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A virada silenciosa do investidor: da rentabilidade à construção de uma arquitetura patrimonial

Ao operar com essa estrutura, o investidor passa a viver outro ritmo

Cabe ao investidor procurar entender se a sequência de quedas no Ibovespa representa um esgotamento estrutural do rali ou uma simples pausa para respirar
 (iStock/Getty Images)

Cabe ao investidor procurar entender se a sequência de quedas no Ibovespa representa um esgotamento estrutural do rali ou uma simples pausa para respirar (iStock/Getty Images)

PE
Panorama Econômico

Panorama Econômico

Publicado em 27 de outubro de 2025 às 20h39.

Muito se fala sobre a evolução do mercado financeiro e da sofisticação das estruturas disponíveis aos investidores. No entanto, em paralelo a essa transformação regulatória, tecnológica e institucional, há uma mudança silenciosa — e talvez ainda mais profunda — na maturidade do próprio investidor e na forma como ele passa a enxergar a gestão do seu patrimônio. 

Durante anos, a lógica predominante esteve ancorada em rentabilidade, produtos e horizontes de curto prazo. Sim, retorno é crucial — mas a dependência excessiva dele, isoladamente, frequentemente conduziu a estratégias reativas, ansiedade recorrente e resultados aquém do potencial. 

Em contraste, uma parcela menor e mais refinada de investidores começou a perceber que os melhores resultados emergem quando a tomada de decisão nasce de uma estrutura proprietária de gestão — um Family Office próprio, desenhado com visão estratégica, aderente ao seu contexto patrimonial e independente dos ruídos circunstanciais do mercado. 

Esse movimento representa uma mudança irreversível. Mais do que selecionar investimentos, essas famílias passaram a construir um sistema próprio de tomada de decisão, no qual cada escolha é integrada a um planejamento patrimonial de longo prazo — ancorado em seus objetivos, responsabilidades e desafios atuais e futuros. A partir desse desenho, a gestão de risco, liquidez, sucessão e eficiência tributária deixa de ser reativa e passa a ocorrer como consequência lógica da estratégia, não como resposta ao mercado. Desse modo, quem dita o ritmo “da dança” deixa de ser o produto ou o mercado — e passa a ser o próprio investidor, amparado por um Multi Family Office verdadeiramente alinhado à sua visão e aos seus interesses. 

Ao operar com essa estrutura, o investidor passa a viver outro ritmo. A ansiedade por movimentos imediatos dá lugar à clareza e ao tempo. O mercado deixa de ser um campo de reação constante e se transforma em instrumento a serviço de uma estratégia maior. As decisões deixam de consumir energia mental diariamente — e a atenção é redirecionada para aquilo que realmente importa: legado, estratégia empresarial, relações familiares e a perpetuação do patrimônio com propósito. 

Essa mudança representa o verdadeiro marco de maturidade financeira. Afinal, não se trata do fim da busca por retorno, mas do fim da dependência do mercado para obtê-lo. É a transição da era da escolha de produtos para a era da arquitetura patrimonial via Family Office próprio — em que a autonomia deixa de ser consequência e passa a ser princípio. E é justamente nesse ponto que o investidor deixa de apenas acumular recursos para, de fato, construir continuidade — e usufruir, com tranquilidade e liberdade, daquilo que construiu. 

 

Thiago Lauria, CFP® e CGA, é sócio-fundador da BWM Family Office — empresa independente dedicada à construção de estrutura patrimonial proprietária para famílias, integrando gestão de investimentos e planejamento patrimonial. Ajudamos clientes a cuidarem de suas maiores riquezas: vida, família e patrimônio.