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Diversificar a carteira pode ser um risco?

'O ponto aqui é discutir que não adianta colocar os ovos em cestas diferentes se todas estiverem dentro do mesmo caminhão'

Ações: é preciso analisar a estratégia de cada gestora, assim como a inteligência de Research, os mecanismos de proteção e a gestão de risco. (Germano Lüders/Exame)
Ações: é preciso analisar a estratégia de cada gestora, assim como a inteligência de Research, os mecanismos de proteção e a gestão de risco. (Germano Lüders/Exame)
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Panorama Econômico

Publicado em 9 de setembro de 2021 às, 12h03.

Última atualização em 10 de setembro de 2021 às, 16h24.

Você já deve ter ouvido o ditado “nunca coloque os ovos na mesma cesta, pois se ela cair, todos quebrarão”. O ponto aqui é discutir que não adianta colocar os ovos em cestas diferentes se todas estiverem dentro do mesmo caminhão, pois se ele sofrer um acidente, todos os ovos vão quebrar de qualquer maneira.

Na vida acadêmica, aprendemos em finanças que a diversificação do patrimônio é primordial para uma maior proteção contra riscos no mercado de capitais, afinal, é muito difícil uma classe de ativos ter uma performance constante e rentável em um longo horizonte de tempo. Também aprendemos com teorias renomadas a montar uma carteira ótima e a utilizar a correlação dos ativos para buscar eficiência na hora de investir.

Atualmente, diversos fundos de investimentos estão cadastrados na Anbima, cada um com a sua classe e estratégia-macro predefinidas, como renda fixa, ações e multimercados, entre outros. Tais fundos, dentro de suas classes, deveriam ser diferentes, com expectativas e estratégias diferenciadas, que além de retornos aleatórios também ajudariam a sustentar a teoria da diversificação mencionada acima.

Ao longo de seus 16 anos de experiência no mercado financeiro, Caio Fernandez, consultor de investimentos e CEO da Ivest, recebeu diversas carteiras de investimentos para serem analisadas, de investidores que se denominavam “diversificados”. Porém, ao esmiuçá-las, observava que os investidores apenas compraram diversos ativos ou diversos gestores, sem, de fato, analisarem onde estavam investindo. O especialista acabou encontrando forte ineficiência em:

  1. i) Ações: carteiras com 80 ativos, onde obviamente o investidor não possui tempo nem conhecimento para estudar cada um deles, sendo a sua estratégia apenas comprar ou seguir a “dica” de algum conhecido;
  2. ii) Fundos Multimercado: carteiras com 15 gestoras diferentes, porém dentro da mesma categoria, caso, por exemplo, do multimercado.

No caso de ações, ocorre uma falta de acompanhamento dos fundamentos das empresas e um custo operacional muito alto, sendo mais interessante, talvez, que esse investidor adquira o próprio índice Ibovespa, afinal, se continuar assim, ele comprará todas as ações que o compõem em breve.

No caso dos Fundos Multimercado, obviamente existe o que chamamos de “gerar Alpha”, ou seja, o quanto uma gestora está dando de retorno acima de um índice de referência. Para isso, nós da Ivest temos uma rígida diligência, avaliando os fundos de forma quantitativa e qualitativa para inserirmos em nossa curadoria de investimentos e, consequentemente, para compor os investimentos de nossos clientes.

Mesmo assim é preciso analisar a estratégia de cada gestora, assim como a inteligência de Research, os mecanismos de proteção e a gestão de risco. Mesmo com tantas particularidades, o comportamento dos fundos pode ser parecido no longo prazo, não fazendo sentido manter os dois fundos, além de retirar todo o benefício da diversificação.

No gráfico abaixo, é possível ver o comportamento de uma carteira com 3 fundos de gestoras diferentes, todos denominados como Multimercado, em um período de 3 anos, nos chamando a atenção para:

1) A rentabilidade final, que acaba sendo muito próxima;

2) Os períodos em que ocorrem forte oscilação são muito parecidos, como o da Covid-19, por exemplo, em mar/2020

(Panorama Econômico/Reprodução)

Será que essa carteira de investimentos está diversificada?

Ao concluirmos o estudo, podemos citar o risco sistêmico ou sistemático, um dos diversos que estudamos no mercado financeiro. Esse risco é medido pela capacidade de um país honrar com suas dívidas, ou seja, com o sistema. Logo, um fundo de investimentos, principalmente com a característica Macro, por mais bem estruturado e diversificado que seja, estará suscetível a eventos difíceis de se controlar, como uma fala presidencial, alterações de imposto, terrorismo ou até mesmo mudanças agressivas em uma política econômica.

Para isso, uma solução seria diversificar entre fundos de investimentos globais, por exemplo.

A lição que tiramos é que não podemos investir em diversos gestores diferentes, porém, com as mesmas características. O investidor pode até usufruir de uma boa rentabilidade de um gestor específico em um prazo curto, mas vemos que, no longo prazo, as variáveis “risco” e “retorno” acabam sendo parecidas, principalmente em eventos atípicos, e tal rentabilidade isolada pode ser até mesmo encarada como um ato de sorte, que nem sempre estará ao lado do investidor.

Sobre o autor

Com mais de 15 anos de experiência no mercado financeiro, Caio passou por diversas casas de investimentos e, hoje, atua de forma isenta e com o foco no investidor e na gestão de patrimônio. Além de consultor de investimentos para key clientes, ele também é responsável por tocar a Ivest, em sua expansão, comitê de investimentos e uma área operacional que anda junto com o time. Caio também é pós-graduado em finanças pelo Insper, em Finance and Accouting pela University of la Verne e graduado em Administrações e investimentos pela FECAP.