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Os parques naturais são oportunidade de gerar riqueza e renda

A adoção de parcerias com a iniciativa privada pode transformar esse patrimônio em fonte de riqueza para a sociedade

CATARATAS DO IGUAÇU: cada R$ 1 de investimento em parques pode proporcionar um retorno de R$ 7 para a economia brasileira / Divulgação
CATARATAS DO IGUAÇU: cada R$ 1 de investimento em parques pode proporcionar um retorno de R$ 7 para a economia brasileira / Divulgação
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Opinião

Publicado em 24 de abril de 2019 às, 12h48.

Última atualização em 24 de abril de 2019 às, 15h10.

O Brasil tem diante de si enormes desafios em sua trajetória para retomar o crescimento econômico, reduzir o desemprego e elevar os níveis de renda da população. O sucesso nessa empreitada requer ações em diversas frentes, entre as quais, o aprimoramento da gestão pública ocupa um papel de destaque. Uma contribuição relevante pode vir da gestão dos parques naturais, com a adoção de parcerias com a iniciativa privada que transformem esse patrimônio em fonte de riqueza para a sociedade, promovendo a conservação da natureza e a geração de empregos.

Existem atualmente no Brasil centenas de parques naturais sob responsabilidade tanto da União, como Estados e Municípios. É um patrimônio inestimável, mas que enfrenta sérios problemas ocasionados pela carência de recursos e por regras burocráticas que tornam a gestão desses espaços excessivamente lenta e engessada diante das necessidades impostas pela dinâmica da atividade.

Apenas para dar um exemplo: muitas vezes equipamentos básicos (como automóveis para fiscalização, edificações, infraestrutura de visitação, entre outros) ficam inutilizados por falta de manutenção, devido à pouca autonomia dos gestores para assinar simples ordens de serviços, muitas vezes, de pequenos valores. São desafios comuns à administração pública que, no caso dos parques, fazem com que frequentemente eles se tornem áreas protegidas não operacionais, que existem somente no papel.

Experiências bem-sucedidas ao redor do mundo demonstram que a participação da iniciativa privada na administração de áreas protegidas, aliada à promoção do turismo, possuem enorme potencial para reverter esse quadro, com reflexos positivos na economia, sem prejuízo à natureza. De acordo com estudos recentes, cada R$ 1 de investimento nesse setor pode proporcionar um retorno de R$ 7 para a economia brasileira.

E há espaço para expansão. O Brasil é considerado o país com maior quantidade e diversidade de belezas naturais, segundo ranking do Fórum Econômico Mundial, mas se encontra apenas na 27º posição em competitividade para viagens e turismo. Nos EUA, onde a visitação a parques nacionais é oito vezes superior à brasileira, o gasto dos visitantes gera mais de 9 bilhões de dólares anualmente para as economias locais. Em alguns países da África, as contribuições oriundas do ecoturismo chegam a representar 80% do orçamento dos órgãos de gestão de unidades de conservação.

A gestão eficiente dos parques produz outros efeitos positivos. A dinamização econômica promovida pelo turismo cria oportunidades para as comunidades no entorno dessas áreas, com impactos no nível de emprego da região, no estímulo aos pequenos negócios e na valorização dos produtos e manifestações culturais locais.

Além disso, o fluxo contínuo de visitantes torna-se um fator de conservação dos parques naturais, diferentemente do que argumentam alguns críticos das parcerias com a iniciativa privada. Quanto mais intensa a visitação, menor é a possibilidade de ocorrência de invasões, desmatamento, caça e comércio ilegal de animais, entre outras agressões ambientais.

Na medida em que se espraiam pelo país, as parcerias e seus benefícios podem ajudar no enraizamento da cultura de respeito ao meio ambiente e do senso de que nosso patrimônio natural é um enorme ativo dos brasileiros, não um fardo a ser custeado pela sociedade. Nesse sentido, o desenvolvimento de parcerias para a gestão de parques é estratégia essencial para transformar nossas belezas naturais em um fator de expansão social e econômica e de integração do país ao mercado global do turismo, aliada à preservação da natureza. O Brasil não pode ignorar tal potencialidade.

* Fernando Pieroni é presidente do Instituto Semeia e membro do comitê executivo do movimento Infra2038