Como fazer o cliente comprar? Diga “não compre”
Você publicaria um anúncio em plena crise dizendo “Não compre meu produto?” Pois foi exatamente isso que a grife de roupas Patagonia fez em 2012. No exato dia da Black Friday, maior data do varejo americano, a marca publicou um anúncio de página inteira no The New York Times exibindo o item carro-chefe da companhia com o título “Não compre esta jaqueta”, e o texto finalizando: “Não compre o que […] Leia mais
Publicado em 16 de julho de 2015 às, 13h12.
Última atualização em 24 de fevereiro de 2017 às, 07h59.
Você publicaria um anúncio em plena crise dizendo “Não compre meu produto?” Pois foi exatamente isso que a grife de roupas Patagonia fez em 2012.
No exato dia da Black Friday, maior data do varejo americano, a marca publicou um anúncio de página inteira no The New York Times exibindo o item carro-chefe da companhia com o título “Não compre esta jaqueta”, e o texto finalizando: “Não compre o que não precisa. Pense duas vezes antes de comprar qualquer coisa”.
O mais surpreendente é que esse discurso contra o consumismo levou a Patagonia a bater seus recordes de…consumo. Isso mesmo: entre 2007 e 2014, anos marcados por crises, as vendas da empresa cresceram 150%.
Como é possível? Quando nem descontos de 70% parecem convencer as pessoas a comprar, como um discurso aparentemente “tiro no pé” pode elevar as vendas? Acredito que por 4 razões principais:
Consumo planejado: com menos dinheiro no bolso, as pessoas diminuem as compras por impulso e pensam antes de adquirir qualquer coisa. Avaliam a real necessidade e, além do preço, a marca, a qualidade, o impacto na autoestima etc.
Durabilidade: nesse momento, o consumidor prefere produtos que duram, pela simples razão de não saber quando poderá comprar novamente. A Patagonia é reconhecida por produzir roupas duráveis, inclusive defende o reúso, a reciclagem e o reaproveitamento.
Propósito: em época de grande concorrência, levam vantagem empresas que construíram uma imagem clara na cabeça do consumidor. A Patagonia foi uma das primeiras a defender a sustentabilidade nos anos 70, quando o assunto ainda não estava na moda. Construir uma identificação emocional torna o cliente menos suscetível em momentos de aperto, diferente de marcas focadas apenas em aspectos racionais.
Diferenciação: ligue a TV, passeie pelos shoppings e veja as revistas. Só há anúncios de varejo, com descontos e preços enormes. Com todo mundo falando a mesma coisa, quem se diferencia se destaca. Exemplo: com apenas o anúncio citado acima, a Patagonia obteve enorme visibilidade, impacto e boca-a-boca nas redes sociais. Por ações ousadas como essa, a grife foi capa da revista Fortune como “a empresa mais cool do planeta”.
Pense nisso: se a sua marca não consegue vender nem com ofertas arrasadoras, não será hora de repensar a estratégia?
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Curiosidade: o fundador da Patagonia Yvon Chouinard, sempre engajado em causas ambientais, conseguiu ver oportunidade disfarçada até nas mudanças climáticas: “Estamos entrando no mercado de surf porque não vai nevar mais, e as ondas vão ficar maiores e maiores”, afirmou ele.
Fontes:
Site da marca http://www.patagonia.com/us/worn-wear
Revista ISTOÉ http://www.istoe.com.br/reportagens/359718_NAO+COMPRE+MEUS+PRODUTOS+
Jornal da Globo e a crise americana https://www.youtube.com/watch?v=cXaQ8vpIeC8
Revista Fortune http://archive.fortune.com/magazines/fortune/fortune_archive/2007/04/02/8403423/index.htm