O tsunami digital trazido pela quarentena
Nas empresas, o digital – até outro dia encarado como opção – agora é condição básica para a existência
Publicado em 24 de julho de 2020 às, 18h21.
Esta quarentena está nos impondo uma digitalização jamais vista. Do dia para a noite nos vimos forçados a trabalhar, a comprar, a falar com familiares, enfim, a viver de uma forma digital. Nada do que estamos vendo é desconhecido. Já vínhamos surfando a onda da evolução digital. Se considerarmos que há 20 anos a internet ainda engatinhava e os celulares só faziam e recebiam ligações, dá para ver o quanto caminhamos em pouco mais de duas décadas. Mas a grande diferença agora é a velocidade sem precedentes. Estamos evoluindo diversos anos em poucos meses.
Agora pense: se essa primeira onda de digitalização gerou negócios que hoje valem mais de US$ 1 trilhão, vide Amazon e Google, e com a mesma intensidade destruiu outros e impactou setores como o de livrarias, os meios de comunicação, as gravadoras e o cinema, o que está por vir?
O amadurecimento da geração que nasceu nessa era de consumo, a mobilidade, a facilidade de coletar e processar dados, o avanço da inteligência artificial, a automatização de processos e a robotização são indícios super claros da grande transformação que estamos vivendo.
Nas empresas, o digital – até outro dia encarado como opção – agora é condição básica para a existência. O mundo online deixou de ser assunto restrito ao CDO, ao CIO ou ao CMO e passou a ser gerido por toda cúpula. E essa preocupação é compreensível quando olhamos os números: o ecommerce tem muito a crescer no Brasil. Enquanto em mercados maduros como a China, as vendas pela internet representam mais de 20% do total e nos Estados Unidos são mais de 10%; no Brasil, o percentual é de 5%. Isso antes da pandemia. É certo que ainda vamos evoluir muito. Temos como quadruplicar o share sem ainda chegar aos patamares de mercados evoluídos.
Terão mais chance de abocanhar esse crescimento as empresas que entenderem a omnicanalidade, que o canal físico e digital são uma coisa só e podem dar suporte um ao outro. Quando um site gera venda para o mundo físico, com a modalidade “retire em loja”, ele faz girar mais rapidamente a mercadoria e melhora a capacidade de geração de caixa. Dando um exemplo mais radical, se uma varejista conseguir gerar no digital 50% das vendas das lojas físicas, ela terá um resultado equivalente a duplicar seu parque de lojas com praticamente nenhum investimento, ou melhor, somente investindo no site. Então, quem já entendeu esse jogo há mais tempo e tem feito a lição de casa do omnichannel, terá melhores condições de lidar com a nova realidade.
E que fique claro, não estamos encarando mais uma onda, e sim um tsunami. E suas consequências serão muito mais impactantes. É certo que deixará muitos desempregados e decretará a recuperação judicial de muitas empresas, mudando o mundo de forma radical. Ao mesmo tempo, será aberta uma enorme janela de oportunidade que permitirá o surgimento de uma nova Amazon, um outro Google ou uma Microsoft, só que num período mais curto e com uma intensidade jamais vista.
Ter consciência desse tsunami é fundamental. Quando passa uma onda e as pessoas ficam paradas, é possível que tomem um caldo e engulam muita água. Em alguns casos elas podem se afogar e morrer, mas a chance de sobreviver é maior. Num tsunami não tem jeito. Ou elas se preparam para enfrentá-lo, saindo e mudando de lugar, ou a morte é certa.
O tsunami está sobre nossas cabeças. O digital é o novo normal. As cartas estão sendo embaralhadas. O mundo está dando um restart e vamos ter mais do que nunca a lei de Darwin em ação. Não são necessariamente os maiores e os mais poderosos que vão sobreviver, mas sim os mais rápidos e os mais afeitos a mudanças. Em qual grupo sua empresa vai estar?
*German Quiroga é membro do conselho da C&A, Centauro, Gol e Locaweb.