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Até onde faz sentido correr riscos?

Ticiano Correa da Kapital Consultoria explica a importância da proteção patrimonial em cenários de instabilidade política e econômica

Entenda em que situações pode ser conveniente pedir o resgate de dinheiro alocado em fundos (Nuthawut Somsuk/Getty Images)
Entenda em que situações pode ser conveniente pedir o resgate de dinheiro alocado em fundos (Nuthawut Somsuk/Getty Images)
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Panorama Econômico

Publicado em 6 de março de 2023 às, 15h36.

Por Ticiano Correa*

Em cenários de instabilidade, inúmeras oportunidades podem ser geradas tanto no Brasil quanto no exterior; seja no mercado financeiro, imobiliário ou até de uma nova tecnologia que surgirá para suprir as necessidades de uma crise. São nesses momentos que os investidores devem ser prudentes na hora da alocação de patrimônio. Decisões de alta concentração em uma única classe de ativo e de baixa liquidez devem ser evitadas.

A história está aí para ser contada novamente. Quando este momento teoricamente passar, sempre existirão os gurus que vão dizer o que as pessoas deveriam ter feito, que fizeram isso ou aquilo, para obter o máximo de retorno naquele momento. No entanto, a realidade é que ninguém sabe agora qual a direção o dólar vai andar, se a bolsa brasileira vai subir ou cair ou se a Americanas irá a falência. O que ainda podemos ter algum controle é sobre nossos objetivos e planejamentos pessoais para não seguirmos apenas dicas diárias de pessoas que jogam um jogo ou estão em um momento de vida diferente do nosso. Olhar para um possível retorno, sem entender os reais riscos que aquele investimento nos submete, pode nos levar a decisões irreversíveis e bastante prejudiciais na gestão de patrimônio a longo prazo.

Existem alguns termos no mercado financeiro que são mais importantes do que simplesmente saber se ação X deve ser comprada ou vendida naquele momento, diversificação, liquidez, risco e consistência, são alguns deles que podem nos manter no jogo e fazer a gente ganhar dinheiro durante muito tempo. Um dos grandes nomes do mercado, Warren Buffet, já nos provou um pouco disso durante grande parte de sua vida. Um dos seus maiores feitos foi utilizar o tempo a seu favor, mantendo sempre a credibilidade do seu negócio intacta e permanecendo no jogo. A história já nos mostrou inúmeras vezes que os limites de riscos podem não parecer em nada com o passado e esse é um tipo de habilidade que não costuma ser muito apreciada pela comunidade de previsões financeiras. Ter uma boa margem de segurança é primordial para perpetuidade financeira de qualquer investidor.

Existem algumas estratégias que são importantes na estruturação de qualquer carteira de investimentos. Uma delas é montar a classe dos ativos mais voláteis de uma forma gradual ao longo do tempo. Vários estudos já constataram que essa estratégia é mais prudente e até bem rentável ao longo dos anos do que simplesmente tentar acertar o momento exato e alocar uma quantidade significativa em algum ativo de uma única vez, podendo gerar uma perda significativa de patrimônio que é bastante prejudicial não só financeiramente, mas psicologicamente na vida de qualquer família. Outro fator relevante para montagem desse modelo são aportes periódicos ao longo do tempo, pois nos leva consistentemente a novas análises e tomadas de decisões que podem ajudar no balanceamento da carteira de investimentos, devido a mudanças não previstas. Isso é uma das poucas coisas que podemos ter certeza: o mercado vai mudar ao longo do tempo por inúmeros fatores e essa é uma das variáveis que não temos como controlar.

Ganhar dinheiro é uma coisa, mas mantê-lo é outra

Algumas evidências nos mostraram isso ao longo dos anos: a lista Forbes 400 dos americanos mais ricos tem, em média, cerca de 20% de rotatividade por década devido a fatores que não estão relacionados à morte ou à transferência de dinheiro para outro membro da família. Manter a perpetuidade financeira familiar, na maioria das vezes, não depende de retornos extraordinários no presente. Retornos razoáveis por um longo período, além de trazer qualidade de vida e bem-estar para as pessoas, podem gerar grandes resultados através da composição. Um planejamento deve ser montado dentro da realidade, que seja capaz de suportar todas as incógnitas que estamos submetidos. Ser a prova de falência parece ser bem mais racional do que a busca incansável de resultados superiores ao mercado.

Por fim, conhecer as necessidades, estrutura familiar e objetivos de cada cliente é de suma importância na hora de gerir um patrimônio. Além disso, sabemos que vamos mudar ao longo da vida, seja por um momento do mercado, o nascimento de um filho ou até a venda de um negócio... esse novo cenário precisa ser acompanhado de perto, pois decisões e planejamentos passados podem não funcionar tão bem para essa nova fase da vida.

*Ticiano Correa é sócio fundador da Kapital Consultoria, um Multi- Family Office voltado para gestão de patrimônio de forma independente no Brasil e no Exterior. Correa é Engenheiro com graduação pela UFC, possui certificação CFP®, certificação ANBIMA de especialistas em investimentos e é consultor de valores mobiliários pela CVM.