Investimentos em ano de eleição presidencial
Naturalmente ficamos mais conectados às notícias e experimentamos uma certa dose de ansiedade para saber o que vem pela frente.
Da Redação
Publicado em 31 de março de 2022 às 07h00.
Por Thiago Lauria
Eleições presidenciais trazem inquietude considerável aos investidores. Naturalmente ficamos mais conectados às notícias e experimentamos uma certa dose de ansiedade para saber o que vem pela frente. E então, a pergunta que fica é:
O que fazer com meus investimentos em ano de eleições presidenciais?
Como ponto de partida, vamos analisar o comportamento dos investimentos em eleições passadas. Para tal, consideramos as eleições após implantação do Plano Real e analisamos os seguintes investimentos: Ibovespa, S&P 500 sem hedge, dólar e a Selic. A tabela 1 resume o retorno de cada investimento no ano da respectiva eleição.
A bolsa brasileira foi o pior investimento em três eleições, apresentando rentabilidade negativa. Em 2010, ficou próxima do zero a zero e, em 2006 e 2018, a rentabilidade foi expressivamente positiva. Já o dólar performou no campo positivo em quatro das seis eleições, sendo a maior rentabilidade em 2002. Muito se atribui essa performance à instabilidade causada pela primeira eleição de Lula. Porém, em uma análise mais macro, também tivemos impactos oriundos da bolha “ponto com” que teve seu auge entre 2000 e 2002. Nas crises, há uma fuga de recursos para o dólar, considerado até então um porto seguro. Já o índice S&P500 com exposição cambial esteve no campo positivo em todos os anos. Na última coluna, vemos a taxa Selic, que sempre se apresentou competitiva diante de todos os retornos.
Ao olhar no retrovisor fica fácil dizer como teríamos decidido alocar nossos ativos em cada uma das eleições. Entretanto, nós ainda não temos a capacidade de viajar para o futuro para tomar tais decisões para 2022. Ainda sim, vamos ampliar os horizontes da análise.
Nesta tabela temos o retorno acumulado dos últimos 05 anos. Ao final de 2002, o Ibovespa teve um retorno acumulado de 10,50% já considerando o resultado negativo de -17,01% deste ano (conforme tabela 1). Provavelmente o investidor que tomou uma decisão de alocar no dólar ao final de 2002 devido a sua alta valorização, experimentou prejuízos acumulados na visão das eleições de 2006 e 2010. Considerar o resultado recente como provável continuidade no futuro é um viés muito comum na tomada de decisão dos investidores. O inverso aconteceu com quem resolveu fugir da bolsa brasileira pelo resultado negativo de 2002, já que na visão acumulada de 2006 e 2010 os resultados experimentados foram significativamente positivos. Nessa visão mais ampla, encontramos a um indicativo de que fazer “market timing” em ano de eleição não é tarefa fácil e pode trazer prejuízos ao investidor. Agora, vamos para uma visão do todo.
Acima, temos o retorno acumulado de 27 anos. Um período curto quando comparado aos EUA, que possuem dados desde os idos de 1800 aproximadamente. Porém, este é um período razoável para o contexto brasileiro. Nessa foto mais ampla, enxergamos que o S&P 500 foi o que melhor rendeu no período. Porém, uma alocação em Selic teria sido bem competitiva uma vez que tem menor risco e traz maior probabilidade de aderência ao portfolio ao longo do tempo. Mas não é aí que se encerra uma tomada de decisão de investimentos. Se você voltar na tabela 2 verá que a Selic em janelas de 5 anos vem reduzindo ao longo do tempo. Afinal, não devemos investir olhando no retrovisor.
Mas então, o que fazer com os investimentos em ano de eleição?
Existem duas faces de uma moeda para ano de eleição.
A caça aos retornos.
Utilizar o atributo chamado “Market timing”. Ou seja, apostar em dado investimento tentando prever o que vai acontecer. Por exemplo: quando o candidato X foi eleito o dólar disparou, então, se acredito que ele vai ganhar esse ano, devo comprar dólar novamente. Esses movimentos preditivos possuem alto custo e alta chance de um potencial prejuízo. Outro ponto a se considerar é que o Brasil não é uma ilha. Temos muito mais fatores influenciando o retorno dos investimentos do que somente a eleição. Vide a guerra Rússia x Ucrânia. O mundo atual é interdependente e interconectado. Tentar prever o mercado é uma armadilha sedutora. Afinal, sempre que alguém faz uma previsão e a comunica com eloquência, transmite a sensação de segurança, de porto seguro.
Preservação e sobrevivência.
O outro lado da moeda em ano de eleições é pautado pela incerteza do que vem a frente e qual o impacto nos investimentos. Afinal, em ano de eleição não só o mundo das notícias tende a ficar mais agitado, mas os mercados também. E é exatamente aí que deve estar o foco: na gestão de riscos.
Os investidores costumam olhar somente para a rentabilidade e desconsiderar os riscos aos quais se expõe. É como projetar um resultado sem saber se tem a capacidade e a resistência para trilhar o caminho até o êxito que se almeja.
Um dos fatores mais importantes no desenho de um portfolio de investimentos é a aderência do investidor às premissas diante de ambientes instáveis, como por exemplo ano de eleição ou eventos raros e de alto impacto, como pandemias. O delineamento da sua carteira de investimentos deve levar em consideração que passaremos inevitavelmente por esses momentos e que precisamos estar preparados.
Em ano de eleição (assim como todos os outros), é ainda mais importante revisar sua política de investimentos. As premissas que fizeram você ter a alocação atual, rentabilidade alvo e principalmente qual o nível de exposição a riscos.
Gestão de investimentos não é uma corrida de 100 metros, é uma maratona. Portanto, projetar rentabilidade é premissa fundamental para formar patrimônio. Mas somente uma boa gestão de riscos garantirá que você chegue ao destino desejado.
*Thiago Lauria, CFP®, CGA - Sócio Fundador e Diretor de Investimentos da BWM Family Office. Um Multi Family Office que atua de forma independente e isenta de conflitos de interesses, integrando gestão de investimentos e planejamento patrimonial, ajudando clientes a cuidarem das suas maiores riquezas: vida, família e patrimônio.
Por Thiago Lauria
Eleições presidenciais trazem inquietude considerável aos investidores. Naturalmente ficamos mais conectados às notícias e experimentamos uma certa dose de ansiedade para saber o que vem pela frente. E então, a pergunta que fica é:
O que fazer com meus investimentos em ano de eleições presidenciais?
Como ponto de partida, vamos analisar o comportamento dos investimentos em eleições passadas. Para tal, consideramos as eleições após implantação do Plano Real e analisamos os seguintes investimentos: Ibovespa, S&P 500 sem hedge, dólar e a Selic. A tabela 1 resume o retorno de cada investimento no ano da respectiva eleição.
A bolsa brasileira foi o pior investimento em três eleições, apresentando rentabilidade negativa. Em 2010, ficou próxima do zero a zero e, em 2006 e 2018, a rentabilidade foi expressivamente positiva. Já o dólar performou no campo positivo em quatro das seis eleições, sendo a maior rentabilidade em 2002. Muito se atribui essa performance à instabilidade causada pela primeira eleição de Lula. Porém, em uma análise mais macro, também tivemos impactos oriundos da bolha “ponto com” que teve seu auge entre 2000 e 2002. Nas crises, há uma fuga de recursos para o dólar, considerado até então um porto seguro. Já o índice S&P500 com exposição cambial esteve no campo positivo em todos os anos. Na última coluna, vemos a taxa Selic, que sempre se apresentou competitiva diante de todos os retornos.
Ao olhar no retrovisor fica fácil dizer como teríamos decidido alocar nossos ativos em cada uma das eleições. Entretanto, nós ainda não temos a capacidade de viajar para o futuro para tomar tais decisões para 2022. Ainda sim, vamos ampliar os horizontes da análise.
Nesta tabela temos o retorno acumulado dos últimos 05 anos. Ao final de 2002, o Ibovespa teve um retorno acumulado de 10,50% já considerando o resultado negativo de -17,01% deste ano (conforme tabela 1). Provavelmente o investidor que tomou uma decisão de alocar no dólar ao final de 2002 devido a sua alta valorização, experimentou prejuízos acumulados na visão das eleições de 2006 e 2010. Considerar o resultado recente como provável continuidade no futuro é um viés muito comum na tomada de decisão dos investidores. O inverso aconteceu com quem resolveu fugir da bolsa brasileira pelo resultado negativo de 2002, já que na visão acumulada de 2006 e 2010 os resultados experimentados foram significativamente positivos. Nessa visão mais ampla, encontramos a um indicativo de que fazer “market timing” em ano de eleição não é tarefa fácil e pode trazer prejuízos ao investidor. Agora, vamos para uma visão do todo.
Acima, temos o retorno acumulado de 27 anos. Um período curto quando comparado aos EUA, que possuem dados desde os idos de 1800 aproximadamente. Porém, este é um período razoável para o contexto brasileiro. Nessa foto mais ampla, enxergamos que o S&P 500 foi o que melhor rendeu no período. Porém, uma alocação em Selic teria sido bem competitiva uma vez que tem menor risco e traz maior probabilidade de aderência ao portfolio ao longo do tempo. Mas não é aí que se encerra uma tomada de decisão de investimentos. Se você voltar na tabela 2 verá que a Selic em janelas de 5 anos vem reduzindo ao longo do tempo. Afinal, não devemos investir olhando no retrovisor.
Mas então, o que fazer com os investimentos em ano de eleição?
Existem duas faces de uma moeda para ano de eleição.
A caça aos retornos.
Utilizar o atributo chamado “Market timing”. Ou seja, apostar em dado investimento tentando prever o que vai acontecer. Por exemplo: quando o candidato X foi eleito o dólar disparou, então, se acredito que ele vai ganhar esse ano, devo comprar dólar novamente. Esses movimentos preditivos possuem alto custo e alta chance de um potencial prejuízo. Outro ponto a se considerar é que o Brasil não é uma ilha. Temos muito mais fatores influenciando o retorno dos investimentos do que somente a eleição. Vide a guerra Rússia x Ucrânia. O mundo atual é interdependente e interconectado. Tentar prever o mercado é uma armadilha sedutora. Afinal, sempre que alguém faz uma previsão e a comunica com eloquência, transmite a sensação de segurança, de porto seguro.
Preservação e sobrevivência.
O outro lado da moeda em ano de eleições é pautado pela incerteza do que vem a frente e qual o impacto nos investimentos. Afinal, em ano de eleição não só o mundo das notícias tende a ficar mais agitado, mas os mercados também. E é exatamente aí que deve estar o foco: na gestão de riscos.
Os investidores costumam olhar somente para a rentabilidade e desconsiderar os riscos aos quais se expõe. É como projetar um resultado sem saber se tem a capacidade e a resistência para trilhar o caminho até o êxito que se almeja.
Um dos fatores mais importantes no desenho de um portfolio de investimentos é a aderência do investidor às premissas diante de ambientes instáveis, como por exemplo ano de eleição ou eventos raros e de alto impacto, como pandemias. O delineamento da sua carteira de investimentos deve levar em consideração que passaremos inevitavelmente por esses momentos e que precisamos estar preparados.
Em ano de eleição (assim como todos os outros), é ainda mais importante revisar sua política de investimentos. As premissas que fizeram você ter a alocação atual, rentabilidade alvo e principalmente qual o nível de exposição a riscos.
Gestão de investimentos não é uma corrida de 100 metros, é uma maratona. Portanto, projetar rentabilidade é premissa fundamental para formar patrimônio. Mas somente uma boa gestão de riscos garantirá que você chegue ao destino desejado.
*Thiago Lauria, CFP®, CGA - Sócio Fundador e Diretor de Investimentos da BWM Family Office. Um Multi Family Office que atua de forma independente e isenta de conflitos de interesses, integrando gestão de investimentos e planejamento patrimonial, ajudando clientes a cuidarem das suas maiores riquezas: vida, família e patrimônio.