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A difícil tarefa de escolher um gestor de fundos

"Ao julgar o mérito de um investimento apenas pelo resultado obtido incorre-se no risco de premiar decisões e processos de investimento ruins"

(Hiroshi Watanabe/Getty Images)
DR

Da Redação

Publicado em 5 de julho de 2021 às 18h23.

Por Rodrigo Eboli *, CFA, Portfolio Manager na Brainvest

“É fácil achar gestores com históricos recentes de rentabilidade excelentes. Entender como a rentabilidade foi atingida é crucial, assim como o entendimento e sensibilidade do gestor ao risco.” O trecho acima foi escrito por Warren Buffett em sua carta anual aos acionistas de 2010. Nela, ele acabava de anunciar a contração de Todd Combs como um dos gestores que iria auxiliá-lo na gestão da carteira de investimentos do seu conglomerado.

Assim como Buffett, acreditamos que a escolha de um gestor é um processo mais qualitativo do que quantitativo. Devido ao histórico curto da maioria dos gestores, rotatividade nas equipes, diferentes níveis de patrimônio geridos ao longo da história, entre outros fatores, as conclusões de uma análise quantitativa tornam-se limitadas sem um contexto qualitativo. Ao julgar o mérito de um investimento apenas pelo resultado obtido incorre-se no risco de premiar decisões e processos de investimento ruins. Howard Marks tocou nesse ponto quando disse “Seria uma decisão incorreta aquela que não deu certo, ou aquela que estava errada quando foi tomada?”. Em geral, uma decisão de investimento pode dar errado por três grandes motivos: uma análise ruim, materialização de riscos conhecidos e materialização de riscos não conhecidos. Por este motivo, entender as decisões por trás do resultado nos ajudam a inferir sobre a qualidade do mesmo e a chance deste ser repetido no futuro.

Gestão de recursos é um negócio de capital intelectual. Por isso, estudar a trajetória profissional, assim como o caráter das pessoas que formam parte do negócio, é crucial. Pessoas que tenham trabalhado juntas em algum momento de suas trajetórias aumentam a chance de sucesso do negócio. E esse ponto é extremante importante, porque uma gestora é uma sociedade entre pessoas em alguns aspectos semelhantes ao casamento. Existem vários exemplos de gestoras que não foram para frente que contavam com um quadro de profissionais excepcionais, mas que não funcionaram como time.

É essencial verificar se o gestor segue um processo de investimento bem estruturado. A filosofia de investimento, originação das teses, construção de carteira, tomada decisão e horizonte de investimento são alguns dos temas que devemos explorar com o gestor. A ideia é inferir se a combinação das pessoas e o processo desenhado possui alguma vantagem competitiva para extrair retorno do mercado em que o gestor se propõe a atuar. Entender quais são as regras de remuneração, como está distribuída a participação entre os sócios, quanto os sócios investem nos fundos, se estão envolvidos em outras atividades além da gestora, entre outros fatores, podem relevar muita coisa sobre alinhamento, incentivos e potenciais problemas no futuro.

Não existe gestão de recursos sem gestão de riscos. Por isso, é importante entender como o gestor enxerga os riscos para a sua estratégia e como os gerencia. De forma geral, entender quais são os controles, limites e métricas utilizadas e de que forma são monitoradas, além de avaliar como é o processo decisório caso algum dos limites seja extrapolado são formas de endereçar esse ponto.

A base de investidores é um ativo crucial para qualquer gestora; quanto mais qualificada, paciente e pulverizada, maior a capacidade do gestor de gerar resultados acima da média. Uma base com essas características traz estabilidade para o patrimônio, principalmente, em momentos em que a performance passa por períodos ruins e investidores costumam resgatar os seus investimentos criando um círculo vicioso. Uma base sólida é uma vantagem competitiva importante, pois em momentos de crise em que os preços costumam ficar deprimidos o gestor tem a tranquilidade de atuar enquanto outros não conseguem.

Em um prazo razoável, times excepcionais com processos de investimento bem estruturados, com boa estrutura para suportá-los deveriam refletir em resultados acima da média. Nesse aspecto, devemos buscar pistas nos dados que corroboram ou não essa hipótese. Em que ambiente de mercado o resultado foi obtido? A atribuição de resultado se deve a um único ano excepcional, a um ativo ou mercado? Quanto de risco o gestor assumiu para gerar a rentabilidade? Como foi o desempenho em momentos de grandes crises? Quais foram as piores perdas do fundo e os motivos para tais? Qual é a correlação do fundo com os demais ativos da carteira?

Um estudo realizado pela gestora Giant Steps mostra que a taxa de mortalidade da indústria de fundos multimercado é de 59% em um período pouco maior do que 10 anos. Em uma indústria extremamente competitiva, a obtenção e a manutenção de vantagens competitivas são um desafio permanente. Identificar essas vantagens em um gestor é um processo trabalhoso e desafiador indo muito além da análise da rentabilidade. Tão importante quanto isso é monitorar se esse gestor continuará excelente e competitivo com o passar do tempo. Se manter no topo é muito mais difícil do que chegar nele!

*Rodrigo Eboli teve passagens pela BNY Mellon ARX Asset Management e Turim Multi-Family Office de onde saiu para ser responsável por seleção de fundos e gestão de fundos exclusivos no Banco Brasil Plural. Foi sócio fundador da Triar Gestão de Patrimônio, spin-off da divisão de Private Wealth Management do Banco Brasil Plural. Antes de ingressar na Brainvest onde atua como Portfolio Manager exercia a função de gestor de fundos exclusivos e fundos de fundos na Bradesco Asset Management .

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Por Rodrigo Eboli *, CFA, Portfolio Manager na Brainvest

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Assim como Buffett, acreditamos que a escolha de um gestor é um processo mais qualitativo do que quantitativo. Devido ao histórico curto da maioria dos gestores, rotatividade nas equipes, diferentes níveis de patrimônio geridos ao longo da história, entre outros fatores, as conclusões de uma análise quantitativa tornam-se limitadas sem um contexto qualitativo. Ao julgar o mérito de um investimento apenas pelo resultado obtido incorre-se no risco de premiar decisões e processos de investimento ruins. Howard Marks tocou nesse ponto quando disse “Seria uma decisão incorreta aquela que não deu certo, ou aquela que estava errada quando foi tomada?”. Em geral, uma decisão de investimento pode dar errado por três grandes motivos: uma análise ruim, materialização de riscos conhecidos e materialização de riscos não conhecidos. Por este motivo, entender as decisões por trás do resultado nos ajudam a inferir sobre a qualidade do mesmo e a chance deste ser repetido no futuro.

Gestão de recursos é um negócio de capital intelectual. Por isso, estudar a trajetória profissional, assim como o caráter das pessoas que formam parte do negócio, é crucial. Pessoas que tenham trabalhado juntas em algum momento de suas trajetórias aumentam a chance de sucesso do negócio. E esse ponto é extremante importante, porque uma gestora é uma sociedade entre pessoas em alguns aspectos semelhantes ao casamento. Existem vários exemplos de gestoras que não foram para frente que contavam com um quadro de profissionais excepcionais, mas que não funcionaram como time.

É essencial verificar se o gestor segue um processo de investimento bem estruturado. A filosofia de investimento, originação das teses, construção de carteira, tomada decisão e horizonte de investimento são alguns dos temas que devemos explorar com o gestor. A ideia é inferir se a combinação das pessoas e o processo desenhado possui alguma vantagem competitiva para extrair retorno do mercado em que o gestor se propõe a atuar. Entender quais são as regras de remuneração, como está distribuída a participação entre os sócios, quanto os sócios investem nos fundos, se estão envolvidos em outras atividades além da gestora, entre outros fatores, podem relevar muita coisa sobre alinhamento, incentivos e potenciais problemas no futuro.

Não existe gestão de recursos sem gestão de riscos. Por isso, é importante entender como o gestor enxerga os riscos para a sua estratégia e como os gerencia. De forma geral, entender quais são os controles, limites e métricas utilizadas e de que forma são monitoradas, além de avaliar como é o processo decisório caso algum dos limites seja extrapolado são formas de endereçar esse ponto.

A base de investidores é um ativo crucial para qualquer gestora; quanto mais qualificada, paciente e pulverizada, maior a capacidade do gestor de gerar resultados acima da média. Uma base com essas características traz estabilidade para o patrimônio, principalmente, em momentos em que a performance passa por períodos ruins e investidores costumam resgatar os seus investimentos criando um círculo vicioso. Uma base sólida é uma vantagem competitiva importante, pois em momentos de crise em que os preços costumam ficar deprimidos o gestor tem a tranquilidade de atuar enquanto outros não conseguem.

Em um prazo razoável, times excepcionais com processos de investimento bem estruturados, com boa estrutura para suportá-los deveriam refletir em resultados acima da média. Nesse aspecto, devemos buscar pistas nos dados que corroboram ou não essa hipótese. Em que ambiente de mercado o resultado foi obtido? A atribuição de resultado se deve a um único ano excepcional, a um ativo ou mercado? Quanto de risco o gestor assumiu para gerar a rentabilidade? Como foi o desempenho em momentos de grandes crises? Quais foram as piores perdas do fundo e os motivos para tais? Qual é a correlação do fundo com os demais ativos da carteira?

Um estudo realizado pela gestora Giant Steps mostra que a taxa de mortalidade da indústria de fundos multimercado é de 59% em um período pouco maior do que 10 anos. Em uma indústria extremamente competitiva, a obtenção e a manutenção de vantagens competitivas são um desafio permanente. Identificar essas vantagens em um gestor é um processo trabalhoso e desafiador indo muito além da análise da rentabilidade. Tão importante quanto isso é monitorar se esse gestor continuará excelente e competitivo com o passar do tempo. Se manter no topo é muito mais difícil do que chegar nele!

*Rodrigo Eboli teve passagens pela BNY Mellon ARX Asset Management e Turim Multi-Family Office de onde saiu para ser responsável por seleção de fundos e gestão de fundos exclusivos no Banco Brasil Plural. Foi sócio fundador da Triar Gestão de Patrimônio, spin-off da divisão de Private Wealth Management do Banco Brasil Plural. Antes de ingressar na Brainvest onde atua como Portfolio Manager exercia a função de gestor de fundos exclusivos e fundos de fundos na Bradesco Asset Management .

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