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Behavior Finance: a psicanálise ajudando na gestão de patrimônio familiar

As soluções para questões e adversidades precisam ser humanizadas e a psicanálise agrega na gestão de portfólio até mais do que a tecnologia

 (Getty/Getty Images)
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Panorama Econômico

Publicado em 6 de setembro de 2022 às, 14h13.

Existe uma parábola védica – do povo que ocupou o norte da Índia há mais 3000 anos atrás - que compara a tentativa de descrever Deus com a tentativa de um grupo de cegos ao descrever um elefante apenas tocando-o. Nesse caso, aquele que toca a pata descreve-o como algo parecido a uma árvore; quem toca a tromba dirá que se parece a uma cobra; quem toca o corpo o descreverá como algo parecido a uma pedra... Não estariam errados, mas pode-se perceber que nenhum deles seria capaz de entender como era o elefante em sua totalidade.

O mesmo acontece quando as pessoas tentam identificar os diferentes fatores que interagem em nosso cérebro. Há inúmeras opiniões sobre como descrevê-los, no entanto, neurologistas, psicólogos, teólogos e filósofos concordam que o pensamento humano é controlado por duas entidades independentes, porém inter-relacionadas.

Aristóteles chamou o primeiro sistema de “alma” e o segundo de “mente”, enquanto Sigmund Freud nomeou de “id” e “ego”. Seymour Epstein referiu-se a esses conceitos como “inteligência experiencial” e “inteligência racional” e Robin Hogarth de “tático” e “estratégico”. Já Daniel Kahneman eliminou esses enredos semânticos e chamou de "sistema 1" e "sistema 2".

  • Comecei citando os dois lados do nosso cérebro, pois, para a gestão de patrimônio familiar, não podemos desconsiderar a individualidade – e complexidade – de cada ser humano. Isso sem levar em consideração o sistema 1: responsável pelo mecanismo de sobrevivência, consiste em lutar ou fugir.
  • Ele realiza a análise inicial das percepções humanas e pode processar várias ações ao mesmo tempo. Por exemplo, você pode dirigir enquanto come um sanduíche e canta as músicas do rádio sem precisar de uma atenção consciente. Já o sistema 2 tem um processador mais lento e, para fazer seu trabalho, requer mais esforço e precisa coordenar recursos cognitivos. É um sistema intencional, ou seja, pode ser controlado, dirigido e até ensinado a treinar o sistema 1. Esse sistema é consciente de si mesmo, responsável por seguir as regras, por negociar e apostar na base dessas três características atribuídas ao chamado homoeconomicus. A economia clássica prevê o comportamento de pessoas reais a fim de classificá-las em um modelo econômico.

O comportamento humano é o fator mais importante. Baseia-se na ideia de que nós, seres humanos, somos seres racionais, calculistas e egoístas. Sabemos como adaptar nossas decisões às informações que estão disponíveis e, portanto, reagimos corretamente quando recebemos novas informações. Somos como super-heróis cujos superpoderes são nossas capacidades cognitivas ilimitadas, a grande capacidade de impulsionar a força de vontade e a tendência em buscar benefícios próprios.

Esse é um ponto importante quando olhamos os vieses das reações de cada família com seus portfólios. A tecnologia veio para ajudar na padronização de processos e acesso a ativos, assim como na visualização e consolidação dos ativos. Porém, há um ponto que tecnologia não tem como agregar: entender a necessidade e singularidade de cada família. Leon Tólstoi já pontuava que: “Todas as famílias felizes se parecem, cada família infeliz é infeliz à sua maneira”.

As soluções para questões e adversidades precisam ser humanizadas e a psicanálise agrega na gestão de portfólio até mais do que a tecnologia. Behavior finance ajuda-nos a ser não só melhores gestores de portfólios, mas auxilia a indústria a ser, de fato, um multi-family office.

Bernardo Zajd é co-fundador da 1618 investimentos e tem 18 anos de experiencia na indústria de Weath Management. Estudou economia, mas foi o curso de Behavioral Finance da Chicago University que o fez conectar as duas economias.