Exame Logo

Ataques à liberdade econômica global

A ineficiência no comércio exterior alimenta o choque de oferta aumentando a inflação global

Para gestores, cenário deve seguir favorável para Bolsa em junho, enquanto o dólar deve buscar patamares ainda mais baixos | Foto: Amanda Perobelli/Reuters (Amanda Perobelli/Reuters)
DR

Da Redação

Publicado em 12 de setembro de 2022 às 16h19.

Por Roberta Paulinetti Neves*

No começo do século XIX, o economista David Ricardo elaborava uma teoria econômica que provava, por vias lógicas, a eficiência adquirida pelo comécio entre países. Segundo ele, a “troca” de bens entre países, não diferentemente daquela feita entre pessoas e empresas, levaria à especialização e, assim, à eficiência. Em um mundo teórico, os países se limitariam a produzir aquilo que fazem com maior eficácia, dependendo do comércio exterior para o restante. Se cada país, portanto, produzisse algo com os menores custos possíveis (maior eficiência), vendesse para países com menor eficiência naquela produção, e comprasse tudo aquilo que outros países produzissem também com mais eficiência, o mundo tenderia a um equilíbrio onde cada país se especializaria em sua produção e onde o comércio seria completamente livre.

Apesar de estar longe do mundo teórico dos economistas, a humanidade vem de fato caminhando, vagarosamente, em direção ao livre comércio. Nos últimos 30 anos esse movimento se intensificou ainda mais, especialmente dada à revolução tecnológica que marcou a virada do milênio. Porém, o globalização econômica vem sendo desafiada pelos eventos geopolíticos recentes, o que nos deixa mais distantes de um mundo econômicamente mais eficiênte. Especificamente, a ineficiência no comércio exterior está alimentando o choque de oferta e, assim, aumentando a inflação global.

O primeiro evento foi a pandemia, que desestabilizou o relacionamento entre as nações e causou um impedimento real na cadeia produtiva e, assim, nas importações e exportações. Dessa maneira, a globalização econômica foi ferida consideravelmente, acarretando preços abusivos dada à escassez de produtos.

O segundo foi a eleição de Joe Biden para a presidência dos Estados Unidos. Como uma figura fraca, seu governo desencadeou outros eventos geopolíticos que contribuíram ainda mais para essa dissociação da economia global. O primeiro deles foi o expansionismo Russo, que gerou uma guerra que continua desestabilizando o setor de energia, aumentando os preços e, portanto, aumentando a inflação global e diminuindo o crescimento. O iminente conflito entre China e Taiwan igualmente também trará problemas para o comércio. Não só pelas vissicitudes da guerra em si, mas também pelas potenciais sansões econômicas à China e a quebra de cadeia de produção de semicondutores em Taiwan - podendo aumentar os preços do setor de tecnologia.

Por fim, a polarização entre governos de direita e esquerda, especialmente na América Latina, e a falta de continuidade das políticas liberais no continente, dificulta a organização de um sistema proativo de comércio internacional. Medidas políticas altamente inflacionárias, tomadas sobretudo por governos de esquerda da América Latina, pioram ainda mais o cenário de comércio global, encarecendo os produtos dentro e fora dos territórios nacionais.

Desta forma, em linhas gerais, as barreiras impostas ao livre comércio estão levando a uma inflação global alta e a um crescimento mais baixo, devido à sucessivos choques de oferta. Isso não significa que uma estratégia de investimento global deva ser evitada, mas que alguns setores e países estão destinados à uma desaceleração. Por esse motivo, a alocação em setores mais resilientes à corrosão do poder de compra, como os básicos da economia (energia, consumo não discricionário, saúde, etc), e em países que tem certa autonomia para lidar com essa dissociação do panorama global, como os Estados Unidos, é uma melhor opção para navegar esse momento.

*Roberta Paulinetti Neves é sócia da gestora Avin Asset e integra a área de gestão de recursos desde 2020. É graduada em Economia e História pela Universidade William & Mary, nos Estados Unidos, e autorizada a prestar serviços de administradora de carteira de valores mobiliários.

Por Roberta Paulinetti Neves*

No começo do século XIX, o economista David Ricardo elaborava uma teoria econômica que provava, por vias lógicas, a eficiência adquirida pelo comécio entre países. Segundo ele, a “troca” de bens entre países, não diferentemente daquela feita entre pessoas e empresas, levaria à especialização e, assim, à eficiência. Em um mundo teórico, os países se limitariam a produzir aquilo que fazem com maior eficácia, dependendo do comércio exterior para o restante. Se cada país, portanto, produzisse algo com os menores custos possíveis (maior eficiência), vendesse para países com menor eficiência naquela produção, e comprasse tudo aquilo que outros países produzissem também com mais eficiência, o mundo tenderia a um equilíbrio onde cada país se especializaria em sua produção e onde o comércio seria completamente livre.

Apesar de estar longe do mundo teórico dos economistas, a humanidade vem de fato caminhando, vagarosamente, em direção ao livre comércio. Nos últimos 30 anos esse movimento se intensificou ainda mais, especialmente dada à revolução tecnológica que marcou a virada do milênio. Porém, o globalização econômica vem sendo desafiada pelos eventos geopolíticos recentes, o que nos deixa mais distantes de um mundo econômicamente mais eficiênte. Especificamente, a ineficiência no comércio exterior está alimentando o choque de oferta e, assim, aumentando a inflação global.

O primeiro evento foi a pandemia, que desestabilizou o relacionamento entre as nações e causou um impedimento real na cadeia produtiva e, assim, nas importações e exportações. Dessa maneira, a globalização econômica foi ferida consideravelmente, acarretando preços abusivos dada à escassez de produtos.

O segundo foi a eleição de Joe Biden para a presidência dos Estados Unidos. Como uma figura fraca, seu governo desencadeou outros eventos geopolíticos que contribuíram ainda mais para essa dissociação da economia global. O primeiro deles foi o expansionismo Russo, que gerou uma guerra que continua desestabilizando o setor de energia, aumentando os preços e, portanto, aumentando a inflação global e diminuindo o crescimento. O iminente conflito entre China e Taiwan igualmente também trará problemas para o comércio. Não só pelas vissicitudes da guerra em si, mas também pelas potenciais sansões econômicas à China e a quebra de cadeia de produção de semicondutores em Taiwan - podendo aumentar os preços do setor de tecnologia.

Por fim, a polarização entre governos de direita e esquerda, especialmente na América Latina, e a falta de continuidade das políticas liberais no continente, dificulta a organização de um sistema proativo de comércio internacional. Medidas políticas altamente inflacionárias, tomadas sobretudo por governos de esquerda da América Latina, pioram ainda mais o cenário de comércio global, encarecendo os produtos dentro e fora dos territórios nacionais.

Desta forma, em linhas gerais, as barreiras impostas ao livre comércio estão levando a uma inflação global alta e a um crescimento mais baixo, devido à sucessivos choques de oferta. Isso não significa que uma estratégia de investimento global deva ser evitada, mas que alguns setores e países estão destinados à uma desaceleração. Por esse motivo, a alocação em setores mais resilientes à corrosão do poder de compra, como os básicos da economia (energia, consumo não discricionário, saúde, etc), e em países que tem certa autonomia para lidar com essa dissociação do panorama global, como os Estados Unidos, é uma melhor opção para navegar esse momento.

*Roberta Paulinetti Neves é sócia da gestora Avin Asset e integra a área de gestão de recursos desde 2020. É graduada em Economia e História pela Universidade William & Mary, nos Estados Unidos, e autorizada a prestar serviços de administradora de carteira de valores mobiliários.

Mais lidas

exame no whatsapp

Receba as noticias da Exame no seu WhatsApp

Inscreva-se