(Getty Images/Reprodução)
CEO & Fundador da Saint Paul e EdTech LIT
Publicado em 7 de agosto de 2025 às 17h40.
Em qualquer sociedade moderna, a capacidade de transformar poupança em investimento produtivo é essencial para impulsionar o desenvolvimento econômico e social. No Brasil, essa função estratégica encontra um dos seus pilares no mercado de capitais — um segmento do sistema financeiro voltado ao financiamento da economia real, especialmente em projetos de médio e longo prazo.
Esse mercado cumpre uma função singular: alocar recursos de agentes econômicos superavitários — aqueles com excedentes de capital — para agentes deficitários, isto é, empresas e empreendedores que precisam de recursos para investir. Essa intermediação, que vai além do escopo tradicional do crédito bancário de curto prazo, é fundamental para projetos que exigem grandes volumes de capital e longos períodos de maturação.
Estamos falando de investimentos estruturantes, como rodovias, ferrovias, hidrovias, portos e aeroportos. Também se incluem projetos estratégicos de energia, telecomunicações, infraestrutura do agronegócio, expansão do varejo e implantação de parques industriais. Em comum, todos demandam uma engenharia financeira robusta, capaz de suportar o risco, o volume e o prazo dessas iniciativas.
Neste contexto, o mercado de capitais brasileiro oferece um ecossistema de instrumentos e veículos sofisticados para viabilizar esses projetos: debêntures, fundos de investimento em infraestrutura (FI-Infra), certificados de recebíveis do agronegócio (CRA), emissões de ações, entre outros. São estruturas que traduzem o potencial de retorno econômico em oportunidades acessíveis a investidores dispostos a financiar o futuro do país.
No entanto, a existência desse mercado só é possível com um ambiente regulatório estável, transparente e seguro. E é aí que entra a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), autarquia responsável por fiscalizar, normatizar e supervisionar as atividades do mercado de capitais no Brasil. A CVM não é apenas um órgão técnico — ela é um vetor de credibilidade e confiança, tanto para o investidor nacional quanto para o capital internacional.
Por isso, a crise crônica de subfinanciamento da CVM não é apenas um problema institucional. Trata-se de uma crise com profundos impactos sociais. Quando a CVM é estrangulada orçamentariamente, o que se compromete não é apenas a regulação de mercado: comprometem-se rodovias que não são construídas, empregos que não são gerados, empresas que não conseguem crescer, famílias que deixam de ser beneficiadas por bens e serviços essenciais.
A deficiência de recursos para a CVM não representa uma pequena ineficiência qualquer — representa um bloqueio ao desenvolvimento. Uma sociedade que não investe na integridade de sua principal entidade reguladora do mercado de capitais está, na prática, negligenciando seu próprio futuro.
É impossível imaginar um ciclo sustentado de crescimento econômico e inclusão social sem um mercado de capitais forte, seguro e funcional. E não há mercado forte sem uma regulação forte. Financiamento de longo prazo exige previsibilidade, confiança e capacidade técnica — elementos que nascem, invariavelmente, de um sistema regulatório bem estruturado.
Portanto, é urgente reposicionar a CVM como uma prioridade estratégica do Estado brasileiro. Porque financiar o Brasil — e financiar o povo brasileiro — passa, necessariamente, por investir na capacidade de regular, fiscalizar e viabilizar as engrenagens que movem a economia de longo prazo.