Exame.com
Continua após a publicidade

A hegemonia do dólar americano como a moeda do mundo

Atualmente, Euro e Yuan Chinês tentam romper essa barreira

 (MoMA / Edição/Reprodução)
(MoMA / Edição/Reprodução)

A maioria dos leitores deste artigo geralmente relacionou comércio e turismo internacional, ou investimento no exterior, com o dólar americano. Mas por que o dólar se tornou a moeda corrente do mundo? E por que devo considerá-lo em meu portfólio de investimentos? Esse artigo é um passeio na história do dólar e um reforço da importância de investir parte da riqueza acumulada no mercado global.

O dólar teve sua origem durante a guerra de independência americana, mas foi em 1792 que ele foi estabelecido como a unidade monetária oficial dos Estados Unidos. O dólar seguiu a mesma lógica de outras moedas do mundo, que tinham como padrão a ancoragem em metais (ouro e/ou prata), proporcionando estabilidade à moeda. Existem alguns fatos históricos que fizeram o dólar passar a ser a moeda hegemônica no mundo e esses fatos se passam no século XX. Vamos a eles:

Em 1913, foi fundado o FED (Federal Reserve) por 12 bancos regionais, com o objetivo de supervisionar o sistema bancário americano, implementar a política monetária e promover a estabilidade financeira dos EUA. Logo em seguida, em 1918, se estabeleceu o Fedwire, um sistema que permite a comunicação e a transferência de fundos entre instituições financeiras dos EUA. A organização do sistema financeiro americano, juntamente com a sua ascensão como potência militar no cenário geopolítico e a pujança da economia americana em meados do século XX, colocaram o dólar como a moeda de referência.

E isso ficou bem claro na conferência monetária de Bretton Woods (EUA), em 1944, com a Segunda Grande Guerra encaminhando-se para o seu final. Essa conferência contou com representantes de 44 países e o acordo firmado, além de criar o Banco Mundial (BIRD) e o Fundo Monetário Internacional (FMI), definiu o dólar americano - atrelado ao ouro – como sendo a principal moeda de reserva global e que as demais moedas estariam ancoradas ao dólar.

Esse acordo, que elevou o status do dólar como a moeda de reserva global, trouxe um privilégio frente às outras moedas, cunhado de privilégio exorbitante pelo ministro francês Valéry Giscard em 1965. O privilégio dava-se pelo fato de os EUA emitirem dólares para financiar seus déficits sem a mesma restrição que outros países teriam ao imprimir suas próprias moedas. Esses países deveriam ter o respaldo sólido em reservas de valor (dólar) em seus bancos centrais, sob o risco de desvalorização e perda de confiança de suas moedas. Em suma, o custo dos EUA imprimir uma nota de US$ 100 era de alguns centavos, ao passo que para um outro país ter acesso à mesma nota em sua reserva cambial precisaria entregar bens ou serviços equivalentes a esse valor. Essa paridade dólar-ouro perdurou até 1971, quando houve a suspensão do acordo de Bretton Woods, e o dólar passou a flutuar como as demais moedas do mundo.

Na década de 70, foram criados mais dois importantes sistemas: o CHIPS, uma associação de bancos dos EUA, que possui um sistema de pagamento em dólar americano e que funciona de forma global, independentemente de onde a instituição participante esteja localizada; e o SWIFT, uma associação global com forte influência dos EUA, composta por mais de 200 países e territórios, e que provém uma rede segura para toda a comunicação entre as instituições financeiras incluindo transferências de recursos. Esse portanto é o maior ambiente financeiro de comércio internacional que existe, sendo que não fazer parte dele pode comprometer o crescimento de uma nação. Dentro do SWIFT, os EUA têm a capacidade de impor sanções financeiras e bloquear transações que envolvam países sancionados. Isso dá aos EUA mais uma arma que serve como ameaça aos países que estão em conflito com os seus interesses. Alguns exemplos são as sanções contra Coréia do Norte, Cuba, Irã e recentemente a Rússia que foi retirada do sistema após a invasão à Ucrânia em fevereiro de 2022.

Em resumo, a hegemonia do dólar americano passa por pelo menos três fatores que no fundo estão intimamente ligados: a confiança, a liquidez e a rede transacional. A confiança que se tem na moeda, proporcionada pela estabilidade política dos EUA, seu poderio militar, e a posição de líder no cenário geopolítico.

A liquidez relacionada ao tamanho de seu mercado consumidor e a própria aceitação global gerada pela sua confiança e a rede transacional que é a forma como o seu sistema financeiro se conectou com o mundo, trazendo vantagens para os que estão dentro.

É também importante salientar que outras moedas fortes tentam rivalizar com essa hegemonia. O Euro tenta transformar a Europa em uma unidade, mas tem dificuldades com relação ao interesse de cada nação, hoje conta com 16 dos 27 países da União Europeia. O Yuan chinês ganhou importância com o crescimento da China, mas possui alguns entraves quanto à confiança, visto a atuação absoluta e unipartidária do governo na condução do país e regras não muito claras. Moedas digitais seriam uma alternativa, mas ainda se mostram aquém na questão de confiabilidade e presença no mercado.

E quanto à importância de diversificar o portfólio de investimentos em ativos precificados em dólar? Fica claro que isso gera uma proteção contra flutuações cambiais, principalmente para investidores residentes em mercados emergentes como é o caso do Brasil. Além de que, esses ativos de países como os EUA, estão menos sujeitos aos riscos relacionados à mudança de políticas do governo e à instabilidade econômica que os países emergentes possuem.

Fábio Aurélio Jorge é formado em Engenharia Elétrica pela UFRGS, MBA em Gestão Corporativa de Negócios pela ESPM, consultor de investimentos CVM e planejador financeiro CFP®. É sócio-diretor das empresas MoMA Family Office e MoMA Advisory Consultoria de Valores Mobiliários, com o propósito de oferecer assessoria completa em Gestão Patrimonial e Consultoria de Investimentos.