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David Swensen e o Modelo de Yale: a filosofia que transformou Yale e inspira Family Offices

A filosofia de Swensen que inspira a gestão patrimonial moderna

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Panorama Econômico

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Publicado em 18 de novembro de 2025 às 14h52.

Por Tiago L. Ranalli* 

 

Em 1985, a Universidade de Yale contratou um jovem economista de apenas 31 anos para gerir seu fundo patrimonial (endowment). David Swensen, doutor pela Yale e com passagem pelo setor privado, recebeu uma tarefa considerada quase impossível: aumentar a eficiência de um portfólio de US$ 1 bilhão em meio a um cenário de inflação alta e mercados instáveis. 

O que parecia improvável tornou-se histórico. Durante mais de três décadas à frente do endowment, Swensen multiplicou os recursos da universidade em mais de 30 vezes, ultrapassando US$ 30 bilhões, com retornos médios superiores aos dos principais benchmarks de mercado. 

Mais do que resultados, ele deixou um legado intelectual: o chamado Modelo de Yale, que mudou para sempre a forma como grandes patrimônios e instituições alocam seus recursos. 

A lógica era clara, mas ousada para a época: 

  • Sair da dependência excessiva de renda fixa e ações listadas; 
  • Rebalancear o portfólio periodicamente; 
  • Construir portfólios verdadeiramente descorrelacionados; 
  • Usar o horizonte de longo prazo como vantagem, aceitando iliquidez em troca de prêmios superiores. 

Swensen também rompeu com a ideia de que os grandes gestores de Wall Street seriam os mais aptos para conduzir carteiras institucionais. Em vez disso, buscou gestores independentes, muitas vezes jovens e fora do radar, mas com talento e especialização em nichos específicos. 

Essa abordagem inovadora fez do endowment de Yale um case global, replicado por universidades, fundos soberanos e family offices em todo o mundo. 

A força do Modelo de Yale não está apenas na diversificação, mas na filosofia por trás dele: 

  • Paciência estratégica — saber esperar os ciclos de retorno; 
  • Rigor intelectual — não seguir manias de mercado; 
  • Convicção — sustentar posições mesmo em cenários adversos; 
  • Seleção de gestores — escolher parceiros com critérios quase acadêmicos; 
  • Visão de perpetuidade — construir riqueza que atravessa gerações. 

Esses elementos o tornaram mais do que um modelo de investimento: uma filosofia de gestão patrimonial. 

E no Brasil? Também funciona? 

A realidade brasileira é distinta da norte-americana, mas os princípios do Modelo de Yale se adaptam perfeitamente ao nosso contexto — desde que ajustados ao mercado local. 

É justamente nesse contexto que os grandes family offices buscam trabalhar, inspirados por Swensen e aplicando os mesmos fundamentos: diversificação inteligente, exposição a diversas classes de ativos, visão de longo prazo, curadoria de gestores e rebalanceamento periódico. 

David Swensen transformou Yale em sinônimo de inovação na gestão de recursos. Seu modelo se espalhou pelo mundo e permanece, até hoje, como referência para quem busca combinar sofisticação, disciplina e visão de longo prazo. 

 

*Tiago Ranalli é sócio da CX3 Consultoria e Gestão de Investimentos Ltda