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Brasil Caramelo ou Lulu-da-Pomerânia

Entre o pedigree e o improviso: o espírito empreendedor do Caramelo

PE
Panorama Econômico

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Publicado em 12 de novembro de 2025 às 13h34.

O vira-lata de antigamente, hoje em dia, é chamado carinhosamente de Caramelo, devido à sua pelagem. Já é considerado um ícone cultural no Brasil e ganhou um brand, um selo de qualidade, por sua simpatia. Nem sempre dócil, mas facilmente encontrado, é conhecido por sua resiliência e poder de adaptação. Por serem cães de rua, tornam-se mais ágeis em se ajustar aos mais diferentes ambientes — muito semelhante ao empreendedor brasileiro, cuja determinação e poder de superação constantes servem como motivação diária para sua sobrevivência.

O saudoso Nelson Rodrigues já mencionava o nosso “complexo de vira-lata”, ao se referir à síndrome de inferioridade que não deveria existir, pois, apesar das adversidades econômicas, fiscais e políticas, possuímos um PIB de inércia proveniente do próprio mercado interno. Sem falar no tremendo potencial que o país tem, apesar dos enormes desafios. Estamos em uma fase crônica de pessimismo e falta de autoestima. São nessas adversidades que empreendedores com maior poder de resiliência se sobressaem e demonstram maior capacidade de recuperação. Possuímos vocação natural para empreender dentro de um mercado doméstico específico, com regras tributárias, regulatórias e suas peculiaridades — e muitos se destacam nesse perfil.

Podemos usar como exemplo o mercado de pets no Brasil. Temos o terceiro maior mercado de pets do mundo, com fechamento previsto, no ano de 2025, acima de 80 bilhões de reais em faturamento. São mais de 170 milhões de animais e uma cadeia de suprimentos com milhares de produtos e centenas de prestações de serviços que, ano após ano, se comparam cada vez mais aos serviços ofertados aos seus tutores, como seguro-saúde, hotelaria, day spa e até sepultamento. Algumas empresas são listadas em bolsa, e outras, privadas, atuam em mercados internacionais. Trata-se de um potencial mercadológico fantástico, no qual o afeto é imensurável. Oportunidades se criam mediante a demanda crescente desse mercado, que não sinaliza ponto de saturação, mesmo em condições adversas. Esse segmento emprega cerca de 3,3 milhões de pessoas, direta ou indiretamente, e conta com mais de 164 mil empresas, em sua maioria de micro e pequeno porte.

Algumas raças conhecidas em um passado remoto, como o Chihuahua ou o Pequinês, hoje em dia, quase não são mais vistas — seja por modismo, seja por novos cruzamentos genéticos que criaram raças mais adaptáveis aos dias atuais, com tamanho menor devido aos espaços reduzidos de moradia. Mas o Caramelo continua lá, firme e forte. Independentemente de raça, sabemos que os cachorros são fiéis e considerados o melhor amigo do homem — e isso não muda: o afeto que temos por esses animais permanece.

Muitas vezes, queremos ser mais “Lulus da Pomerânia”, porém temos mais aptidão em sermos “Caramelos”. Agora, também podemos ser “Fiapo de Manga”.

 

*Bernardo Goldsztajn é CEO da Brasil Global Partners. Com mais de 25 anos de atuação no mercado financeiro, é consultor de valores mobiliários pela CVM e possui formação com MBA pelo IBMEC. É especializado em gestão de patrimônio doméstico e internacional, sucessão, tributação e alocação de recursos financeiros.