!
PLANEJAMENTO PARA LONGEVIDADE
Quando faço um planejamento, gosto de projetar que nós mulheres viveremos até os 105 anos e que os homens viverão até os 100.
Quando o assunto é a acumulação de capital, as brasileiras também estão em desvantagem, já que ganham menos. Dados do IBGE apontam que, na média, um homem brasileiro de 15 anos ou mais, que ganha mais de 1 salário-mínimo no mês, tem um rendimento mensal 20% superior ao das mulheres nas mesmas condições.
Pior: além de receberem um salário menor, a taxa de desemprego é mais alta entre as mulheres. Ainda de acordo com o IBGE, a taxa de desocupação dos homens ficou em 6,9%, no 2º trimestre de 2023, enquanto a das mulheres foi de 9,6%. Esse é um problema estrutural da nossa sociedade. E ainda tem a questão da escolaridade.
Quase 20% das mulheres acima dos 25 anos têm ensino superior completo contra 15% dos homens da mesma faixa etária. Ou seja, apesar de haver mais mulheres com ensino superior completo, elas ganham menos e perdem o emprego com mais facilidade. E por quê?
Um indicativo pode ser o fato das mulheres que trabalham fora gastarem em média 8,1 horas por semana a mais que os homens nos afazeres domésticos.
PINK TAX
Para piorar a situação, as mulheres são sujeitas ao imposto cor de rosa (pink tax). Esse é um conceito político-econômico que expõe como produtos vendidos diretamente para mulheres são mais caros do que similares vendidos para homens. Um estudo feito em Nova Iorque, em 2015, sobre o custo de ser consumidor do sexo feminino, concluiu que, na média, uma mulher gasta 7% a mais pelos mesmos produtos que um homem. Isso é fácil de verificar. Quando estava escrevendo esse artigo, pedi para a minha filha fazer uma pesquisa de mercado e ela averiguou que um shampoo para o público feminino pode custar cinco vezes a mais dentro de uma mesma marca, tamanho e embalagem!
Mas não vamos nos aprofundar nisso, porque esse artigo é para falar da importância de fazer um bom planejamento do longo prazo e não das injustiças sociais!
COMO AGIR
Leitoras e leitores, não se desanimem com tantos dados. Acredite: planejar a aposentadoria pode ser quase tão simples como planejar aquelas férias divertidas. Primeiro, vamos analisar o seu fluxo de caixa e determinar se a sua capacidade de poupança é condizente com o valor que você vai precisar na sua aposentaria, sem esquecer dos objetivos de médio e curto prazos.
Uma vez determinada a totalidade de recursos necessários, traçamos um plano de investimentos. A estratégia é planejada de maneira a contemplar tudo que você e sua família vão precisar ao longo da sua vida. Essa é uma carteira de crescimento, atenta à inflação.
A diversificação do portfólio entre diferentes classes de ativos, mercados e moedas, é a estratégia provada para investidores com o horizonte de longo prazo, e recomendamos tal diversificação para atingir a rentabilidade desejada, reduzindo riscos.
EXEMPLO DE SUCESSO
Eu gosto muito da história de Franklin Templeton, pioneiro no conceito de portfólio global diversificado na indústria de fundos mútuos. Durante a grande depressão nos Estados Unidos, Templeton investiu em firmas europeias em dificuldade. Nem todos os investimentos foram bem-sucedidos, mas a diversificação do portfólio garantiu boa performance. Templeton acreditava que investimentos globais ofereciam oportunidades que os investidores americanos não encontravam no país. Eu acredito ser a mesma verdade para investidores brasileiros.
INVESTIMENTOS
Através dos ETFs, ou Exchange Traded Funds (Fundos de Investimento em Cotas de Fundo de Índice), os investidores brasileiros podem comprar produtos que refletem o retorno da principal bolsa de valores dos Estados Unidos, o S&P 500, com taxas de administração geralmente menores que as taxas dos fundos de investimento tradicionais. Ou seja, investir na bolsa americana é acessível a todos.
Quando decidimos investir na bolsa de valores e comprar uma ação de uma empresa, fazemos uma análise para determinar se o valor da empresa que estamos analisando é maior que o preço que pagamos ao comprar a ação. Lembre-se que o valor de uma ação é dado em função do valor presente dos fluxos de caixa esperados no futuro, como por exemplo, os lucros futuros da companhia. Por isso, quando investimos em uma ação de uma empresa é fundamental estimar os lucros futuros dessa empresa.
Para fazer um bom modelo de desconto de fluxo de caixa devemos projetar todas as linhas do balanço patrimonial e da demonstração de resultados da empresa avaliada. E, para que essa projeção seja verossímil, é essencial que o investidor conheça o presente e o passado da empresa, que estude o mercado em que a empresa atua e que analise a competição atual e possível competição futura.
Para determinar o valor de uma companhia também podemos usar múltiplos como preço/lucro (P/L) ou preço/patrimônio líquido (P/PL).
A taxa de desconto que será usada para calcular o valor presente do fluxo de caixa da empresa varia para cada empresa analisada e representa, invariavelmente, a taxa mínima de retorno para investir nessa ação. Existem algumas maneiras de calcular essa taxa, mas, geralmente, ela é derivada da taxa básica de juros da economia. No caso do Brasil, a Selic, mais um prêmio pago para o risco do investimento.
Com o Tesouro Direto, todos os brasileiros podem comprar títulos do governo indexados à inflação (IPCA), com taxas bastante atrativas. Quando escrevi esse artigo, um título a vencer em 15/05/2035 estava sendo negociado à uma taxa de inflação mais 5,85%. Eu considero uma ótima opção de investimento para quem pode esperar para resgatar o dinheiro na data do vencimento.
JUROS COMPOSTOS
Contudo, o grande benefício de começar a investir cedo é o efeito acumulador dos juros compostos na acumulação de riqueza. Eles são juros aplicados sobre juros, uma poderosa força para o crescimento do seu investimento no longo prazo.
CONCLUSÃO
Assim, caro leitor e principalmente cara leitora, não adie o seu planejamento financeiro. Quanto antes começar a investir em uma estratégia de longo prazo bem diversificada e com objetivos de retorno e risco bem definidos, maior será a geração de riqueza e sua tranquilidade financeira futura.
*Flavia Montoro, CFA, CFP® é sócia da Mercury Wealth management. E-mail: flavia.montoro@mercurygestao.com.br