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Talk the walk: precisamos falar mais sobre sustentabilidade

Os empresários brasileiros precisam ocupar espaço em fóruns internacionais, liderando os debates de relevância global

AMAZÔNIA: é preciso reconhecer o poder do soft power e torná-lo parte da estratégia empresarial / Marizilda Cruppe/Amnesty International/Handout via REUTERS
DR

Da Redação

Publicado em 24 de outubro de 2019 às 18h16.

Última atualização em 24 de outubro de 2019 às 18h57.

Os incêndios na Amazônia nos deram um importante alerta. Os esforços para conter o desmatamento precisam ser contínuos e constantemente revisados e reforçados. Mas eles também sinalizaram o abismo que existe entre o que é feito no Brasil em termos de sustentabilidade e a percepção da comunidade internacional.

Essa disparidade me lembrou da expressão em inglês “walk the talk” – pratique o que você diz. Incrivelmente, neste caso a expressão deveria ser ao contrário: talk the walk, conte o que você pratica. Ficou claro que, como país, sociedade e setor privado, ainda não fomos capazes de realmente mostrar para o resto do mundo a sofisticação e os avanços alcançados em sustentabilidade.

Campanhas em momentos de crise são eficazes até certo ponto. Sempre fica a desconfiança de que as informações e os números foram maquiados, de que tudo não passa de propaganda. O que precisamos fazer é participar dos grandes fóruns de discussões globais de maneira consistente. Tão importante quanto o governo fazer isso é a participação do setor privado – especialmente dos líderes empresariais.

Os CEOs e as empresas têm cada vez mais assumido um papel de liderança em assuntos como educação, mudança climática, desenvolvimento social e sustentabilidade. Em assuntos ambientais, não há dúvida de que as empresas brasileiras têm inovação e experiência de sobra para compartilhar.

Mas não adianta falarmos apenas para a audiência nacional. Os empresários brasileiros precisam falar para o público internacional. Em grandes conferências como COP Climática e o High Level Political Forum da Organização das Nações Unidas (ONU), entre outras, é comum vermos CEOs americanos e europeus. Mas muito raro vermos representantes brasileiros.

Empresários americanos e europeus entendem há tempos a importância de participar de grandes eventos internacionais. É uma forma inteligente de soft power – uma oportunidade para educar e reforçar para a comunidade internacional sobre o que a empresa, o setor e o país estão fazendo sobre um determinado assunto.

Sem dúvida nenhuma, é um investimento importante de tempo e recursos – que não trará resultados a curto prazo, mas certamente o fará a médio e longo prazos. Quando defendemos a abertura do Brasil, é importante lembrarmos que isso também inclui levar a voz do setor privado brasileiro para as grandes discussões globais. Temos credenciais de sobra para contribuirmos e liderarmos essas discussões.

É preciso, no entanto, reconhecer o poder do soft power e torná-lo parte da estratégia empresarial. É preciso ocupar espaço internacionalmente. Caso contrário, seguiremos no contrapé, tentando provar que as credenciais que nos são exigidas nós já desenvolvemos há tempos.

* Gabriella Dorlhiac é diretora executiva da Câmara Internacional de Comércio no Brasil

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Os incêndios na Amazônia nos deram um importante alerta. Os esforços para conter o desmatamento precisam ser contínuos e constantemente revisados e reforçados. Mas eles também sinalizaram o abismo que existe entre o que é feito no Brasil em termos de sustentabilidade e a percepção da comunidade internacional.

Essa disparidade me lembrou da expressão em inglês “walk the talk” – pratique o que você diz. Incrivelmente, neste caso a expressão deveria ser ao contrário: talk the walk, conte o que você pratica. Ficou claro que, como país, sociedade e setor privado, ainda não fomos capazes de realmente mostrar para o resto do mundo a sofisticação e os avanços alcançados em sustentabilidade.

Campanhas em momentos de crise são eficazes até certo ponto. Sempre fica a desconfiança de que as informações e os números foram maquiados, de que tudo não passa de propaganda. O que precisamos fazer é participar dos grandes fóruns de discussões globais de maneira consistente. Tão importante quanto o governo fazer isso é a participação do setor privado – especialmente dos líderes empresariais.

Os CEOs e as empresas têm cada vez mais assumido um papel de liderança em assuntos como educação, mudança climática, desenvolvimento social e sustentabilidade. Em assuntos ambientais, não há dúvida de que as empresas brasileiras têm inovação e experiência de sobra para compartilhar.

Mas não adianta falarmos apenas para a audiência nacional. Os empresários brasileiros precisam falar para o público internacional. Em grandes conferências como COP Climática e o High Level Political Forum da Organização das Nações Unidas (ONU), entre outras, é comum vermos CEOs americanos e europeus. Mas muito raro vermos representantes brasileiros.

Empresários americanos e europeus entendem há tempos a importância de participar de grandes eventos internacionais. É uma forma inteligente de soft power – uma oportunidade para educar e reforçar para a comunidade internacional sobre o que a empresa, o setor e o país estão fazendo sobre um determinado assunto.

Sem dúvida nenhuma, é um investimento importante de tempo e recursos – que não trará resultados a curto prazo, mas certamente o fará a médio e longo prazos. Quando defendemos a abertura do Brasil, é importante lembrarmos que isso também inclui levar a voz do setor privado brasileiro para as grandes discussões globais. Temos credenciais de sobra para contribuirmos e liderarmos essas discussões.

É preciso, no entanto, reconhecer o poder do soft power e torná-lo parte da estratégia empresarial. É preciso ocupar espaço internacionalmente. Caso contrário, seguiremos no contrapé, tentando provar que as credenciais que nos são exigidas nós já desenvolvemos há tempos.

* Gabriella Dorlhiac é diretora executiva da Câmara Internacional de Comércio no Brasil

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