Copom resiste em sinalizar corte e Fed indica fim de ciclo
Banco Central modera o tom, mas mantém trecho em que pode voltar a subir juros; Fed, por outro lado, muda o comunicado indicando possível fim de elevações
Colunista
Publicado em 8 de maio de 2023 às 12h05.
A Super Quarta, alcunha utilizada quando Banco Central e Federal Reserve divulgam as taxas de juros de Brasil e Estados Unidos, respectivamente, no mesmo dia, não trouxe nenhuma surpresa em relação às decisões de política monetária. Por aqui, o Copom manteve a Selic em 13,75%, pela sexta vez consecutiva, enquanto, lá fora, o Fed elevou os juros americanos em 25 pontos-base, para a faixa entre 5,00% e 5,25%, no maior patamar em 16 anos. Ambas as decisões eram amplamente aguardadas pelo mercado.
Contudo, as semelhanças param por aí. Nos EUA, pudemos perceber uma mudança de sinalização em relação à condução de política monetária, com o provável fim do ciclo de elevação de juros. No Brasil, também esperávamos uma alteração de comunicação, com o BC possivelmente fechando as portas para novas altas de juros. Mas, a expectativa foi frustrada e o que se viu foi apenas um abrandamento na sinalização – com o Copom dizendo que esse passa a ser um cenário menos provável. Assim, as apostas do mercado para queda da Selic na reunião de junho minguaram e passaram a ser precificadas apenas para agosto. Em nossas projeções, de fato o processo de cortes teria início apenas no segundo semestre, encerrando 2023 com uma taxa de juros a 12,50% ao ano.
Cenário doméstico
Na nossa visão, o Copom não precisava cravar um corte de juros em seu comunicado, mas era hora de sinalizar que o próximo movimento não será de alta. As expectativas de inflação ainda estão desancoradas e isso é um problema, mas a atual conjuntura econômica não justifica uma nova elevação na taxa Selic. A nosso ver, isso seria um erro na condução da política monetária. Qualitativamente falando, já se observa, de maneira geral, uma desaceleração nos números de inflação. Se para 2023 as projeções ainda são de um IPCA acima da meta, temos que olhar para 2024 – ano que deve contemplar um número final dentro da meta estabelecida pelo BC.
Em relação ao cenário fiscal, uma das principais preocupações da autoridade monetária, entendemos e concordamos que a proposta apresentada não seja uma “bala de prata” capaz de mudar por completo o cenário das contas públicas. Ao contrário, uma regra fiscal que tem como premissa crescimento real dos gastos em todos os anos gera desconforto e é passível de críticas. Mas, por outro lado, é uma regra viável, capaz de evitar uma trajetória explosiva da dívida, e que tira da frente parte das incertezas que passaram a existir após a revogação do teto dos gastos. Ou seja, se por um lado o arcabouço não permite um corte rápido na Selic, por outro ele permite que se discuta o início do processo.
Um último ponto, importantíssimo para o Banco Central reavaliar sua comunicação, tem a ver com a atividade econômica em desaceleração, especialmente quando analisamos aumento da inadimplência e endividamento das famílias, queda na concessão de crédito e mercado de trabalho já parecendo chegar em um patamar de acomodação. Assim, é preciso considerar por quanto tempo a economia aguenta um choque tão grande
Quando olhamos para os Estados Unidos, o panorama muda. No comunicado do Fed, a principal mudança foi a troca do trecho “o comitê antecipa que algum aperto adicional pode ser apropriado” por “o comitê levará em consideração o efeito cumulativo da política monetária”, além da defasagem com que essa política afeta inflação e atividade. Ou seja, na nossa visão, esse é um recado de que o ciclo de alta de juros chegou ao fim por lá.
A quebradeira de pequenos bancos também contribuiu para isso, já que houve um enxugamento no crédito, uma das características da própria política monetária. Assim, a falência de nomes do setor bancário fez parte do trabalho do banco central americano.
O que faria o Fed cogitar a subir juros novamente? Apenas se dados como o índice de preços ao consumidor (CPI) viessem muito acima do esperado ou se o payroll, relatório de empregos americano, mostrasse um número excessivamente forte. No entanto, os números são menos óbvios do que no Brasil. Nos EUA, a atividade está começando a derrapar, porém o mercado de trabalho está superaquecido e a inflação desacelerou, mas agora deverá ter uma resiliência maior para seguir em trajetória de baixa, já que o componente de serviços tende a ser mais resistente na resposta - o que torna o trabalho do banco central americano mais difícil.
Agora, a grande questão que fica é: quando o Fed e o Banco Central começarão a cortar juros? Quando questionado, Powell afirmou que ainda não está pensando em afrouxar a política monetária. Por aqui, seguimos com a expectativa de que o ciclo de queda de juros comece no segundo semestre, mas é preciso parar de sinalizar a possibilidade de elevação da Selic – ou corremos o risco de errar o timing do início do processo.
* Helena Veronese é economista-chefe da B.Side Investimentos. Graduada em Economia pela PUC-RJ e pós-graduada também em Economia pela UFRJ, Helena começou sua carreira na Ágora Corretora, onde atuou por 3 anos como economista.
Depois, passou pelo Bradesco BBI até que chegou na MAPFRE Investimentos, em 2011, com o cargo de Economista-Chefe. Em 2017, entrou na Azimut Wealth Management, atuando como economista-chefe até o início de 2022, quando se juntou à B.Side.
A Super Quarta, alcunha utilizada quando Banco Central e Federal Reserve divulgam as taxas de juros de Brasil e Estados Unidos, respectivamente, no mesmo dia, não trouxe nenhuma surpresa em relação às decisões de política monetária. Por aqui, o Copom manteve a Selic em 13,75%, pela sexta vez consecutiva, enquanto, lá fora, o Fed elevou os juros americanos em 25 pontos-base, para a faixa entre 5,00% e 5,25%, no maior patamar em 16 anos. Ambas as decisões eram amplamente aguardadas pelo mercado.
Contudo, as semelhanças param por aí. Nos EUA, pudemos perceber uma mudança de sinalização em relação à condução de política monetária, com o provável fim do ciclo de elevação de juros. No Brasil, também esperávamos uma alteração de comunicação, com o BC possivelmente fechando as portas para novas altas de juros. Mas, a expectativa foi frustrada e o que se viu foi apenas um abrandamento na sinalização – com o Copom dizendo que esse passa a ser um cenário menos provável. Assim, as apostas do mercado para queda da Selic na reunião de junho minguaram e passaram a ser precificadas apenas para agosto. Em nossas projeções, de fato o processo de cortes teria início apenas no segundo semestre, encerrando 2023 com uma taxa de juros a 12,50% ao ano.
Cenário doméstico
Na nossa visão, o Copom não precisava cravar um corte de juros em seu comunicado, mas era hora de sinalizar que o próximo movimento não será de alta. As expectativas de inflação ainda estão desancoradas e isso é um problema, mas a atual conjuntura econômica não justifica uma nova elevação na taxa Selic. A nosso ver, isso seria um erro na condução da política monetária. Qualitativamente falando, já se observa, de maneira geral, uma desaceleração nos números de inflação. Se para 2023 as projeções ainda são de um IPCA acima da meta, temos que olhar para 2024 – ano que deve contemplar um número final dentro da meta estabelecida pelo BC.
Em relação ao cenário fiscal, uma das principais preocupações da autoridade monetária, entendemos e concordamos que a proposta apresentada não seja uma “bala de prata” capaz de mudar por completo o cenário das contas públicas. Ao contrário, uma regra fiscal que tem como premissa crescimento real dos gastos em todos os anos gera desconforto e é passível de críticas. Mas, por outro lado, é uma regra viável, capaz de evitar uma trajetória explosiva da dívida, e que tira da frente parte das incertezas que passaram a existir após a revogação do teto dos gastos. Ou seja, se por um lado o arcabouço não permite um corte rápido na Selic, por outro ele permite que se discuta o início do processo.
Um último ponto, importantíssimo para o Banco Central reavaliar sua comunicação, tem a ver com a atividade econômica em desaceleração, especialmente quando analisamos aumento da inadimplência e endividamento das famílias, queda na concessão de crédito e mercado de trabalho já parecendo chegar em um patamar de acomodação. Assim, é preciso considerar por quanto tempo a economia aguenta um choque tão grande
Quando olhamos para os Estados Unidos, o panorama muda. No comunicado do Fed, a principal mudança foi a troca do trecho “o comitê antecipa que algum aperto adicional pode ser apropriado” por “o comitê levará em consideração o efeito cumulativo da política monetária”, além da defasagem com que essa política afeta inflação e atividade. Ou seja, na nossa visão, esse é um recado de que o ciclo de alta de juros chegou ao fim por lá.
A quebradeira de pequenos bancos também contribuiu para isso, já que houve um enxugamento no crédito, uma das características da própria política monetária. Assim, a falência de nomes do setor bancário fez parte do trabalho do banco central americano.
O que faria o Fed cogitar a subir juros novamente? Apenas se dados como o índice de preços ao consumidor (CPI) viessem muito acima do esperado ou se o payroll, relatório de empregos americano, mostrasse um número excessivamente forte. No entanto, os números são menos óbvios do que no Brasil. Nos EUA, a atividade está começando a derrapar, porém o mercado de trabalho está superaquecido e a inflação desacelerou, mas agora deverá ter uma resiliência maior para seguir em trajetória de baixa, já que o componente de serviços tende a ser mais resistente na resposta - o que torna o trabalho do banco central americano mais difícil.
Agora, a grande questão que fica é: quando o Fed e o Banco Central começarão a cortar juros? Quando questionado, Powell afirmou que ainda não está pensando em afrouxar a política monetária. Por aqui, seguimos com a expectativa de que o ciclo de queda de juros comece no segundo semestre, mas é preciso parar de sinalizar a possibilidade de elevação da Selic – ou corremos o risco de errar o timing do início do processo.
* Helena Veronese é economista-chefe da B.Side Investimentos. Graduada em Economia pela PUC-RJ e pós-graduada também em Economia pela UFRJ, Helena começou sua carreira na Ágora Corretora, onde atuou por 3 anos como economista.
Depois, passou pelo Bradesco BBI até que chegou na MAPFRE Investimentos, em 2011, com o cargo de Economista-Chefe. Em 2017, entrou na Azimut Wealth Management, atuando como economista-chefe até o início de 2022, quando se juntou à B.Side.