Somos todos pobres em dados: um plano para monetizar seu futuro
Além da discussão sobre direito à privacidade na LGPD, está o direito individual em transacionar dados pessoais e transformá-los em vantagem econômica
Redação Exame
Publicado em 22 de maio de 2023 às 18h56.
Última atualização em 23 de maio de 2023 às 09h01.
Por André Vellozo, CEO e fundador da DrumWave Inc. e Samuel Oliveira fundador - Northstone Investment Banking
Como o dinheiro, a linguagem é moeda. Atribuímos significado às palavras da mesma forma que atribuímos valor a moedas. Como na economia, podemos inflacionar o significado de algumas palavras usando-as excessivamente. Com a mobile revolution, a frequência de giros acelerou e expandiu a velocidade da palavra e da moeda.Perdeu-se o lastro em ambas.
Entre conversas sobre oPL das fake news, regulamentação das big techs , inteligência artificial, dados, crescimento do PIB, juros, inflação, política monetária, fiscal e financeira, o Banco Central do Brasil reuniu, nesta última tarde de Sexta-feira em São Paulo, representantes de Bancos Centrais de todo o mundo. O “High-level Seminar on Central Banking - Past and Present Challenges” teve como tema principal a autonomia dos Banco Centrais. A ausência da palavra “futuro” no título do seminário explica a preocupação com a urgência do momento. Fernando Haddad abriu o evento.
Mas, como não é possível simplesmente negar o pragmatismo e a razão, o desafio está no atributo lógico que opera esta razão: a confiança e as crenças que permitem que as pessoas pensem desta ou daquela maneira sobre o tema. Confiar no “futuro” é justamente o que está em jogo. Podemos ancorar expectativas de inflação e condução da política monetária, mas sem confiança no crescimento “futuro” não há conversa, transação ou moeda que se sustente.
O Brasil no exterior
Ao mesmo tempo em que o Governo Federal trabalha para redefinir a posição do país internacionalmente, o Banco Central do Brasil trouxe o mundo para dentro de casa. Se em São Paulo o tema foi a importância da autonomia dos Bancos Centrais, juros e hiper-inflação, em Hiroshima o Presidente Lula endereçou a cúpula do G7 em um discurso preciso:
De São Paulo, o Banco Central do Brasil alertou sobre o risco dehiper-inflação, demonstrou casos onde a manutenção da taxa de juros levou economias vizinhas ao caos. De Hiroshima, o Presidente Lula alertou para o fato de estarmos rumando para o caos, e que sem crescimento econômico o “futuro” já não existe.
Juros altos
O sacrifício pragmático imposto pelos juros altos é o preço da prosperidade futura e o caminho para o retorno a um crescimento econômico sustentável, confiar no valor e significado desta prosperidade prometida define o quanto de sacrifício um povo pode suportar. Há que se confiar muito. Para começar, uma ideia viável de “futuro” é capaz de ancorar esta confiança.
Confiança é uma emoção. Confiança não é uma commodity, não é um jogo, e também não é uma escolha. Confiança é uma condição humana. Cunhada profundamente pela linguagem na nossa cultura, ela suporta a própria idéia de dinheiro. Confiança é a condição que aproxima e une os valores transacionais e não-transacionais em todas as nossas relações.
Em Maio de 2022 o paradigma de tecnologia começou a mudar, desta vez de software para dados.Trata-se da mais profunda mudança dos meios de produção que a humanidade já experimentou.
Até 2025, muitas das fronteiras entre o real e virtual irão desaparecer
A propriedade de dados vai mudar a forma com que as pessoas engajam com tecnologia, vai incluir todos no planeta e gerar impacto social sem precedentes. O ponto aqui é que todos nós já estamos em centenas ou milhares de data bases, e por isso não existe uma curva de adoção como a dos paradigmas passados. Basta a gente olhar a velocidade impressionante com que Pix e ChatGPT escalaram. A economia de dados já está aqui, está acontecendo neste momento e na frente dos nossos olhos. E atenção, se juro é o preço do dinheiro em dinheiro, entropia vai ser o preço do dado em dados.
Nos últimos anos, a inclusão digital aumentou proporcionalmente e de forma paradoxal a exclusão financeira. Se você caminha sobre este planeta hoje, tornar-se economicamente próspero requer tornar-se digitalmente rico. Somos todos pobres em dados e precisamos nos tornar ricos em dados.
Entre São Paulo e Hiroshima, o risco de descontrole da inflação e a decisão de sacrifícar a curto ou a médio prazo as camadas mais fragilizadas da população, não pode nos impedir de ver o risco de mais uma vez nos tornarmos apenas mercado para a indústria de tecnologia. O Brasil não pode ignorar o fato de que, neste momento, tem todas as ferramentas, e mesmo vocação, para ocupar o centro deste próximo ciclo econômico mundial. E pode sim acelerar. Enquanto big tech e big finance decidem se colidem ou convergem para criar a nova economia de dados, dinheiro de plástico e de papel estão prestes a desaparecer. Para que possamos retomar o crescimento econômico, acelerar a automatização da indústria brasileira, e cuidar das pessoas e do meio ambiente, é necessária uma nova Licença Social para Operar - novas práticas comerciais padrões e procedimentos operacionais que permitem reduzir a assimetria e gerenciar o valor dos dados pessoais, privados e públicos. O conceito de licença social está intimamente relacionado ao conceito de sustentabilidade.
Muito além da discussão sobre o direito à privacidade dos dados pessoais endereçado na LGPD, está o direito individual em transacionar dados pessoais e transformar este direito em uma vantagem econômica. A propriedade de dados além de ser um direito humano, trata também de temas diretamente ligados à soberania nacional. A possibilidade de monetização do dado por indivíduos no Brasil pode ser a ponte entre o sacrifício presente e a prosperidade futura. No dia 23 de Maio agora, algumas das principais empresas do país e entidades governamentais, se unem para dar mais um passo na implementação do “Ecossistema Brasileiro de Monetização de Dados.” Esta é a primeira vez na história que em um país a iniciativa pública e privada se unem para devolver aos cidadãos o valor dos seus dados. O futuro do “futuro” é uma decisão que a gente toma hoje.
Por André Vellozo, CEO e fundador da DrumWave Inc. e Samuel Oliveira fundador - Northstone Investment Banking
Como o dinheiro, a linguagem é moeda. Atribuímos significado às palavras da mesma forma que atribuímos valor a moedas. Como na economia, podemos inflacionar o significado de algumas palavras usando-as excessivamente. Com a mobile revolution, a frequência de giros acelerou e expandiu a velocidade da palavra e da moeda.Perdeu-se o lastro em ambas.
Entre conversas sobre oPL das fake news, regulamentação das big techs , inteligência artificial, dados, crescimento do PIB, juros, inflação, política monetária, fiscal e financeira, o Banco Central do Brasil reuniu, nesta última tarde de Sexta-feira em São Paulo, representantes de Bancos Centrais de todo o mundo. O “High-level Seminar on Central Banking - Past and Present Challenges” teve como tema principal a autonomia dos Banco Centrais. A ausência da palavra “futuro” no título do seminário explica a preocupação com a urgência do momento. Fernando Haddad abriu o evento.
Mas, como não é possível simplesmente negar o pragmatismo e a razão, o desafio está no atributo lógico que opera esta razão: a confiança e as crenças que permitem que as pessoas pensem desta ou daquela maneira sobre o tema. Confiar no “futuro” é justamente o que está em jogo. Podemos ancorar expectativas de inflação e condução da política monetária, mas sem confiança no crescimento “futuro” não há conversa, transação ou moeda que se sustente.
O Brasil no exterior
Ao mesmo tempo em que o Governo Federal trabalha para redefinir a posição do país internacionalmente, o Banco Central do Brasil trouxe o mundo para dentro de casa. Se em São Paulo o tema foi a importância da autonomia dos Bancos Centrais, juros e hiper-inflação, em Hiroshima o Presidente Lula endereçou a cúpula do G7 em um discurso preciso:
De São Paulo, o Banco Central do Brasil alertou sobre o risco dehiper-inflação, demonstrou casos onde a manutenção da taxa de juros levou economias vizinhas ao caos. De Hiroshima, o Presidente Lula alertou para o fato de estarmos rumando para o caos, e que sem crescimento econômico o “futuro” já não existe.
Juros altos
O sacrifício pragmático imposto pelos juros altos é o preço da prosperidade futura e o caminho para o retorno a um crescimento econômico sustentável, confiar no valor e significado desta prosperidade prometida define o quanto de sacrifício um povo pode suportar. Há que se confiar muito. Para começar, uma ideia viável de “futuro” é capaz de ancorar esta confiança.
Confiança é uma emoção. Confiança não é uma commodity, não é um jogo, e também não é uma escolha. Confiança é uma condição humana. Cunhada profundamente pela linguagem na nossa cultura, ela suporta a própria idéia de dinheiro. Confiança é a condição que aproxima e une os valores transacionais e não-transacionais em todas as nossas relações.
Em Maio de 2022 o paradigma de tecnologia começou a mudar, desta vez de software para dados.Trata-se da mais profunda mudança dos meios de produção que a humanidade já experimentou.
Até 2025, muitas das fronteiras entre o real e virtual irão desaparecer
A propriedade de dados vai mudar a forma com que as pessoas engajam com tecnologia, vai incluir todos no planeta e gerar impacto social sem precedentes. O ponto aqui é que todos nós já estamos em centenas ou milhares de data bases, e por isso não existe uma curva de adoção como a dos paradigmas passados. Basta a gente olhar a velocidade impressionante com que Pix e ChatGPT escalaram. A economia de dados já está aqui, está acontecendo neste momento e na frente dos nossos olhos. E atenção, se juro é o preço do dinheiro em dinheiro, entropia vai ser o preço do dado em dados.
Nos últimos anos, a inclusão digital aumentou proporcionalmente e de forma paradoxal a exclusão financeira. Se você caminha sobre este planeta hoje, tornar-se economicamente próspero requer tornar-se digitalmente rico. Somos todos pobres em dados e precisamos nos tornar ricos em dados.
Entre São Paulo e Hiroshima, o risco de descontrole da inflação e a decisão de sacrifícar a curto ou a médio prazo as camadas mais fragilizadas da população, não pode nos impedir de ver o risco de mais uma vez nos tornarmos apenas mercado para a indústria de tecnologia. O Brasil não pode ignorar o fato de que, neste momento, tem todas as ferramentas, e mesmo vocação, para ocupar o centro deste próximo ciclo econômico mundial. E pode sim acelerar. Enquanto big tech e big finance decidem se colidem ou convergem para criar a nova economia de dados, dinheiro de plástico e de papel estão prestes a desaparecer. Para que possamos retomar o crescimento econômico, acelerar a automatização da indústria brasileira, e cuidar das pessoas e do meio ambiente, é necessária uma nova Licença Social para Operar - novas práticas comerciais padrões e procedimentos operacionais que permitem reduzir a assimetria e gerenciar o valor dos dados pessoais, privados e públicos. O conceito de licença social está intimamente relacionado ao conceito de sustentabilidade.
Muito além da discussão sobre o direito à privacidade dos dados pessoais endereçado na LGPD, está o direito individual em transacionar dados pessoais e transformar este direito em uma vantagem econômica. A propriedade de dados além de ser um direito humano, trata também de temas diretamente ligados à soberania nacional. A possibilidade de monetização do dado por indivíduos no Brasil pode ser a ponte entre o sacrifício presente e a prosperidade futura. No dia 23 de Maio agora, algumas das principais empresas do país e entidades governamentais, se unem para dar mais um passo na implementação do “Ecossistema Brasileiro de Monetização de Dados.” Esta é a primeira vez na história que em um país a iniciativa pública e privada se unem para devolver aos cidadãos o valor dos seus dados. O futuro do “futuro” é uma decisão que a gente toma hoje.