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O letramento digital que salva vidas

Para além da genética, a computação quântica vem estabelecendo seu lugar na produção de fármacos

Computação Quântica (ciencia-online.net)

Computação Quântica (ciencia-online.net)

EXAME Saint Paul
EXAME Saint Paul

EXAME Saint Paul

Publicado em 15 de agosto de 2025 às 18h19.

Última atualização em 15 de agosto de 2025 às 19h18.

Por Renata Vilenky*

Você sabia que em 17 de abril de 2019, a Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou recomendações para os países trabalharem a saúde digital, fortalecendo a necessidade do letramento digital de seus profissionais de saúde, focando o aumento da assertividade dos diagnósticos e a oferta de assistência e prevenção a doenças de forma ampla e irrestrita?

E que em 2024 a Organização das Nações Unidas (ONU) lançou o Pacto Global Digital inserindo o letramento digital dentro da ODS4 – Educação de qualidade, especificamente no item 4.2.2, que prioriza o desenvolvimento de habilidades digitais, alavancando jovens e adultos na educação e na vida profissional?

Mas não são apenas as Agências Internacionais que estão preocupadas com o tema, agora em 2025, no SXSW, um dos maiores eventos de inovação e tecnologia que ocorre anualmente em Austin no Texas, alguns dos temas mais falados na saúde foi o uso das células-tronco para tratar a diabetes e o uso de computação quântica na área de fármacos. Não estamos falando apenas de estudos, mas dos primeiros resultados muito promissores.

Para entender a questão da diabetes, segundo artigo publicado em 2024 pela Organização Pan-Americana de Saúde, apenas em 2021 faleceram no mundo mais de 6 milhões de pessoas de diabetes, e já passamos dos 800 milhões de pessoas vivendo com a doença.

A diabetes é considerada uma das doenças que mais mata no mundo, portanto encontrar mecanismos de cura ou tratamento da doença torna-se urgente, e é neste cenário que a genética nos traz excelentes possibilidades de salvamento de vidas:

Segundo artigo do Conselho Federal de Farmácia, um estudo em fase inicial realizado na China reverteu com sucesso a diabetes tipo1 em uma mulher de 25 anos. A paciente recebeu células programadas em laboratório que imitam o funcionamento natural do pâncreas em pessoas saudáveis, e após 03 meses da cirurgia, a menina começou a produzir insulina normalmente;

Segundo artigo publicado no site Medscape, experimentos realizados com enxertos de células-tronco em pacientes com diabetes tipo 1, permitiram que os pacientes produzissem insulina após 01 ano do transplante

Apesar destes tratamentos ainda estarem em fase experimental, seus resultados são promissores e os avanços da tecnologia permitem que ao atingir uma marca segura para execução em larga escala, reduza a mortandade atual com diabetes, já considerada uma endemia pela OMS.

Para além da genética, a computação quântica vem estabelecendo seu lugar na produção de fármacos, haja vista a sua capacidade de simular a produção de moléculas que exige um cálculo com volume gigantesco de variáveis que demonstram as interações entre átomos e elétrons.

Um dos principais benefícios do uso da computação quântica é a personalização de tratamentos simulando variações genéticas e permitindo a identificação de como diferentes medicamentos interagem com diferentes perfis biológicos.

Estes fármacos e tratamentos já estão sendo pesquisados pela indústria em parcerias com empresas de tecnologia como:

A Empresa de Biotecnologia Moderna se uniu a IBM para pesquisar a produção de vacinas de RNA mensageiro ou (MRNA) que não precisam de muito tempo para produção como uma vacina tradicional e ainda conseguem ser adaptadas facilmente para novas variantes do vírus que combatem. Vimos bons resultados desta técnica durante a Covid-19 com a vacina da Pfizer;

A Empresa de Biotecnologia Biogen se uniu a Accenture Labs para usar computação quântica na descoberta de tratamentos para doenças neurológicas, como Alzheimer, Parkinson e Ela (Esclerose Lateral Amiotrófica) ;

A Startup de Biotecnologia Insilico Medicine em parceria com a Universidade de Toronto e a IBM anunciaram a descoberta de um possível tratamento para câncer de pâncreas com a possibilidade de se estender ao câncer de pulmão e cólon, utilizando computação quântica para identificar mecanismos de combate a proteína KRAS, responsável por ativar e proliferar as células tumorais no corpo humano.

As tecnologias estão avançando exponencialmente e trazendo oportunidades gigantescas para a área da saúde, tanto para tratamentos complexos quanto para atenção primária. Portanto a questão do aprendizado digital é imperativo na saúde, inclusive para reduzir os custos com saúde pública.

Em um estudo realizado sobre interrupção da atenção primária, em 33 países. na América Latina e Caribe, entre 2026 e 2030, os custos podem ficar entre US$ 6,9 e 35,4 bilhões correlacionados a mortes evitáveis, gravidez indesejada e doenças crônicas, podendo alcançar até US$ 75 bilhões se incluídos novos óbitos perinatais.

Em outro estudo realizado no Brasil, simulando cortes na atenção primária as famílias entre 2017 e 2030, poderia haver um incremento de mortes evitáveis entre 50 mil a 85 mil pessoas, sendo que os municípios mais pobres seriam os mais impactados.

Assim nos cabe, como cidadãos, participarmos ativamente da elaboração de políticas públicas para o letramento digital, e exigirmos das nossas escolas e universidades que trabalhem o tema da infância a formação profissional, oferecendo cursos e ampliando o conhecimento de todos nas diversas fases da vida. Apenas com educação robusta combinada com a aplicação ética das novas tecnologias é possível mudar a saúde em nosso país.