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Que lições podemos tirar de 2023 para os negócios de impacto em 2024?

A necessidade de mudança vem sendo amplamente debatida globalmente

Conferência do clima: ano de 2023 apresentou inúmeros desafios para a agenda sustentável global (Leandro Fonseca/Getty Images)
Conferência do clima: ano de 2023 apresentou inúmeros desafios para a agenda sustentável global (Leandro Fonseca/Getty Images)

Por Cinthia Gherardi (*) 

O ano de 2023 apresentou inúmeros desafios para a agenda sustentável global, mas, ao realizarmos um balanço do período, também podemos observar muitos avanços significativos na pauta socioambiental das empresas, indicando diversos caminhos que poderemos seguir em 2024.  

Nos últimos doze meses, toda a atenção se voltou às emergências climáticas. O período foi o mais quente já registrado em relação à média do período pré-industrial (1850 - 1900), segundo dados divulgados pelo Observatório Copernicus Climate Change Service, da UE (União Europeia), publicados no início de janeiro de 2024.  

Estes eventos não podem ser mais considerados como esporádicos. Neste verão, as temperaturas elevadas vêm persistindo em grande parte do Brasil, com variações entre 0,5° e 1°C acima da média, principalmente, no interior do Norte e do Nordeste, norte do Mato Grosso e de Minas Gerais e oeste de Mato Grosso do Sul. As previsões alertam que permaneçam assim até o final da estação.  

A necessidade de mudança vem sendo amplamente debatida globalmente. A COP 28, realizada em novembro, em Dubai, aprofundou discussões, trouxe importantes respostas aos problemas globais e apresentou novos desafios. O resultado foi a assinatura de um novo acordo assumido pelas 200 nações participantes, pelo início da redução do uso dos combustíveis fósseis em suas matrizes energéticas. Esta, de fato, foi uma grande conquista, mas a pergunta que fica é: como tornar este acordo uma realidade? 

O grande desafio é fazer com que este e outros compromissos passem a pautar as discussões no âmbito empresarial para além do discurso. Mais do que nunca, eles têm de transcender estes espaços de diálogo e servir de direcionador do caminho que deve ser tomado pelas empresas.  

A partir de um olhar mais estratégico e integrado nos negócios, as empresas conseguem implementar um plano de práticas sustentáveis nos seus produtos, serviços e operações visando mitigar, ao máximo, os impactos negativos gerados e potencializar a geração de impactos socioambientais positivos.   

Trata-se de uma mudança de paradigma, em que a sustentabilidade deixa de ser vista como uma mera ação de responsabilidade socioambiental apartada dos negócios e passa a exercer um papel estratégico de geração de valor para o negócio e para todos os seus stakeholders. Este é o conceito das Empresas B, modelo de negócios de impacto que equilibram lucro e propósito, a fim de impactar positivamente as pessoas e o meio ambiente.  

Para potencializar tais impactos, o Movimento B intensificou sua atuação, apresentando inovações em atendimento às demandas do mercado doméstico, que incluíram questões de justiça social e climática. Neste sentido, podemos destacar a liderança nos debates sobre clima no último ano. Na COP 28, anunciamos uma importante parceria estratégica com a Climate Ventures para apoiar a Rede B (que superou o marco de 300 Empresas B certificadas no Brasil em 2023), no aceleramento da jornada pela descarbonização.  

Diante deste cenário, que perspectivas podemos ter em relação aos negócios em 2024?   

Vimos, e sentimos, que a realidade demanda ações concretas e urgentes em direção a uma nova economia. Para 2024, a expectativa é de uma integração ainda mais profunda da sustentabilidade na estratégia dos negócios. O que se espera das empresas no Brasil é que se conscientizem sobre seus papéis no atual contexto e se mobilizem, de modo imediato e efetivo, neste caminho por um futuro mais sustentável.  

Para isso, é necessário que mensurem, avaliem e gerem, com rigor e periodicidade, os impactos sociais e ambientais gerados por seus negócios, a fim de identificar os riscos e as oportunidades, bem como alinhar as estratégias, as operações e as metas de acordo com os ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) propostos na Agenda 2030 da ONU. 

A fim de propiciar uma transição climática justa, as empresas precisam acelerar a adoção de boas práticas nas suas jornadas de descarbonização, pensando não somente a reduzir suas emissões diretas mas também se propondo a desenvolver novas soluções de proteção à biodiversidade, regeneração, circularidade e de justiça às pessoas vulnerabilizadas pelas mudanças climáticas.    

Ainda, para consolidar, ampliar e intensificar todo este impacto positivo gerado às pessoas e ao meio ambiente, é fundamental esta rede compartilhar seus valores, suas iniciativas e seus resultados com os mais diversos públicos, servindo de agentes de apoio na orientação e no impulsionamento da transição dos ecossistemas econômicos, e liderando esta jornada de transformações positivas no mercado.   

Sem dúvida, o último ano foi um marco no caminho da sustentabilidade empresarial com desafios expressivos e progressos notáveis. Nesta atual realidade ainda desafiadora às empresas em todo o mundo, há um enorme potencial dos negócios do Brasil em inovar, adotar boas práticas sustentáveis e gerar impacto positivo às pessoas e ao planeta, unindo o lucro ao propósito de geração de benefícios compartilhados, numa jornada rumo a um futuro mais inclusivo, equitativo e regenerativo para todos.  

 

(*) Diretora-executiva interina do Sistema B Brasil