Expectativas de mercado direcionam investimento em ativos alternativos
Diversificação entre classes de ativos, setores e regiões combinada com a utilização recorrente de hedge se mostra cada vez mais importante
Janaína Ribeiro
Publicado em 28 de setembro de 2020 às 16h02.
Última atualização em 28 de setembro de 2020 às 16h32.
A diversificação entre classes de ativos, setores e regiões combinada com a utilização recorrente de hedge se mostra cada vez mais importante no processo de investimento na conjuntura atual. O setor de commodities possui atributos condizentes às demandas conjunturais e nisso contribuem para o aumento da fronteira eficiente de investimentos.
Os últimos 10 anos foram desafiadores para a realização de investimentos. Passamos por quatro grandes eventos – crise financeira global de 2009, desaceleração da China de 2015, intensificação da guerra comercial em 2018 e pandemia do Covid-19 em 2020 – que tiveram impacto relevante na estrutura socioeconômica global e, consequentemente, no ambiente de negócios e na rentabilidade dos investimentos.
A análise dos fundamentos continua sendo o principal direcionador de estratégias de investimentos vencedoras no longo prazo. Entretanto, o conjunto de informações e premissas econômicas/comportamentais utilizadas fazem parte da análise fundamentalista. E tais premissas e perspectivas apresentaram comportamento, em muitas vezes, errático, respondendo assim aos diversos choques e respostas (através de políticas econômicas).
Os diversos eventos, e as subsequentes respostas dos bancos e planejadores centrais, tiveram impactos diferentes entre as classes de ativos e regiões em cada momento. Além disso, foram de difícil previsibilidade. Aprendemos na última década que a diversificação dos investimentos em diferentes classes de ativos, regiões e instrumentos financeiros é essencial para a maximização de retorno ajustado ao risco. Além disso, que a previsibilidade de eventos e, principalmente, das respostas aos mesmos é baixa, aumentando a relevância e a complexidade da estratégia de hedge . É necessário incorporar a volatilidade e imprevisibilidade do conjunto de informações nos processos de investimento.
Queda de juros, baixa visibilidade e aumento de risco e de volatilidade favorecem aumento da diversificação
A diversificação de investimentos é, muitas vezes, intencionada, mas poucas vezes realizada de forma eficiente por ser restrita às classes de ativos tradicionais e a poucas regiões. A queda dos juros fez com que o investidor brasileiro acelerasse o processo de diversificação dos investimentos, com a migração dos fundos de DI para investimento em bolsa de valores. Acredito que o cenário atual demande diversificação mais intensa, em direção a ativos alternativos e diferentes regiões.
Entre os ativos alternativos considerados na literatura financeira, as commodities apresentam perfil favorável ao ambiente de mercado e cenário econômico dos próximos anos. As principais atribuições desta classe de ativos são: baixa correlação com as classes de ativos tradicionais, grande diversificação por end-user (setores consumidores); ampla diversificação regional (regiões consumidoras e produtoras) que favorece a utilização de estratégia de hedge por fatores de risco.
As commodities são uma classe de ativos distintas das demais por não gerar fluxo de caixa per se, e por serem utilizadas como insumo de produção de outros bens. Sua dinâmica de preços é relacionada com os spreads entre as cadeias de produção, produtos substitutos, rentabilidade das empresas produtoras e, preponderantemente, pelo equilíbrio entre oferta e demanda. Desta forma, apresentam baixa correlação com as demais classes de ativos por serem sensíveis a drivers distintos.
Apesar de serem consideradas como classe de ativo, cada commodity apresenta exposição distinta a end-users (demanda), possibilitando exposição a diferentes segmentos da economia. A exposição a diferentes setores da economia é favorável, pois possibilita adequação do portfólio aos setores com melhores perspectivas, considerando, os desenvolvimentos conjunturais, os estímulos fiscais e monetários e novo normal de atividade, após retorno da interrupção gerada pela covid-19.
Exposição das commodities aos setores da economia:
- Infraestrutura: minério de ferro, sucata, carvão metalúrgico e aço.
- Manufaturas, bens duráveis e semiduráveis: metais básicos – aço, alumínio, cobre, níquel e zinco.
- Energia alternativa/ eletrificação de veículos: níquel, cobre e lítio.
- Energia/ transporte: petróleo, derivados, petroquímicos e carvão.
- Consumo: papel, celulose e alimentos
As commodities expostas ao setor de infraestrutura tem apresentado boa performance desde 2019, principalmente, em função do foco nos investimentos neste setor; como política anticíclica desde a intensificação da guerra comercial, mas também durante a interrupção de atividade gerada pela pandemia. A continuidade da retomada pós-interrupção deverá aquecer o setor de manufaturas (bens de capital, duráveis e semiduráveis), impactando favoravelmente os metais básicos.
Além de analisarmos como a expectativa em relação aos setores econômicos impacta a demanda de cada commodity, é igualmente importante analisar as expectativas relativas às ofertas, já que a dinâmica de preços é direcionada pelo equilíbrio entre oferta e demanda. A perspectiva em relação à oferta é favorável ao preço das commodities, já que a maior parte dos subsetores está com pipeline de projetos vazio.
Amplitude, discrepância e baixa previsibilidade dos choques demandam utilização recorrente de estratégias de hedge por fator de risco
A discrepância dos choques entre as classes de ativos, regiões e setores tornou a realização de hedge mais complexa. Os mecanismos tradicionais, através de índices e moedas, muitas vezes, se mostraram ineficientes. Tornou-se necessário a discriminação dos fatores de risco e realização de hedge específico a cada um deles.
A falta de previsibilidade dos choques e de seus impactos entre classes de ativos, setores e regiões, conjuntamente, com a elevada amplitude dos movimentos tornou mandatório carregar posição vendida de forma estrutural, com utilização de estratégia de hedge dos fatores de risco específicos. A utilização recorrente da estratégia de hedge, através de carteira vendida, possibilita a obtenção de alpha através da escolha de carteiras adequadas, proteção contra eventos intensos e pouco previsíveis e redução da volatilidade da carteira.
Acredito que a inserção de investimentos em commodities com a utilização da estratégia de hedge por fatores de risco seja interessante para os investidores, já que proporcionam diversificação de forma mais eficaz, abrangendo uma ampla gama de temas de investimento, regiões e diferentes setores demandantes, tais como: infraestrutura, construção, indústria, bens duráveis/ semiduráveis, energia e consumo.
Paschoal Paione é sócio e gestor dos Fundos da Garín Investimentos, Head de Commodities e gestor do Garín Cíclico LB FIM. Possui mais de 23 anos de experiência cobrindo o setor de commodities e atuando como Portfólio Manager de empresas locais e internacionais, tais como: Western Asset, Votorantim, Itaú Asset, AZ Quest, ABN-AMRO, Credit Lyonnais, Unibanco Asset Management e Fator. Foi sócio fundador, CIO e Portfólio Manager da MTZ Capital, e juntou-se à Garín em Novembro de 2019. Possui Possui graduação em administração e Mestrado em Economia.
Fundada em 2017 com sede em São Paulo, a Garin Investimentos oferece produtos e consultoria financeira para indivíduos, famílias e empresas. A Garín traduz a língua do universo financeiro, descomplicando processos para que os clientes se sintam cada vez mais seguros com as recomendações. Conta com uma equipe de especialistas integrada e capaz de identificar e recomendar os melhores investimentos para cada perfil de cliente. Possuem experiências complementares embasadas por atuações reconhecidas em grandes instituições do mercado financeiro mundial, atuando nas áreas de Gestão de Patrimônio, Gestão de Ativos, Venture Capital e Infraestrutura.
A diversificação entre classes de ativos, setores e regiões combinada com a utilização recorrente de hedge se mostra cada vez mais importante no processo de investimento na conjuntura atual. O setor de commodities possui atributos condizentes às demandas conjunturais e nisso contribuem para o aumento da fronteira eficiente de investimentos.
Os últimos 10 anos foram desafiadores para a realização de investimentos. Passamos por quatro grandes eventos – crise financeira global de 2009, desaceleração da China de 2015, intensificação da guerra comercial em 2018 e pandemia do Covid-19 em 2020 – que tiveram impacto relevante na estrutura socioeconômica global e, consequentemente, no ambiente de negócios e na rentabilidade dos investimentos.
A análise dos fundamentos continua sendo o principal direcionador de estratégias de investimentos vencedoras no longo prazo. Entretanto, o conjunto de informações e premissas econômicas/comportamentais utilizadas fazem parte da análise fundamentalista. E tais premissas e perspectivas apresentaram comportamento, em muitas vezes, errático, respondendo assim aos diversos choques e respostas (através de políticas econômicas).
Os diversos eventos, e as subsequentes respostas dos bancos e planejadores centrais, tiveram impactos diferentes entre as classes de ativos e regiões em cada momento. Além disso, foram de difícil previsibilidade. Aprendemos na última década que a diversificação dos investimentos em diferentes classes de ativos, regiões e instrumentos financeiros é essencial para a maximização de retorno ajustado ao risco. Além disso, que a previsibilidade de eventos e, principalmente, das respostas aos mesmos é baixa, aumentando a relevância e a complexidade da estratégia de hedge . É necessário incorporar a volatilidade e imprevisibilidade do conjunto de informações nos processos de investimento.
Queda de juros, baixa visibilidade e aumento de risco e de volatilidade favorecem aumento da diversificação
A diversificação de investimentos é, muitas vezes, intencionada, mas poucas vezes realizada de forma eficiente por ser restrita às classes de ativos tradicionais e a poucas regiões. A queda dos juros fez com que o investidor brasileiro acelerasse o processo de diversificação dos investimentos, com a migração dos fundos de DI para investimento em bolsa de valores. Acredito que o cenário atual demande diversificação mais intensa, em direção a ativos alternativos e diferentes regiões.
Entre os ativos alternativos considerados na literatura financeira, as commodities apresentam perfil favorável ao ambiente de mercado e cenário econômico dos próximos anos. As principais atribuições desta classe de ativos são: baixa correlação com as classes de ativos tradicionais, grande diversificação por end-user (setores consumidores); ampla diversificação regional (regiões consumidoras e produtoras) que favorece a utilização de estratégia de hedge por fatores de risco.
As commodities são uma classe de ativos distintas das demais por não gerar fluxo de caixa per se, e por serem utilizadas como insumo de produção de outros bens. Sua dinâmica de preços é relacionada com os spreads entre as cadeias de produção, produtos substitutos, rentabilidade das empresas produtoras e, preponderantemente, pelo equilíbrio entre oferta e demanda. Desta forma, apresentam baixa correlação com as demais classes de ativos por serem sensíveis a drivers distintos.
Apesar de serem consideradas como classe de ativo, cada commodity apresenta exposição distinta a end-users (demanda), possibilitando exposição a diferentes segmentos da economia. A exposição a diferentes setores da economia é favorável, pois possibilita adequação do portfólio aos setores com melhores perspectivas, considerando, os desenvolvimentos conjunturais, os estímulos fiscais e monetários e novo normal de atividade, após retorno da interrupção gerada pela covid-19.
Exposição das commodities aos setores da economia:
- Infraestrutura: minério de ferro, sucata, carvão metalúrgico e aço.
- Manufaturas, bens duráveis e semiduráveis: metais básicos – aço, alumínio, cobre, níquel e zinco.
- Energia alternativa/ eletrificação de veículos: níquel, cobre e lítio.
- Energia/ transporte: petróleo, derivados, petroquímicos e carvão.
- Consumo: papel, celulose e alimentos
As commodities expostas ao setor de infraestrutura tem apresentado boa performance desde 2019, principalmente, em função do foco nos investimentos neste setor; como política anticíclica desde a intensificação da guerra comercial, mas também durante a interrupção de atividade gerada pela pandemia. A continuidade da retomada pós-interrupção deverá aquecer o setor de manufaturas (bens de capital, duráveis e semiduráveis), impactando favoravelmente os metais básicos.
Além de analisarmos como a expectativa em relação aos setores econômicos impacta a demanda de cada commodity, é igualmente importante analisar as expectativas relativas às ofertas, já que a dinâmica de preços é direcionada pelo equilíbrio entre oferta e demanda. A perspectiva em relação à oferta é favorável ao preço das commodities, já que a maior parte dos subsetores está com pipeline de projetos vazio.
Amplitude, discrepância e baixa previsibilidade dos choques demandam utilização recorrente de estratégias de hedge por fator de risco
A discrepância dos choques entre as classes de ativos, regiões e setores tornou a realização de hedge mais complexa. Os mecanismos tradicionais, através de índices e moedas, muitas vezes, se mostraram ineficientes. Tornou-se necessário a discriminação dos fatores de risco e realização de hedge específico a cada um deles.
A falta de previsibilidade dos choques e de seus impactos entre classes de ativos, setores e regiões, conjuntamente, com a elevada amplitude dos movimentos tornou mandatório carregar posição vendida de forma estrutural, com utilização de estratégia de hedge dos fatores de risco específicos. A utilização recorrente da estratégia de hedge, através de carteira vendida, possibilita a obtenção de alpha através da escolha de carteiras adequadas, proteção contra eventos intensos e pouco previsíveis e redução da volatilidade da carteira.
Acredito que a inserção de investimentos em commodities com a utilização da estratégia de hedge por fatores de risco seja interessante para os investidores, já que proporcionam diversificação de forma mais eficaz, abrangendo uma ampla gama de temas de investimento, regiões e diferentes setores demandantes, tais como: infraestrutura, construção, indústria, bens duráveis/ semiduráveis, energia e consumo.
Paschoal Paione é sócio e gestor dos Fundos da Garín Investimentos, Head de Commodities e gestor do Garín Cíclico LB FIM. Possui mais de 23 anos de experiência cobrindo o setor de commodities e atuando como Portfólio Manager de empresas locais e internacionais, tais como: Western Asset, Votorantim, Itaú Asset, AZ Quest, ABN-AMRO, Credit Lyonnais, Unibanco Asset Management e Fator. Foi sócio fundador, CIO e Portfólio Manager da MTZ Capital, e juntou-se à Garín em Novembro de 2019. Possui Possui graduação em administração e Mestrado em Economia.
Fundada em 2017 com sede em São Paulo, a Garin Investimentos oferece produtos e consultoria financeira para indivíduos, famílias e empresas. A Garín traduz a língua do universo financeiro, descomplicando processos para que os clientes se sintam cada vez mais seguros com as recomendações. Conta com uma equipe de especialistas integrada e capaz de identificar e recomendar os melhores investimentos para cada perfil de cliente. Possuem experiências complementares embasadas por atuações reconhecidas em grandes instituições do mercado financeiro mundial, atuando nas áreas de Gestão de Patrimônio, Gestão de Ativos, Venture Capital e Infraestrutura.