08/07/2025 - Joinville , SC , Brasil. Vistas do centro da cidade de Joinville . (Ricardo Wolffenbüttel/ Especial Exame)
Ex-ministro do Turismo (Governo Temer), cientista político pela Universidade Americana de Paris, Sênior Fellow do Milken Institute (EUA)
Publicado em 21 de novembro de 2025 às 12h08.
Última atualização em 21 de novembro de 2025 às 12h09.
O Brasil vive um contraste estrutural entre o noticiário político, marcado por desesperadores conflitos, crises e ausência de estratégia de país, e a realidade econômica concreta, que avança silenciosamente nos estados mais dinâmicos do país. Esses estados formam o grupo agora conhecido como Onças Brasileiras, conceito criado pela Apex Partners para identificar os territórios onde o desenvolvimento ocorre com velocidade e consistência superiores à média nacional. Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Espírito Santo e Minas Gerais. Em análises setoriais pelas exportações, entra o Rio Grande do Sul. São Paulo agora tem robustas companhias para empurrar o Brasil sem rodinhas para frente. Esses estados não tiveram medo nem vergonha de conjugar o verbo enriquecer. Pense, leitor, como é raro esse verbo ser conjugado no debate nacional.
Esses estados lembram, em escala brasileira, o papel dos Tigres Asiáticos na segunda metade do século XX. Enquanto o Brasil cresceu cerca de dois vírgula cinco% ao ano na média recente, as Onças registraram avanços entre quatro e cinco% anuais, sustentando o dinamismo econômico do país. A razão é simples: nesses territórios há ambiente de negócios mais previsível, mais segurança, menor burocracia, maior integração logística, produtividade consistente, políticas públicas coerentes e uma cultura de trabalho orientada para resultados. Nesses estados sonhar é permitido.
Santa Catarina é um caso emblemático. O estado combina crescimento econômico regular, o menor desemprego do país e um compromisso político mantido há mais de duas décadas de não aumentar impostos. Sua economia diversificada abriga empresas globais como WEG e Tupy, parques tecnológicos, polos de inovação, sanidade agropecuária de padrão internacional e uma forte integração entre indústria, serviços, tecnologia, setor imobiliário e turismo. Santa Catarina demonstra que prosperidade de longo prazo resulta de disciplina institucional, visão estratégica e confiança entre governo e setor produtivo. Não por acaso, é o estado que mais recebe imigrantes no Brasil, incluídos os venezuelanos.
O Paraná avançou por meio de concessões e privatizações que modernizaram rodovias, aeroportos e a infraestrutura energética. O estado conta com cooperativas agroindustriais entre as maiores do mundo e com uma integração exemplar entre agro, indústria e logística. A combinação de gestão pública moderna, competitividade e estabilidade transformou o Paraná em um dos ambientes econômicos mais sólidos do país, um estado com caixa.
Mato Grosso e Mato Grosso do Sul representam a fronteira agrícola mais competitiva do planeta. Mato Grosso responde por mais de vinte e sete% da soja brasileira. Ambos os estados registram ganhos contínuos de produtividade, rastreabilidade ambiental, integração entre lavoura, pecuária e floresta e uma logística em rápida transformação. São motores fundamentais do superávit comercial brasileiro, aproximando o Centro-Oeste da performance das maiores regiões agrícolas do mundo.
Goiás, Minas Gerais e Espírito Santo também integram esse conjunto por razões complementares. Goiás consolidou parques industriais e avançou na logística e na agroindústria. Minas combina mineração, energia, indústria e tecnologia em um ambiente de expansão contínua. Espírito Santo se destaca pela eficiência portuária e pela capacidade de atrair investimentos e integrar cadeias produtivas regionais com competitividade internacional.
O ponto central é que os Estados Onça realizam hoje o que poderíamos chamar de sonho brasileiro. Representam um país que já existe na prática, mais moderno, mais competitivo, exportador, inovador, disciplinado e conectado ao mundo. Enquanto Brasília vive ciclos de instabilidade e disputas permanentes pelo poder, os estados constroem resultados concretos, consolidam estruturas produtivas e oferecem trajetórias de desenvolvimento real para milhões de brasileiros.
Não há projeto nacional possível sem reconhecer esse protagonismo subnacional. Os Estados Onça já provaram que o Brasil tem capacidade de crescer mais, exportar mais, inovar mais e produzir mais do que mostram os indicadores nacionais. Eles são o exemplo vivo de que o país pode ser muito maior do que sua limitada política submete a nação. Por isso mesmo, aos estados bem-sucedidos deveriam ser concedidas maiores liberdades, por exemplo na área de educação.
Se fossem apoiados e não apenas tolerados, esses estados e outros como Pernambuco e Ceará, e ao final todos os estados brasileiros, em especial os do Norte, nossa região mais rica, levariam o Brasil inteiro rapidamente a um novo patamar de desenvolvimento. Do modelo chinês já se sabe que existe um planejamento central distante da nossa cultura, mas o que os brasileiros desconhecem sobre o grande mistério do sucesso da China está no estímulo à competitividade de suas várias regiões e províncias.
Enquanto isso, no Brasil, nos Estados Onça grandes fragmentos do sonho brasileiro já enriquecem suas economias e seus habitantes.