Quem pensa que o vinil morreu merece uma bolacha
Pela primeira vez na história, o valor gasto em discos de vinil no Reino Unido ultrapassou o investido em downloads digitais, segundo o The Guardian.
Publicado em 24 de janeiro de 2017 às, 15h41.
Última atualização em 24 de fevereiro de 2017 às, 07h19.
Quando, em plenos anos 1990, o tcheco Zdenek decidiu comprar máquinas para produzir LPs, os amigos o acharam louco.
Não é para menos: os CDs e a música digital conquistavam rapidamente o espaço dos vinis. Mas Zdenek, dono de uma fábrica das “bolachonas”, foi em sentido contrário: viajou para Austrália, Reino Unido e Grécia para comprar prensas de concorrentes que fechavam as portas.
A razão? Em suas próprias palavras: “Eu achava que os discos de vinil ainda teriam um pequeno futuro. E se alguma empresa fosse a última a produzi-los, queria que fosse a nossa.”
Nos anos seguintes, as vendas realmente despencaram a quase zero. Porém, em 2006, ocorreu o inesperado: o vinil começou a rodar novamente.
Impulsionada por nostálgicos e especialistas em busca da "qualidade superior de som", a demanda passou a crescer ano após ano (às vezes em mais de 50%).
Em 2014, acredite, o vinil já rendia mais dinheiro às gravadoras americanas do que as músicas compradas pela internet.
E na primeira semana de janeiro de 2017, pasme: pela primeira vez na história, o valor gasto em discos de vinil no Reino Unido ultrapassou o investido em downloads digitais, segundo o The Guardian.
Até os jovens entraram na onda, em especial os fãs do indie-rock, atraídos pelo ritual de colocar a agulha nos sulcos, trocar o lado do disco e contemplar as capas.
E como está o “maluco” Zdenek? Basta dizer que a sua empresa, GZ Media, é a maior produtora de discos de vinil do mundo. Justamente por ser uma das únicas a ter os melhores equipamentos (lembra das prensas que ele comprou na baixa?). A companhia produz atualmente 20 milhões de discos por ano. Só para os EUA envia 35 toneladas por semana. E para atender à crescente demanda, uma segunda fábrica foi aberta recentemente no Canada.
A rentabilidade do business também é alta: o público selecionado e exigente aceita pagar mais.
Este é mais um exemplo de como pensar diferente pode ser a melhor estratégia. Um dos grandes problemas do mercado é justamente o efeito manada: quando as coisas vão bem, todos apostam. Quando as dificuldades aparecem, os empresários recuam ao mesmo tempo. O resultado, como se vê no Brasil atualmente, é devastador.
Mas a história mostra que acelerar enquanto os outros freiam pode significar vantagem quando a crise passar (ela sempre passa).
Pense nisso: a recessão atual não esconde uma oportunidade disfarçada para o seu negócio? Até porque, por mais difícil que esteja o seu segmento, não é pior do que o mercado de vinis nos anos 1990.
Curiosidade 1: O lendário estúdio inglês Abbey Road anunciou que utilizará uma nova tecnologia para remasteurizar LPs. A empresa pretende reproduzir fielmente graves e agudos de grandes clássicos, algo que nunca foi feito antes. “Exile on Main Street”, dos Rolling Stones, é um dos primeiros da fila.
Curiosidade 2: Em tempos de iTunes, Spotify, Napster, Pandora e Tidal (de Jay-Z), até onde irá o vinil? Segundo Sean Forbes, gerente de uma loja do segmento de Londres, bem longe: “People will still be buying fucking “Dark Side of the Moon” on vinyl when we’ve all been dead a hundred years.”
Fontes:
1 – Seleções Reader’s Digest, janeiro 2017 – “O Rei do Vinil”
4 – http://www.wsj.com/articles/the-biggest-music-comeback-of-2014-vinyl-records-1418323133