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Fundos de Investimentos em Ações no Brasil: Gestão Ativa ou Passiva?

André Michel Rech da API Capital analisa a visão regional em comparação ao mercado norte-americano

 (Patricia Monteiro/Bloomberg via/Getty Images)
(Patricia Monteiro/Bloomberg via/Getty Images)

No universo financeiro dos Estados Unidos, a gestão ativa em fundos de ações costuma enfrentar dificuldades para superar a gestão passiva. A eficiência na precificação dos ativos nos mercados desenvolvidos é um obstáculo significativo. Mas e no Brasil? Será que há oportunidades de explorar ineficiências e gerar alfa por meio da gestão ativa em fundos de investimentos em ações?

Alocação Passiva vs. Alocação Ativa

A alocação passiva é uma estratégia de investimento que busca replicar a performance de um índice de mercado específico, como o Ibovespa. Os investidores que adotam essa abordagem não buscam ativamente selecionar ações com base em análises específicas ou prever movimentos do mercado. Em vez disso, eles investem em fundos de índice (ETFs) ou fundos de gestão passiva que espelham a composição de um índice.

Ao contrário da abordagem passiva, a alocação ativa envolve uma gestão mais envolvida e estratégica dos investimentos. Os gestores ativamente escolhem ações com base em análises fundamentais, técnicas ou uma combinação de ambas. A busca pelo "alfa" - retorno superior ao mercado de referência - é o cerne dessa estratégia.

Resultados Surpreendentes e Lições Aprendidas

Um estudo recente (GAUDENCIO, 2022) investigou se a gestão ativa no Brasil pode, de fato, proporcionar uma rentabilidade superior à gestão passiva. Considerou fatores como o viés de sobrevivência dos fundos, liberdade de alocação para gestores, volume de recursos captados, risco e retorno passados, resgates, estratégias de investimento e vieses comportamentais.

Entre os resultados, destaca-se a influência positiva da taxa de performance na rentabilidade dos fundos. Recompensar os gestores por resultados superiores à gestão passiva parece impulsionar o retorno dos investidores. Por outro lado, a taxa de administração teve o efeito oposto, reduzindo a rentabilidade. Um achado intrigante foi a correlação positiva entre o volume sob gestão e a rentabilidade, contrariando intuições convencionais.

Dos fundos avaliados nessa pesquisa, no período entre 2002 e 2021, apenas 4,39% superaram o BOVA11, ETF que replica o Ibovespa.

Outro estudo (SILVA et al, 2019) explorou o impacto da taxa de turnover na rentabilidade dos gestores. A taxa de turnover, que reflete a frequência de mudanças na carteira com o objetivo de encontrar empresas com potencial de valorização, mostrou uma correlação positiva com a rentabilidade, evidenciando as assimetrias decorrentes de divergências de precificação no mercado acionário brasileiro.

Considerações finais

Analisando pesquisas relacionadas ao tema, fica claro que a seleção de fundos de investimento em ações no Brasil não é uma tarefa simples. Foram realizados diversos estudos e ainda não é possível obter um consenso sobre os resultados, mostrando que a seleção de fundos exige diligência e um entendimento aprofundado para alcançar resultados satisfatórios.

Em resumo, enquanto a gestão ativa no Brasil pode oferecer oportunidades, é essencial avaliar diversos fatores para obter melhores retornos ao investir recursos em fundos de investimento em ações, buscando aqueles que conseguem gerar alfa de maneira consistente. Também é preciso considerar que a decisão entre alocação ativa e passiva dependerá das metas e do perfil de cada investidor.

André Michel Rech é Consultor de Investimentos na API Capital. É formado em Engenharia Mecânica e possui MBA em Finanças, Investimentos e Banking pela PUC-RS, é Especialista em Estatística Aplicada e em Gestão Financeira.