Adam Smith é considerado o pai da economia liberal moderna (Divulgação)
Panorama Econômico
Publicado em 10 de fevereiro de 2025 às 16h01.
Por João Marcos da Cunha Di Giacomo*
Nas últimas décadas, Daniel Kahneman, psicólogo israelense, depois de um brilhante trabalho sobre tomada de decisão em conjunto com Amos Tversky, nos anos 1960, inaugurou um novo campo da economia: a chamada “economia comportamental”. O fato de um psicólogo ter recebido o Prêmio Nobel de Economia (2002) já é motivo suficiente para que os economistas repensem suas convicções.
Afinal, no que diz respeito à organização financeira pessoal, as prateleiras das livrarias estão repletas de manuais de finanças pessoais, tanto nos setores de economia e finanças quanto nos de autoajuda. A grande maioria desses livros traz conceitos adequados e “receitas de sucesso financeiro” que, se forem levadas a sério e adiante, certamente resultarão em uma equação financeira adequada para a sua vida. Vídeos no YouTube e até no TikTok também apresentam “receitas relâmpago” de sucesso financeiro.
A questão está justamente em pensar nos motivos que levam muitas pessoas a não conseguirem levar adiante tais instruções. Como bem enxergaram Kahneman e Tversky, existem questões subjetivas que vinham sendo desconsideradas pelos economistas e que merecem atenção. A tomada de decisão em relação a gastos e poupança parece estar exatamente no centro dessa discussão.
Richard Thaler, economista norte-americano, une-se à psicologia para nos mostrar, definitivamente, que conceitos da economia clássica precisam ser revistos, pois nossas decisões não parecem ser tão lógicas ou racionais como pensavam os economistas ao lerem Adam Smith.
Também laureado com o Prêmio Nobel de Economia, em 2017, Thaler nos mostra que os seres humanos nem sempre são racionais: decisões que envolvem dinheiro são baseadas em questões subjetivas e culturais, e isso, muitas vezes, pode pesar mais do que a lógica e a racionalidade. Ele propõe uma reflexão interessante ao criar a figura dos chamados “econos” (seres fictícios): uma espécie de ser humano que tomaria decisões unicamente baseadas em aspectos lógicos, em contraposição aos humanos que conhecemos. Mas, como sabemos, econos não existem.
Talvez esses econos de Thaler viessem a atender melhor às expectativas de Smith.
Ao fundar o liberalismo econômico, o britânico Adam Smith, considerado o pai da economia moderna, defendeu que a riqueza das nações vem do chamado self-interest e que cada indivíduo, ao agir livremente em seu próprio benefício, buscando produzir, fornecer e consumir o que é necessário a si e ao mercado, estará automaticamente fazendo um bem à sociedade como um todo. Tais atos,
segundo Smith, são regidos pela chamada “mão invisível”, e o equilíbrio das economias passa a ser consequência da livre iniciativa, como se essa mão invisível regesse o mercado por meio da iniciativa de cada um de nós, tanto na produção quanto no consumo.
Isso parece fazer sentido. Mas até que ponto? Na medida em que percebemos e assumimos que nossas decisões de consumo e investimento estão ligadas, em grande parte, às nossas emoções, constatamos que o comportamento dos mercados tem uma dose de “acaso emocional”, o que, em determinadas situações, os transforma em mercados nos quais decisões pessoais podem ser erráticas.
Não queremos aqui colocar em xeque a teoria de Smith.
Trata-se de tentar olhar com mais clareza de que forma a subjetividade e os sentimentos podem influenciar a tomada de decisão.
Esse fenômeno parece se revelar mais a cada dia. Cada uma das nossas decisões — sobretudo as de consumo e investimento, financeiras ou não —, por mais embasadas logicamente que pareçam ser, tremem diante de atalhos mentais que as pessoas usam para simplificar o processo de tomada de decisão e que podem levá-las a escolhas equivocadas.
Apoiar as famílias nas mais diversas decisões, com base em critérios racionais e estatísticos, faz parte do nosso dia a dia.
Nosso DNA concentra-se exatamente nessa questão. Ajudamos nossos clientes a entender o que eles querem, o que precisam e o que podem fazer em termos financeiros e patrimoniais, trazendo racionalidade para a discussão. Uma equação bastante complexa, mas possível de ser resolvida.
*João Di Giacomo é sócio fundador da CX3 Consultoria e Gestão de Investimentos. Bacharel em Filosofia pela PUC, com especialização em psicologia simbólica junguiana. Possui mais de 40 anos de experiência no mercado financeiro