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Volta ao trabalho: como os líderes devem agir?

As principais perguntas que toda empresa enfrenta hoje são: como manter os funcionários seguros e como mitigar os riscos de uma volta ao trabalho

Líderes: esse é o momento de ler a situação atual entre a pandemia se espalhando e a pressão econômica para retomar as atividades (Klaus Vedfelt/Getty Images)
Líderes: esse é o momento de ler a situação atual entre a pandemia se espalhando e a pressão econômica para retomar as atividades (Klaus Vedfelt/Getty Images)
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Opinião

Publicado em 7 de julho de 2020 às, 11h14.

O mundo dos negócios é historicamente cíclico. As turbulências e as consequentes recuperações econômicas sempre fizeram parte dessa realidade. Algumas das maiores mudanças em market share ocorreram após os períodos de baixa, quando novos líderes em diferentes indústrias – para não dizer novas indústrias – frequentemente surgem.  

Raramente, porém, a recuperação significa colocar em risco a vida das pessoas. O mundo pós-covid-19 vai acelerar algumas tendências existentes e criará outras, e todos os modelos de negócios terão de evoluir, para crescer e prosperar. Mas não há como prever com precisão como será o próximo ano, e é uma estratégia perigosa confiar demais nas previsões, que precisam ser embasadas em modelos de negócios altamente adaptáveis e resilientes.

Para as equipes executivas, a recuperação significa o reinício – em alguns casos, a reinvenção – das operações em um mundo instável, e com condições incertas. As empresas postulantes a líderes no novo mundo serão definidas por sua capacidade de equilibrar resiliência e adaptabilidade. Elas avançam onde podem, recuam o mais rápido possível e se adaptam conforme necessário. Elas criarão experiência para fazer isso repetidamente. E elas estabelecerão os protocolos de mitigação e o suporte certos para proteger seus funcionários, muitos dos quais ansiosos para voltar ao trabalho, mas preocupados com o risco de sofrer com a covid-19.

Lendo os sinais

Mesmo no instante em que a covid-19 chama a atenção do mundo, muito pouco se sabe sobre o novo coronavírus, sua patologia e seu futuro. Ao mesmo tempo, está cada vez mais claro que a pressão econômica para reiniciar as operações está aumentando.

Nesse sentido, as preocupações com o desemprego, a perda de renda e o definhamento da economia competem com o medo de infecção. Nos EUA, por exemplo, mais trabalhadores dizem estar mais preocupados com a economia do que em contrair o vírus. Dadas todas essas incógnitas e complexidades, por onde as empresas devem começar? Como reiniciar os negócios e trazer seus trabalhadores de volta?

Por mais urgentes que sejam, essas perguntas são realmente um ponto de partida ainda insuficiente. Não se trata apenas de acender as luzes e entregar máscaras na porta da fábrica para uma força de trabalho. Todos enfrentam as mesmas perguntas complementares: quais são as necessidades dos clientes que eu tenho capacidade de atender? Onde está a demanda? E como vamos configurar os sistemas de negócios – cadeias de suprimentos, operações de produção e serviço e distribuição?

Com a crise permeando os sistemas de negócios, a criação de equipes ágeis é a maneira mais eficaz e escalável de criar resiliência em ambientes operacionais fluidos. Equipes locais e focadas, guiadas sempre por requisitos de segurança não negociáveis, aprendem e respondem às condições do momento, adaptando-se continuamente, implementando soluções e relatando os sucessos aos líderes, que podem potencializá-las nos negócios. Dessa forma, as empresas podem ajustar constantemente as prioridades e os recursos entre as equipes que estão avançando, e determinar aquelas que subitamente serão forçadas a recuar. Essa é a própria definição do método ágil.

A força de trabalho de que você precisa

As principais perguntas que toda empresa enfrenta hoje são: como manter os funcionários seguros em um ambiente em constante mudança e como mitigar os riscos que eles passariam, se voltassem ao trabalho?

Como isso tudo se configura na prática? Um funcionário da loja de varejo pode ter centenas de contatos com os clientes ao longo do dia e tocar em milhares de itens nos quais os clientes encostaram. Por outro lado, um operário pode lidar com muitos componentes e superfícies, mas tem muito poucas, se houver alguma, interações físicas com os colegas de trabalho. Os escritórios podem reduzir drasticamente o contato social, continuar com as políticas de home office, mas mesmo esses ambientes aparentemente mais controlados têm lacunas de alto risco que precisam ser abordadas – os elevadores, por exemplo, emergiram rapidamente como os principais pontos de contágio de edifícios comerciais.

Embora todas as respostas de mitigação de risco tenham o objetivo de proteger funcionários individuais, muitas delas estão repletas de questões legais e éticas. Como você equilibra o direito à privacidade de um funcionário que é diagnosticado em relação aos direitos de outros funcionários de conhecer a causa e a extensão de sua possível exposição?

Liderando o movimento de volta ao trabalho

Em última análise, porém, retornar ao trabalho é um momento de verdade para os líderes, e será definido pela confiança. Para os funcionários, a confiança começa com a segurança e a sensação de que ela de fato existe.  

Voltar ao trabalho é necessário para a recuperação e também aproxima as empresas da reformulação para um novo normal. Com o futuro em mente, retornar às atividades não significa retomar velhas formas de fazer as coisas. Como as equipes de liderança podem aproveitar a experiência para trazer de volta uma empresa mais forte, mais focada e mais resiliente? Como elas podem vencer no novo mundo? A maioria das organizações não mudará fundamentalmente de direção com o advento da covid-19. A crise “apenas” acelerou drasticamente a velocidade com que viajavam e como navegavam nessa jornada. Esse pode ser um bom norte.

*Alfredo Pinto é office-head da Bain & Company na América do Sul