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O paradoxo da COP30: por que os 71% que a desconhecem vão julgar a sua marca

Pesquisa também afirma que 87% dos brasileiros atribuem mudanças climáticas à ação humana, e 69% sentem maior consciência ambiental

Empresas ganham com a regulamentação do Artigo 6º do Acordo de Paris, que pode ser regulamentado nesta COP 26 (//Thinkstock)

Empresas ganham com a regulamentação do Artigo 6º do Acordo de Paris, que pode ser regulamentado nesta COP 26 (//Thinkstock)

Publicado em 24 de junho de 2025 às 08h00.

Última atualização em 24 de junho de 2025 às 18h16.

Por Cila Schulman*

A quatro meses do evento, a pergunta ressoa com frequência nos Comitês de Crise e Conselhos das empresas: “a nossa marca deve ou não estar presente na COP30, em novembro, em Belém?”

A COP30, sendo a primeira da história na região amazônica e após quatro anos a primeira em um país democrático, não é apenas um evento; é um teste decisivo para a reputação e o compromisso ambiental, com desafios e oportunidades únicas para as empresas brasileiras. Por isso, apesar das dúvidas, uma coisa é certa: não há espaço para neutralidade.

O alerta dos dados: desconhecimento e consciência

Pesquisa exclusiva do Instituto Ideia para o Brazil Forum UK, com 1.502 respondentes, apresentada neste mês de junho, em Oxford, revela que 71% dos brasileiros desconhecem a COP30. Contudo, 87% atribuem mudanças climáticas à ação humana, e 69% sentem maior consciência ambiental. Essa lacuna por si só cria uma oportunidade estratégica. O público também já identifica os principais "vilões" (desmatamento 68%, poluição 57%, combustíveis fósseis 39%, agronegócio 34%, indústria 31%). O sinal da opinião pública é claro: mesmo sem que o encontro tenha rompido a bolha dos círculos diplomáticos e técnicos, omissões ou greenwashing serão rapidamente percebidos.

Ir ou não ir, eis a decisão

A participação das empresas no evento de Belém traz complexidades importantes. A começar pela infraestrutura local, pelos potenciais protestos sociais inerentes à democracia e pelos dilemas políticos desses tempos de polarização. Navegar tal cenário exige planejamento robusto e agilidade.

Não ir é válido se a sua empresa não tem transparência e bases ESG sólidas. Neste caso, ao invés de ir, foque na "lição de casa" interna. Já para as preparadas, a participação é imperativa. Ela oferece protagonismo, pois o Brasil será o epicentro do debate climático e a ausência implicará perda de influência.

A baixa confiança nos governos apontada pela pesquisa (53% não veem compromisso a longo prazo, 51% não veem ações concretas a curto prazo) também aponta no sentido de que marcas preencham essa lacuna. A participação do setor privado nunca foi tão exigida como nesta COP.

Os custos da inércia: quando decidir tarde pode ser perigoso

Diz a máxima que crise é oportunidade. No Brasil democrático, a COP30 é oportunidade única: a liberdade de expressão fomenta diálogo construtivo, e a infraestrutura limitada de Belém, para quem se antecipa, vira vantagem competitiva em acesso.

A inércia tem alto custo. Adiar a decisão resulta em perda de espaço, cobrança pública por omissão, exclusão de parcerias estratégicas e um caro processo de recuperação reputacional.

Participar despreparado é igualmente arriscado. A chave é uma estratégia sólida.

Comece com um diagnóstico aprofundado, compreendendo expectativas de stakeholders, ONGs, percepção pública e dinâmicas sociais locais, incluindo infraestrutura.

A seguir, lembre que engajamento legítimo é vital: construa iniciativas de longo prazo com impacto real, fugindo do superficial (72% da população já está disposta a mudar hábitos por causas ambientais).

Narrativa transparente é fundamental: alinhe mensagens e prepare porta-vozes com autenticidade e dados. Um plano robusto de gestão de reputação é essencial, com monitoramento intensivo de mídias e ativistas; cenários de crise, protocolos de resposta rápida e treinamento de porta-vozes, considerando a baixa confiança governamental.

Planejamento detalhado da infraestrutura local é mandatório e uma vantagem para quem age cedo. Invista em projetos com legado e métricas, mensuráveis e publicamente reportáveis. Por fim, unir forças com parceiros alinhados e já conhecidos amplifica o impacto.

É fundamental olhar a COP30 não apenas pelo que ela é na essência: uma negociação prioritariamente entre governos com vistas a mitigar os impactos da crise climática. Mas olhar para o evento também como uma vitrine de soluções, abrindo portas para inovação, parcerias e debates como o da transição energética.

Por fim, a presença só tem sentido se gerar legado autêntico com projetos mensuráveis e impacto real.

Agir antecipadamente é vantagem estratégica: garante recursos, visibilidade, protege a reputação, reduz custos e riscos. A COP30 é um divisor de águas. Omissão ou decisão tardia podem ser fatais. Que avisa amiga é!

*Cila Schulman é gestora de crise e reputação, CEO do Ideia Instituto de Pesquisa e do JAQ Hidrogênio.

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