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Escolha do candidato: esqueça a via, pense nos vértices

A questão relevante é: o que será crucial para o Brasil no período imediatamente pós-Bolsonaro, caso a sua derrota se confirme?

Essa diferença está em diagnosticar o nó górdio do Brasil de hoje: está na economia ou na política? Certamente os dois fatores andam de mãos dadas e podem se alimentar para o bem ou para o mal (© Abdias Pinheiro/SECOM/TSE/Agência Brasil)
Essa diferença está em diagnosticar o nó górdio do Brasil de hoje: está na economia ou na política? Certamente os dois fatores andam de mãos dadas e podem se alimentar para o bem ou para o mal (© Abdias Pinheiro/SECOM/TSE/Agência Brasil)
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Opinião

Publicado em 7 de janeiro de 2022 às, 14h57.

Última atualização em 7 de janeiro de 2022 às, 16h49.

Por: Paulo Dalla Nora Macedo*

É amplamente aceito na Teoria da Administração que os gestores devem considerar algumas restrições ao tomar decisões. Uma das restrições mais usuais é o triângulo de gerenciamento de projetos, utilizado desde 1950. A lógica é baseada em três pilares:

  1. A qualidade do trabalho é limitada pelo orçamento, prazos e escopo (recursos) do projeto.
  2. O gerente de projeto pode negociar entre restrições.
  3. Mudanças em uma restrição exigem mudanças em outras para compensar, ou a qualidade será prejudicada.

Ou, de forma resumida: "Entre bom, rápido e barato: escolha dois". Proponho aplicar uma metodologia semelhante às características dos candidatos às eleições presidenciais brasileiras deste ano para trazer mais racionalidade ao processo de escolha nesses tempos de emoções políticas à flor da pele:

  1. A capacidade política é limitada pela densidade da agenda econômica e seu compromisso com o modelo liberal.
  2. Os eleitores podem negociar entre restrições na escolha dos candidatos.
  3. Alterar uma restrição significa alterar o candidato.

Não estou defendendo restrições entre os próprios conceitos. Obviamente, um candidato poderia ter uma agenda econômica bastante detalhada, ser liberal na economia e ter alta capacidade política. Entretanto, na nossa realidade, para escolher entre a maioria dos atuais candidatos, você deve negociar entre essas restrições dadas as características e crenças dos nomes à disposição.

Portanto, a questão relevante é: o que será crucial para o Brasil no período imediatamente pós-Bolsonaro, caso a sua derrota se confirme? A resposta depende de para quem você pergunta: o mundo empresarial e econômico enfatizará a agenda econômica, enquanto os mais ligados na política enfatizarão a capacidade política do candidato.

Essa diferença está em diagnosticar o nó górdio do Brasil de hoje: está na economia ou na política? Certamente os dois fatores andam de mãos dadas e podem se alimentar para o bem ou para o mal; no entanto, diferentes grupos veem que a ordem de priorização importa no Brasil de hoje.

Suponha que os EUA sejam uma boa referência para o nosso eventual pós-Bolsonaro. Nesse caso, tendo a ficar do lado da fauna política: as últimas pesquisas dos EUA sugerem mais de 1/3 dos americanos não têm fé no sistema democrático dos EUA. Eles não têm certeza de que seus votos serão contados no futuro, não acreditam que Biden foi eleito com justiça e acreditam que a violência contra o governo se justifica. Um ano após a funesta invasão do Congresso americano por uma horda protofascista, os seus ecos permanecem na forma dessas crenças e são a materialização do legado de Trump, reconhecidamente modelo e inspiração de Bolsonaro. Sendo o nosso Presidente ainda mais radical no figurino antissistema.

Os riscos á democracia não cessaram nos EUA e não vão cessar aqui, não antes de um longuíssimo trabalho que precisa partir de uma unidade em torno de valores democráticos. Antes que isso ocorra é, sem dúvida, um desafio titânico prosperar economicamente e, ao mesmo tempo, alienar uma parte tão grande da sociedade. E talvez seja uma tarefa impraticável, sem primeiro tratar com alguma efetividade, a nossa ferida política. O que não significa que não seja necessário um acordo mínimo de governabilidade, em que os limites superiores e inferiores de uma política econômica deveriam ser negociados levando-se em conta o acordo pelo valor comum da democracia.

Um candidato ideal, no mundo perfeito, faria as duas coisas simultaneamente: reconciliação política e implantaria um projeto econômico previamente detalhado e alinhado com os desafios globais modernos. Infelizmente não existe um estado ótimo na política, muito menos na terra arrasada do campo brasileiro.

Com a realidade imposta, o Brasil terá que lidar com o dilema de ter que definir qual vértice do triângulo deve priorizar: uma vez feito isso, a escolha do candidato sairá automaticamente, dadas as características dos proponentes.

*Paulo Dalla Nora Macedo é empreendedor social e vice-presidente do Instituto Política Viva